Três das maiores empresas que atuam com venda direta no Brasil afirmam que a procura de pessoas afetadas pela crise tem aumentado nos últimos meses
O número de brasileiros que trabalham com vendas diretas aumentou em 51 mil em um ano, seis vezes mais do que a quantidade de vagas criadas no comércio nacional no período. Os revendedores de marcas já somam 4,4 milhões no Brasil. Os dados são do IBGE e da Associação Brasileira de Empresas de Vendas Diretas (Abevd).
“Quem perde o emprego pode custear as necessidades básicas com a revenda de produtos”, diz Roberta Kuruzu, diretora-executiva da Abevd. A taxa de desemprego aumentou de 7,9% a 10,9% no Brasil entre os primeiros trimestres de 2015 e 2016.
Três das maiores empresas que atuam com venda direta no Brasil, Avon, Natura e Herbalife, afirmam que a procura de pessoas afetadas pela crise tem aumentado nos últimos meses. “Sentimos inclusive uma procura maior de profissionais com background”, diz Daniel Silveira, diretor de vendas da Natura.
Esse movimento acontece em um momento atípico para o setor: as vendas diretas, que costumam não sofrer com crises, tiveram retração de 2,7% no volume de negócios em um ano. Ele sofre com a queda no mercado de higiene pessoal e beleza, que corresponde por boa parte dos revendedores do país e registrou o primeiro recuo em 23 anos em 2015.
Avon e Natura têm, juntas, 2,9 milhões dos revendedores do Brasil. Com prejuízos no primeiro trimestre, ambas insistem na venda direta para crescer. “Os clientes têm evitado frequentar centros de compra. No contato, o consultor pode despertar neles o desejo de comprar alguma coisa”, diz a diretora da Abevd.
Consultora da Avon há 24 anos, a executiva de vendas Eliene dos Santos, 40, afirma que o interesse em se tornar revendedor da marca aumentou em Salvador. “Este ano, tivemos a maior quantidade de pessoas nos procurando por alguma dificuldade. As pessoas estão buscando isso como uma válvula de escape para conseguir uma renda”.
Para a revendedora da Avon, Amanda Paixão, 24 anos, a venda direta tornou-se um meio de pagar o transporte para a faculdade depois de perder o emprego. “Estou conseguindo vender bastante. Recebo menos (do que ganhava na empresa onde trabalhava), mas ajuda”, diz Amanda.
Na casa da revendedora da Natura Daniele Teles, 30, o dinheiro da revenda já é indispensável. Depois de deixar o emprego para cuidar da filha, o marido perdeu o emprego em cortes de gastos da empresa. Agora, o esposo faz trabalhos temporários e ela vende produtos de beleza. Daniele conta que tem sofrido com queda na demanda e atrasos no pagamento. “Cheguei a passar dois meses sem fazer pedidos (de produtos), mas no Dia das Mães vendi bem”.
Há 16 anos na revenda de produtos da Natura, a executiva de vendas Seandra Oliveira, 40, afirma que a melhor estratégia para driblar a crise é criar promoções personalizadas. “Se a pessoa questiona o valor, eu crio a solução. Faço promoções minhas de acordo com o que querem meus clientes”, conta Seandra.
Segundo a consultora Eliene dos Santos, a promoção pode ajudar o revendedor a ganhar a confiança de clientes, o que é fundamental no período, já que, com os novos revendedores no mercado, a competição aumenta. “Tem que saber fidelizar a pessoa com simpatia e flexibilidade na forma de pagamento”.
Outra opção para escapar dos efeitos da crise é buscar marcas de outros setores que não o de beleza. A Herbalife, por exemplo, tem vivido um bom momento. A empresa de suplementos nutricionais teve crescimento de 11% no primeiro trimestre. “Desde o início da crise, tivemos um aumento de 35% no afluxo de novos consultores”, diz o diretor de vendas da marca, Jordan Rizetto. A empresa tem 400 mil consultores no país.
Fonte: A Tarde – atarde.uol.com.br