Pedestre ao celular tem 80% mais chances de ser atropelado

9 de junho de 2016

Vício por celular virou um perigo no trânsitoA distração com o aparelho celular pode resultar em atropelamentos. Digitar, ler, falar e usar o fone de ouvidos aumentam as chances de acidentes em até 80%. A conclusão é do Departamento Estadual de Trânsito do Paraná (Detran-PR). O Estado já soma 1.387 acidentes do tipo no primeiro quadrimestre do ano.

As ocorrências são registradas principalmente em Curitiba, Maringá, Londrina, Ponta Grossa, São José dos Pinhais e Cascavel. “No ano passado realizamos uma grande ação para alertar os motoristas dos perigos de digitar e dirigir, mas o problema também atinge os pedestres. Desatentos, eles não escutam buzinas, não percebem bicicletas, atravessam as ruas sem olhar. O risco desta desatenção pode ser fatal”, conta o diretor-geral do Detran, Marcos Traad.

A dependência do smartphone é assumida pela estudante Jessica Netto, de 24 anos. Ela não desgruda do aparelho, nem mesmo para andar pelas ruas. “Caminho todos os dias para a faculdade e usar o celular durante o meu trajeto é como um vício. Já tropecei e esbarrei diversas vezes com as pessoas, mas mesmo assim não parei de utilizar o celular. Eu só presto um pouco mais de atenção quando chego perto da rua, para poder atravessar. É perigoso, sei que não é um hábito seguro, vou tentar parar”, diz.

Já a aposentada Igle Maria Bogucheski, 56, evita usar o aparelho enquanto caminha. “Uso pouquíssimo o celular durante os meus trajetos, pois se eu digitar nessas letras miúdas. ao mesmo tempo em que estou andando, o risco de cair ou bater será muito maior. Então prefiro parar, digitar e depois continuar andando. Também não gosto de falar ao celular quando estou na rua, por medidas de segurança”, comenta.

Tendência
O uso do celular virou um problema tão grande em alguns países que obrigou governos a adotarem medidas. Em Augsburg, na Alemanha, a prefeitura adotou um semáforo específico, fixado no chão, para que o pedestre com os olhos fixados no celular perceba os sinais da rua.

Em Nova Jersey, EUA, as medidas foram mais rigorosas. Quem for pego com as mãos ocupadas por aparelhos eletrônicos enquanto anda pelas ruas é multado em 50 dólares ou fica até 15 dias preso. Metade do valor da multa seria destinada à educação de segurança sobre os perigos de se andar escrevendo ao celular.

No Japão foram criadas calçadas específicas para pedestres que não abandona o aparelho. Uma forma de evitar empurrões, tropeços e quedas.

Motoristas
Motoristas desatentos com a direção porque usam o celular ao volante também são um problema cada vez maior. Um estudo do Departamento de Trânsito e Segurança nas Estradas dos Estados Unidos (NHTSA) aponta que o uso de dispositivos móveis ao volante aumenta em até 400% o risco de acidente.

No Paraná, são 110 mil infrações por uso do celular todos os anos. Só neste ano são 30.771 multas aplicadas. “O tema vem sendo abordado constantemente em campanhas educativas, mas, ainda assim, as pessoas resistem em mudar o hábito”, conta Traad.

“O problema é que o motorista imagina que não tem problema falar no celular enquanto dirige. Ele julga ter capacidade de sobra para realizar as duas coisas, não percebe que a atenção fica dispersa e aí também não percebe o pedestre que vai atravessar a rua, o motoqueiro que vai trocar de faixa, o ciclista que surgiu ao lado”, destaca o diretor.

Estudo da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) mostra que um condutor leva de 4 a 5 segundos para fazer o contato com o aparelho já desbloqueado. Se o carro estiver a 100 km/h, são 120 metros dirigindo sem enxergar a via.

Segundo o especialista em trânsito, Celso Alves Mariano, trata-se de uma questão comportamental. “Não há atenção que resista ao apelo de um telefone tocando e não há mente que mantenha uma conversa ao telefone sem dedicar grande atenção. Assim, todo condutor deveria colocar seu celular longe de si, ou desligado, antes de sair. Qualquer outra opção é dar chance para um fator cada vez mais presente nos acidentes de trânsito.”

A gestora comercial Cristina Fogaça repensa a postura ao volante depois de um susto. “Estava no celular e não vi uma blitz mais à frente. Só percebi com a batida. Destruí meu carro e tive um grande prejuízo financeiro. Hoje eu deixo o telefone na bolsa, nem olho”, finaliza.

Fonte: Radar Nacional