Quase metade dos brasileiros que possuem esse meio de pagamento não usa a modalidade pré-datada, conforme levantamento. Para lojista, esse papel representa risco de inadimplência Cartão de crédito e pagamento eletrônico substituirão o cheque
Cheques pré-datados entram em desuso e não devem se tornar uma alternativa de pagamento durante a crise econômica, devido a facilidade e segurança do cartão de crédito. Segundo especialistas, a tendência é de que possam ser extintos.
De acordo com recente pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pelaConfederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), quase metade dos consumidores que possuem cheque (47,5%) nunca o utiliza na modalidade pré-datada e os principais motivos são a preferência pelo cartão de crédito na hora de parcelar (35,8%), a falta de praticidade (24,8%) e a preferência pelo pagamento à vista (19,5%).
Conforme o levantamento, a principal justificativa para o uso do cheque pré-datado é o maior prazo de pagamento, com 38,6% dos consumidores respondentes. Em seguida, 16,6% afirmam optar pelo seu uso para ter poder de compra mesmo quando não tem dinheiro e 12% pela possibilidade de parcelamento das suas compras.
Ou seja, o estudo mostrou que a vontade de parcelamento entre os consumidores brasileiros continua, mas houve uma alteração na forma de pagamento com a substituição do cheque para o uso do cartão ou até, para transações por meios eletrônicos, como a Transferência Eletrônica Disponível (TED).
“O uso do cheque é muito menos prático para o cliente e para o lojista. Com o cartão de crédito ambos têm mais segurança em caso de roubo. O cliente com o cancelamento do cartão, sem a necessidade de sustar o cheque e o lojista que transfere o risco de inadimplência para a empresa emissora do cartão”, informou a economista-chefe doSPC Brasil, Marcela Kawauti.
Por outro lado, o assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), Vitor França, explica que o uso do cheque, não só pré-datado, ainda prevalece em setores formais que lidam com bens de valores mais elevados, como nas compras de imóveis e veículos, onde as transações bancárias e meios de pagamentos eletrônicos não encontraram uma solução para substituí-lo.
O estudo também revelou que as roupas e eletrodomésticos são os principais produtos comprados com cheques, mencionados por 22,9% e 19,1% dos consumidores respectivamente, seguidos por produtos alimentícios (17,9%) e eletroeletrônicos (15,2%).
No que se refere ao controle dos gastos, 37% dos consumidores informaram que utilizam a anotação em cadernos e agendas. Um terço afirmou que anota o valor pago no próprio canhoto, e apenas 18,1% fazem os registros em alguma planilha no computador.
“Fazer o controle das despesas também é mais fácil com o cartão porque o valor é registrado na hora, no caso do crédito, já o débito, o valor é descontado na hora, sendo possível consultar todos os gastos na sua fatura. Com o cheque, há a incerteza de quando ele será depositado”, explicou a economista-chefe do SPC Brasil .
Tendência
A perspectiva é que essa modalidade de pagamento deve ser reduzida, além da facilidade trazida pelos cartões, tanto de débito quanto de crédito, também pelo custo do processo de compensação para o sistema financeiro e pelo risco de inadimplência que os lojistas precisam assumir.
“O Banco Central já sinalizou o interesse de expandir os [pagamentos por] meios eletrônicos exatamente porque a participação do cheque como forma de pagamento é residual e não passa de 3% do consumo. No que se refere à tendência, nos próximos anos, ele deve ser extinto naturalmente ou até, por uma orientação da própria autoridade monetária para que ele não seja mais utilizado”, concluiu Vitor França.
Conforme os especialistas, dados do BC revelam que, ao passar dos anos, foi possível observar uma queda significativa nas emissões dos cheques no Brasil e, de acordo com Marcelo Monteiro, especialista em finanças pessoais e diretor de novos negócios da PH3A, em 1997, foram transacionados 210 milhões de cheques abaixo do limite de R$ 300 e atualmente esse montante é de apenas 17 milhões até maio de 2016, registrando queda de quase 90% neste período.
Já no caso de cheques transacionados acima do limite de R$ 300, o número era de 51,5 milhões, com 34 milhões até maio deste ano, queda de aproximadamente um terço.
Na opinião de Marcelo Monteiro, a queda no uso de cheques no País se acentuou do segundo semestre do ano passado para 2016, muito influenciado pelo cenário de recessão pelo qual o Brasil passa, com queda na atividade produtiva e do consumo doméstico.
Questionado sobre um possível aumento no uso de cheques por causa da atual crise econômica, Vitor França pontuou que, mesmo neste momento, o lojista ainda prefere continuar realizando o pagamento das taxas administrativas pelo uso do cartão e ter a segurança de um banco como intermediário de risco em caso de inadimplência do que continuar aceitando cheques.
Fonte: DCI Online