Pedidos para atender a demanda de fim de ano crescem e empresários acreditam em aumento das vendas. Com renda em baixa, consumidores devem gastar com presentes de menor valor
Com a confiança em alta, varejistas já estão se preparando para o Natal. Para eles, a data comemorativa – que é a principal em termos de volume de vendas – deverá render ganhos melhores em comparação a 2015. “O setor não terá uma retomada forte para este Natal. Mas devemos registrar algum crescimento pequeno”, sustenta o presidente do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Roque Pellizzaro Júnior. Após frustrações nas datas comemorativas no primeiro semestre, Pellizzaro garante que os lojistas estão melhor adaptados à realidade de queda dos rendimentos das famílias. “Os varejistas estão adequando mix de produtos e estrutura de financiamento das vendas dentro desse novo perfil. As empresas estão conseguindo projetar um Natal sabendo que o consumidor terá uma renda menor”, justifica.
A expectativa é que ocorram mais transações, mas tíquetes (valores) médios menores. Em 2015, em parceria com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), o SPC Brasil previu um queda real de 22% do valor médio por presente. Embora ainda não seja possível precisar quanto o gasto médio cairá este ano, Pellizzaro reforça que o recuo está contratado. “Os próprios departamentos de móveis e eletrodomésticos já mexeram na estrutura. Estão mais voltados para atender produtos mais baratos, que antes dificilmente eram encontrados nas lojas”, diz.
Para o otimismo ser materializado, as demandas por encomendas junto à indústria estão aumentando, garante o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas da Bahia (FCDL-BA), Antoine Tawil. Somente nos segmentos calçadistas e de confecções, ele assegura que as encomendas feitas para os próximos 60 dias estão 12% superiores em relação ao primeiro trimestre.
Como as compras para o Natal têm início antes de dezembro, a expectativa é de que até o fim de setembro os varejistas tenham feito todos os pedidos necessários para a montagem dos estoques. E as encomendas não serão poucas, avalia Tawil. “Os estoques, hoje, estão baixos. A indústria realmente quase que parou de produzir. Estamos vendendo estoques anteriores e, se não nos arriscarmos com um volume razoável para podermos atender as nossas expectativas para novembro e dezembro, infelizmente vai chegar o cliente e não teremos o que entregar”, diz.
Para Tawil, os varejistas deverão ser ainda mais corajosos e otimistas na data comemorativa. “Se alcançarmos o número desejado em vendas, ótimo, não ficaremos com estoque alto em janeiro. Mas temos que ser audaciosos. Encomendamos para recebermos os produtos em 60 dias, mas devemos trabalhar com a perspectiva de vender em até 90 dias”, diz. Ele ainda ressalta que a indústria está preparada para atender às demandas do varejo. “Muitas indústrias sinalizaram que estão com linhas de financiamento para que possamos pagar.”
Mudanças
O otimismo no comércio inevitavelmente se estenderá até os shoppings centers, pondera o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun. “Tenho falado com vários empresários e eles estão com expectativa bem mais positiva dentro de um cenário que sentimos mudanças muito mais favoráveis”, diz ele, em referência ao processo de impeachment.
“Acreditamos que, com essa mudança de ter um governo que se torna permanente e reconhecido por uma grande parte da população que exige mudanças, efetivamente passaremos a ter ações concretas em várias reformas que acontecerão. E isso vai se traduzir em início da retomada do crescimento”, avalia Sahyoun. “Como muitos falam, chegamos ao fundo do poço. O que acontece a partir de agora é no sentido de retomada do crescimento e isso passa por muito movimento dentro do comércio e dos shoppings centers”, diz.
A melhor expectativa por vendas, no entanto, não deve se configurar como um aumento de contratações temporárias em relação a 2015, adianta o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior. “O empresário parou de demitir justamente para guardar uma mão de obra já treinada para ter capacidade de passar bem o Natal. Está difícil de assimilar novos custos para operações tão baixas porque o varejista perdeu em volume e rentabilidade”, diz.
O economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, pondera que a confiança do varejista é sempre importante, mas tem um limite: o bolso do consumidor. “O pior da crise já ficou para trás. Mas ela ainda está longe de terminar”, sustenta.
Fonte: Correio Braziliense