Na crise, rotativo do cartão é a linha de crédito que mais cresce

3 de janeiro de 2017

Apesar de ter o índice de inadimplência mais elevado, modalidade com os juros mais altos do mercado teve um salto de 38% nos últimos dois anos

Em meio ao anúncio das medidas do governo para reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, as operadoras ampliaram o volume disponível para endividamento dos consumidores. De dezembro de 2014 até novembro de 2016, o saldo teve um incremento de cerca de 38%, atingindo R$ 39,152 bilhões, conforme levantamento do Banco Central.

O aumento é proporcionalmente maior que o de outras modalidades mais seguras para as instituições financeiras, como o consignado para aposentados, que teve alta de 27% (R$ 97,838 bilhões), e para servidores públicos, de 11% (R$ 172,445 bilhões). Nos dois casos, a cobrança é feita na folha de pagamento.

O rotativo do cartão é o juro cobrado sobre o valor restante do pagamento mínimo da fatura e possui hoje o valor mais elevado do mercado. Segundo o BC, a modalidade alcançou em novembro passado uma taxa de 482,1% ao ano, a maior desde março de 2011. A linha de crédito, porém, apresenta mais risco de inadimplência.

No mesmo período do ano passado, o número de devedores que não honraram as suas dívidas no cartão foi de 35,6%, o nível mais alto entre as modalidades de crédito livre para pessoa física.

Já o crédito renegociado, que é a linha para a qual os devedores do rotativo e de outras modalidades são direcionados, registrou uma inadimplência de 18,4%. O aumento no volume disponível para esta opção teve a segunda maior alta no mês, de 30% (R$ 29,227 bilhões).

Queda

Para reduzir a cobrança do rotativo, o presidente, Michel Temer, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciaram no fim do ano passado a conversão automática da modalidade para o crédito parcelado após um período de 30 dias, com a possibilidade de pagamento em até 24 meses.

Com isso, a expectativa é que o governo corte os juros para mais da metade, diminuindo a pressão das taxas sobre o orçamento familiar e incentivando o consumo. A medida depende da criação de uma norma pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e é avaliada de forma positiva pelo setor financeiro.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs), Marcelo Noronha, disse que a mudança tem o potencial de levar os juros ao patamar de até um dígito por mês, o que reduzirá a inadimplência do setor e aumentará a capacidade de as famílias pagarem as dívidas.

O cartão oferece aos usuários um crédito pré-aprovado de fácil acesso, que pode ser usado sem a necessidade de liberação nas agências. Já o rotativo é visto pelos bancos como uma linha emergencial, o que, segundo as instituições, justifica a cobrança de preços mais elevados em relação às demais modalidades.

Nas alturas

Mesmo com a inadimplência em alta, o volume de crédito oferecido no rotativo do cartão de crédito foi o que mais cresceu para pessoas físicas. De dezembro de 2014 a novembro deste ano, o saldo foi 38% maior:

Saldo em milhões de R$

Inadimplência

Por outro lado, o número de pessoas que ficaram mais de 90 dias sem honrar as dívidas no rotativo caiu 4,3%, enquanto a inadimplência para o crédito reengociado subiu 2,8%:

Taxa de juros

No mesmo período, os juros do rotativo do cartão apresentaram uma escalada de 45,4% e chegaram a marca histórica de 482,1%. Já o cheque especial teve um salto ainda maior, de 64,5%:

Em % ao ano

Referências

Em comparação com outros países da América do Sul, o Brasil foi o que cobrou a maior média de juros do rotativo do cartão até setembro deste ano, conforme dados da Proteste:

Juros, em % ao ano

*Os dados são relativos a dezembro de 2015.

Fonte: Banco Central e Proteste. Infografia: Gazeta do Povo.

Fonte: Gazeta do Povo