Consumo das famílias cresce pela primeira vez em mais de 2 anos e contribui para alta do PIB

1 de setembro de 2017

Brasileiro consome mais no 2º trimestre, mas ainda está cauteloso com economia

O brasileiro voltou às compras após mais de 2 anos de retração no consumo. Esse movimento ainda é tímido, mas contribuiu para uma alta de 0,2% no Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo trimestre. O consumo das famílias cresceu 1,4% no período, na primeira alta após nove trimestres, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A inflação mais baixa, a queda na taxa de juros e os saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) impulsionaram os gastos das famílias, de acordo com economistas ouvidos pelo G1.

Foi a liberação do dinheiro do FGTS, em março, que deu fôlego financeiro ao técnico-administrativo Alexandre Oh, de 37 anos. Ele usou um quarto do dinheiro que acumulou em 6 anos de trabalho como bancário para pagar suas dívidas com IPVA, cartão de crédito e cheque especial. Mas, parte desse dinheiro, ele gastou para melhorar de vida.

Sem dívidas, Oh passou a frequentar o clube, a academia, restaurantes, teatro e partidas de futebol. A maior parte do dinheiro (cerca de 55%) ele gastou com itens para casa, roupas para a família, cuidados com a cachorrinha e manutenção do carro, além de uma viagem com a esposa para a Bahia.

Os saques das contas inativas do FGTS injetaram R$ 44 bilhões na economia entre março e julho deste ano. O Ministério do Planejamento chegou a prever que esse valor acrescentaria 0,61 ponto percentual ao PIB de 2017, evitando o terceiro ano seguido de tombo da economia.

Cautela

Apesar da retomada do crescimento, o consumo das famílias ainda é tímido comparado aos tempos de bonança da economia. Muitos brasileiros ainda estão usando sua renda para quitar dívidas e guardar dinheiro para um futuro ainda indefinido.

No caso de Oh, 20% do dinheiro sacado do FGTS foi para a caderneta de poupança. “Por ora, não tenho a intenção ou previsão de gastar esse valor”, diz. A cautela se deve à percepção de que a melhora na economia ainda não é consistente. “Do jeito que as coisas caminham, não sei por quanto tempo vamos conseguir manter esta rotina”, comenta.

Mesmo com vontade de comprar uma lava-louças, uma máquina de lavar, uma secadora nova e móveis planejados para seu apartamento, o técnico administrativo está aguardando melhores condições econômicas para gastar.

Dívidas

Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), feito em julho, mostra que o principal destino do FGTS inativo foi para quitar dívidas (37,6%). Em seguida, vem a aplicação em poupança (30%) e só depois o consumo (27,8%).

Segundo a FGV, o efeito do FGTS pode perdurar ao longo dos próximos anos, à medida que as famílias se sintam mais à vontade para gastar. Por enquanto, o impulso não acelerou de forma significativa o ajuste financeiro das famílias.

Peso no PIB

O consumo das famílias tem forte peso no PIB brasileiro, de 64%. Isso faz com que qualquer mínima recuperação no setor tenha reflexo importante na economia como um todo, explica o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

A demanda das famílias é o componente mais importante do bolo que também é dividido pelos gastos do governo, investimentos em bens de capital (máquinas e equipamentos) e comércio exterior. É ele que sustenta o crescimento do setor de serviços, o principal segmento do PIB pelo lado da oferta, que também voltou a crescer após 9 trimestres de retração.

Leia mais: Setor de serviços volta a crescer e ajuda na recuperação da economia
Para sustentar a alta do consumo de forma consistente, os investimentos em bens de capital precisariam voltar a crescer, o que ainda não aconteceu, lembra Vale.
Sem essa contrapartida, a capacidade instalada da indústria fica menos ociosa e precisará de uma expansão se o consumo continuar a crescer para evitar pressionar a inflação para cima. Uma eventual alta de preços compromete a expansão do consumo.

Desemprego ainda preocupa

Os economistas lembram que o consumo das famílias brasileiras depende do nível de emprego na economia. A demorada recuperação do mercado de trabalho compromete o consumo, lembra Vale.
Em julho, o desemprego caiu para 12,8%, mas ainda há 13,3 milhões de desempregados. O país continua longe do cenário de pleno emprego visto no passado.
No primeiro semestre, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que o Brasil gerou mais de 67 mil postos de trabalho.
Fonte: G1