A maneira como você lida com suas alegrias e dores pode interferir – e muito – nas suas contas. Entenda como e veja o que fazer para que suas emoções não te deixem no vermelho
Nossas emoções influem diretamente no nosso comportamento. Mesmo se possuímos uma boa autoestima, frente uma tristeza ou decepção, podemos nos comportar de outra maneira, agindo por impulso ou querendo amenizar a dor. Assim, especialmente numa sociedade de consumo, em que bens materiais são não apenas símbolos de certo status e identidade (quem eu quero aparentar ser para os outros), mas também associados à alegrias – mesmo que momentâneas – as emoções podem ser determinantes para desestabilizar a vida financeira de uma pessoa. Será que este é o seu caso?
Por que você compra?
Compramos coisas por dois principais motivos: necessidade e prazer. As compras por necessidade são facilmente identificáveis, pois são aquelas relacionadas à nossa sobrevivência. Alimentos, moradia, transporte, vestuário. As compras por prazer, por sua vez, não estão tão claras para muita gente. Afinal, se eu tenho fome eu preciso comprar comida. Necessidade, certo? Não quando você pede um prato de R$50 quando já está no cheque especial. A mesma lógica se aplica à moradia, transporte, vestuário. Podendo escolher entre inúmeras faixas de preço, por que não é óbvio escolher a mais barata ou, na maioria vezes, optar por simplesmente não comprar nada?
“Por isso é tão importante que a pessoa se questione sempre se de fato precisa do que está comprando”, explica o educador financeiro do Portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli. E mesmo essa pergunta não é tão simples, já que muitas vezes vivemos em uma realidade distorcida. Dizemos coisas como “não dá para viver sem carro” ou “se for para fazer festa, tem que ser festão!”. Não dá mesmo para viver sem carro (excluindo quando se usa o automóvel profissionalmente)? Então como vivem as milhares de pessoas que não têm acesso à transporte privado? Por que a festa não pode ser simples, barata, para poucos? A questão é que você escolhe ter um carro porque não quer depender do transporte público, muitas vezes lotado e desconfortável. Você escolhe fazer uma grande festa porque não quer ninguém “falando mal” depois. Você coloca esses gastos no campo da necessidade. E então magicamente a despesa associada a eles se justifica – mesmo quando é preciso se endividar para dar conta das prestações.
A psicologia explica
Segundo a psicologia, quando não gostamos de algo, tendemos a ignorar ou nos afastar, sem necessariamente pesar as consequências. O mesmo se dá frente uma experiência prazerosa. Mesmo que momentânea e ilusória, decidimos abraçá-la, em especial porque focamos no presente e não no futuro. “Nem sempre tomamos as melhores decisões para nós mesmos”, explica a especialista em psicologia econômica, Vera Rita de Mello. Ou seja, mesmo sabendo que sair para baladas caras com os amigos significará aperto financeiro, ainda assim optamos por sair, pelo êxtase momentâneo, e ainda justificamos para nós mesmos que “eu mereço, quero me divertir, depois me viro”. O problema é que, no mundo de hoje, as ofertas de alegrias momentâneas estão cada vez mais fartas. Da sobremesa incrível no almoço àquela blusa em promoção, do momento em que acordamos à hora que vamos dormir, são dezenas de tentações. “Já é comprovado por estudos que, quanto mais estímulos recebemos, mais compras fazemos. Nosso cérebro tem uma programação ‘de fábrica’ para evitar a dor e buscar o prazer”, explica Ana Paula Hornos, educadora e coach em finanças pessoais. É aí que entra a questão da autoestima.
Emoções x finanças
Segundo Vera Rita de Mello, todos enfrentamos problemas com autocontrole, erros de planejamento, autoconfiança e otimismo exagerado, esquecimentos e distrações, hábitos enraizados. Isso independe de classe social e nível de instrução. Um analfabeto pode controlar melhor as emoções e os impulsos de compra do que alguém com um doutorado. Como? Por valorizar sua renda, entender sua situação financeira e agir racionalmente. O problema está na compra pautada pela emoção, seja ela positiva ou negativa. “Se estamos cansados, ansiosos, ou com algum problema, por exemplo, podemos cair na cilada de buscar a compensação pelas compras. Até mesmo um estado de humor muito positivo como alegria ou empolgação podem interferir nestas escolhas”, avalia Marcela Kawauti, economista chefe do SPC Brasil. Quem está com a autoestima baixa tende a querer evitar essa dor, o que pode levar a gastos irresponsáveis. Quem está com a autoestima alta demais, por sua vez, pode achar que “merece” mais do que de fato consegue bancar.
Como não deixar as emoções desestabilizarem suas finanças
Para evitar gastos gerados pela emoção, tentando refletir sempre sobre o motivo da compra e sua necessidade, é importante lidarmos constantemente com nossas emoções, driblando os sentimentos que nos fazem gastar por impulso:
- Esteja consciente de seu estado emocional antes de ir às compras, se estiver em desequilíbrio, melhor evitar neste dia, pois você pode acabar comprando mais e o que não precisa.
- Crie o hábito de pesquisar preços. Essa atitude deve ser tão comum quanto respirar! Isso porque, durante a pesquisa, além de encontrar preços e condições melhores, você tem tempo para reavaliar e refletir se a compra é necessária.
- Acompanhe semanalmente sua conta bancária, dessa forma sempre terá consciência de sua realidade financeira.
- Saiba por que está indo às compras: Porque está deprimido? Porque está entediado? Porque está se sentindo mal? Porque está muito feliz? Para celebrar uma conquista? Faz sentido a compra? Ao fim das resposta é possível que você já tenha desistido da compra.
- Exercite-se quando o impulso de comprar aparecer. A serotonina, liberada através do exercício, traz a sensação de felicidade e é tão (ou mais) efetiva do que a compra.
- Durante as compras, tente relaxar e conversar com quem estiver com você, tirando o foco dos desejos extras. Mas, importante: evite ir à centros de compras com pessoas consumistas.
- Se sentir que está estressado, ansioso, irritado, muito alegre ou empolgado, mude o roteiro e deixe as compras do mês ou o passeio no shopping para outro dia.
Inadimplência: mais importante ainda manter-se racional
Segundo pesquisa do SPC Brasil, 47% dos inadimplentes cortaram itens importantes e de primeira necessidade para a família. “Neste caso, é fundamental que o consumidor faça um detalhamento minucioso de todos os seus gastos e priorize o pagamento das contas e compras de primeira necessidade, visando uma sobra no orçamento, que será utilizada justamente para negociar e quitar a dívida em atraso”, orienta Vignoli. Especialmente porque, com a autoestima baixa, pode ser que a pessoa acabe se endividando mais ainda, sob a perspectiva de que “não há salvação”.
De acordo com a pesquisa, a ansiedade é a consequência emocional mais vivenciada após a inadimplência (69%), seguida pela insegurança de não conseguir pagar a dívida (65%), stress (64%), angústia (61%), tristeza e desânimo (58%), culpa (57%), baixa autoestima (56%), vergonha (51%), sentimento de desonra (49%) e fracasso (44%). Como consequência dos impactos emocionais, o humor dos inadimplentes também é afetado: a maioria se diz irritada mais facilmente (52%), mal humorada (49%) e menos sociável (45%). Segundo os dados, 25% ficaram menos produtivos no trabalho ou estudos, 21% perdem a paciência com colegas de trabalho e 14% estão mais nervosos e já fizeram agressões físicas a familiares e/ou amigos.
“A postura emocional do devedor já diz muito sobre como ele vai lidar com a reorganização das finanças. Um consumidor desorientado, ansioso e com o sono prejudicado dificilmente vai ter foco e energia para traçar uma saída para o problema. O primeiro passo nessas horas então é manter a calma, a racionalidade, contar com a compreensão da família, e se possível, recorrer à ajuda de um profissional para resolver a situação”, finaliza o educador.
Fonte: Meu Bolso Feliz