Índice de poupadores tem se mantido em baixo patamar nos últimos meses; 46% tiveram de sacar parte de seus recursos já no primeiro mês do ano e 65% seguem optando pela caderneta de poupança para aplicação
Nem mesmo o início de um novo ano, momento em que muitas pessoas se comprometem a mudar velhos hábitos, foi capaz de encorajar os brasileiros a começarem a guardar dinheiro. Dados do Indicador de Reserva Financeira apurados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelam que apenas 18% dos brasileiros conseguiram poupar alguma quantia no último mês de janeiro, ante 71% que não puderam guardar qualquer parte de seus rendimentos. O baixo número de poupadores tem se mantido estável desde o início da série histórica. Em dezembro de 2017, o percentual de poupadores era de 21% e em janeiro do ano passado, estava em 17%. Em média, o valor poupado em janeiro foi de aproximadamente R$ 456.
A abertura do indicador por faixa de renda revela que é nas classes C, D e E em que o problema surge com mais força. Oito em cada dez (76%) pessoas que se enquadram nessa faixa de rendimento não conseguiram poupar dinheiro em janeiro. Já nas classes A e B, o percentual de não-poupadores cai para 54% da amostra. A sondagem ainda mostra diferença estatística na comparação entre os gêneros. O percentual de poupadores entre mulheres é de 16%, ao passo que entre os homens atinge 22% dessa população. De forma geral, pouco mais de um terço (36%) dos entrevistados disseram não ter o hábito de poupar dinheiro.
Entre os brasileiros que não pouparam nenhum centavo em janeiro, 43% justificam receber um salário muito baixo, o que torna inviável ter sobras no fim do mês. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os dados sobre a formação da reserva financeira mostram um alto número de famílias vulneráveis. “O alto desemprego e a renda menor dificultam a formação de poupança, mas o consumidor também deve olhar para os próprios hábitos. A boa prática financeira recomenda a formação de poupança para lidar com imprevistos. Quem não tem reserva, na hora da dificuldade precisa tomar crédito, que cobra juros ou pode até mesmo ser negado”, afirma.
46% dos poupadores sacaram recursos em janeiro para lidar com imprevistos, fazer compras ou pagar dívidas
Sobre enfrentar momentos de dificuldades, o indicador mostra que no último mês de janeiro, muitos poupadores tiveram de recorrer ao dinheiro que possuem guardados. Entre quem tem alguma reserva, 46% precisaram sacar alguma parte de seus recursos já no primeiro mês do ano. Os imprevistos foram a principal razão para o saque, com 13% de citações. Outros 10% retiraram o dinheiro guardado para fazer alguma compra e também 10% para pagar contas.
A pesquisa mostra que dentre os brasileiros que possuem alguma quantia guardada, o objetivo principal é se proteger contra situações imprevistas e não necessariamente realizar um sonho de consumo ou fazer compras. No total, 43% dessas pessoas pouparam parte de suas rendas para se prevenir contra doenças ou imprevistos do dia a dia, 25% para garantir um futuro melhor para seus familiares e outros 21% para enfrentar uma possível demissão. Somente a partir do quarto lugar no ranking de citações é que aparecem opções relacionadas a consumo, como realizar uma viagem (17%) e reformar a casa (13%). Outra constatação é que apenas 12% dos poupadores guardam dinheiro pensando na aposentadoria.
“Quando o assunto é se preparar para a aposentadoria, o brasileiro ainda se acomoda com a contribuição compulsória ao INSS. O ideal é montar uma reserva paralela para que no envelhecimento, o padrão de vida possa ser mantido”, explica o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
Maioria opta por modalidades com baixa ou nenhuma rentabilidade, como poupança, guardar dinheiro em casa ou deixar na conta corrente
Considerando o destino dos rendimentos, o indicador do SPC Brasil revela que a maioria (65%) dos poupadores seguem escolhendo um tipo de aplicação de baixa remuneração para depositar seus recursos, que é a caderneta de poupança. Em segundo lugar, 24% dos entrevistados decidiram manter o dinheiro guardado na própria casa, opção não recomendada por questões de segurança e por não render juros. Há ainda 20% que deixam o dinheiro na própria conta corrente. Em seguida aparecem opções mais sofisticadas e rentáveis de aplicações, como fundos de investimento (10%), tesouro direto (8%) e previdência privada (7%).
Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, os recursos guardados para lidar com imprevistos têm de ser de fácil resgate. “Nesses casos, a poupança pode ser uma boa opção. É melhor do que manter o dinheiro em casa ou na própria conta corrente, onde o risco de gastá-lo é maior e não há rendimentos”. Mas se o objetivo for de longo prazo, a economista faz outras recomendações. “É preciso estar mais atento a rentabilidade. Por isso, vale o esforço de buscar opções mais sofisticadas de investimentos, que garantem um retorno melhor”, orienta Marcela Kawauti.
Fonte: CNDL