Mesmo com fim da recessão, demanda por crédito e investimento das empresas de menor porte seguem em baixo patamar. Dentre os que vão investir no negócio, 53% planejam usar capital próprio. Mesmo com Selic em baixa, percepção é de que juros seguem altos na ponta
Com as projeções de crescimento da economia revisadas para baixo, as empresas de menor porte continuam retraídas na busca por crédito. De acordo com dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a demanda por crédito das micro e pequenas empresas do varejo e serviços (MPEs) caiu 2,2 pontos na passagem de maio para junho. Na escala do indicador, o resultado ficou em 19,4 pontos, abaixo dos 21,7 pontos observados em maio.
Já na comparação com os meses de junho dos anos anteriores, houve crescimento no apetite ao crédito. Em junho de 2017, o índice estava em 15,2 pontos, ao passo que no mesmo período de 2016 estava em 9,5 pontos. Mesmo com o crescimento na base anual de comparação, o indicador se encontra em baixo patamar. Isso porque, quanto mais próximo de 100, maior é a probabilidade de os empresários procurarem crédito e quanto mais próximo de zero, menos propensos eles estão para tomar recursos emprestados.
Na avaliação do presidente da CNDL, José Cesar da Costa, o momento econômico de lenta recuperação do pós-crise faz com que os empresários sintam-se receosos em comprometer recursos financeiros com dívidas. “São poucos os empresários que assumem o risco de um investimento que pode não dar retorno. A manutenção da Selic em seu piso histórico é algo positivo, mas ainda demandará tempo para que os efeitos dessa medida sejam sentidos no dia a dia dos empresários e consumidores”, explica o presidente.
Apenas 9% dos micro e pequenos empresários pretendem contratar crédito; 30% consideram difícil o processo de aprovação
De acordo com o indicador, em cada dez micro e pequenos empresários, apenas um (9%) tem a intenção de contratar crédito nos próximos 90 dias, contra 77% de entrevistados que não têm esse objetivo. Outros 14% se dizem indecisos. Entre os empresários que rejeitam buscar recursos de terceiros nos próximos três meses, 51% disseram conseguir manter o negócio com recursos próprios. As altas taxas de juros também pesam nessa decisão, sendo a justificativa de 34% desses empresários. A insegurança com as condições econômicas do país mesmo com o fim da recessão foi mencionada por 25% da amostra.
Questionados sobre o grau de dificuldade para contratar crédito como pessoa jurídica, três em cada dez (30%) micro e pequenos empresários consideram o processo difícil, contra 27% que avaliam como fácil. Entre os que consideram difícil, o excesso de burocracia e as exigências das instituições financeiras são o principal entrave, mencionado por 61%. Em segundo lugar aparecem as taxas de juros elevadas (49%).
“O levantamento reforça a necessidade de aproximar o pequeno empreendedor do mercado de crédito por meio da disseminação de conhecimento sobre a gestão do negócio e de linhas de crédito adequadas e acessíveis para o seu negócio. Mas também é importante que o empresário seja consciente do tipo de crédito que está tomando. Isso ajuda a evitar a inadimplência, que pode comprometer o desempenho dos negócios”, alerta o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior.
Indicador de Demanda por Investimento recua em um mês de 42,0 para 38,3 pontos. Dos que vão investir, 53% vão usar capital próprio
O levantamento da CNDL e do SPC Brasil também revela que o micro e pequeno empresariado brasileiro tem se mostrado pouco interessado em realizar investimentos em seus negócios. O Indicador de Demanda por Investimento caiu 3,7 pontos na passagem de maio para junho ao registrar apenas 38,3 pontos na escala. Em maio passado, ele estava em 42,0 pontos. O indicador também leva em consideração uma escala que varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, mais o empresário tende a realizar investimentos.
Na comparação com junho do ano passado, contudo, houve um crescimento, uma vez que o indicador estava em 26,6 pontos. Em junho de 2016, o índice se encontrava em 21,4 pontos e, no mesmo mês de 2015, em 26,0 pontos.
Em termos percentuais, mais da metade (53%) dos micro e pequenos empresários não pretende investir nos próximos três meses, sendo uma das principais razões a desconfiança de que o país tenha, de fato, se recuperado da crise, com 38% de menções. Além desses, 34% disseram que não veem necessidade de investir e outros 19% que fizeram investimentos recentes e estão aguardando o retorno.
Considerando os 29% de micro e pequenos empresários que manifestaram a intenção de fazer investimentos pelos próximos meses, seis em cada dez (59%) têm como foco aumentar as vendas do seu negócio. Outros 24% buscam adaptar a empresa a uma nova tecnologia, enquanto 20% sentem a necessidade de atender ao aumento recente da demanda entre seus clientes.
O principal tipo de investimento deverá ser a reforma da empresa (34%), seguida dos gastos com mídia e propaganda (26%), compra de equipamentos e maquinário (26%) e ampliação do estoque (19%). Há ainda 9% de empresários de menor porte que pretendem qualificar a mão-de-obra.
E para fazer frente a esses investimentos o capital próprio aparece como o principal recurso, o que reforça a baixa demanda por crédito apontado pelo estudo. Mais da metade (53%) desses empresários usará o dinheiro que mantém em investimentos e 7% planejam vender algum bem para adquirir os recursos. Apenas 17% vão recorrer a empréstimo em bancos ou financeiras. E para aqueles que recorreram ao capital próprio, 57% alegam que os juros praticados pelo mercado estão elevados, ao passo que 6% estão receosos de que não consigam honrar com as parcelas contraídas.
“Somente com um ambiente de negócios estável e com perspectiva de alta no consumo é que haverá um crescimento mais vigoroso da demanda por crédito e investimento dos micro e pequenos empresários. Como culturalmente, esses empresários misturam a gestão do caixa da empresa com seus recursos de pessoa física, muitos usam capital próprio para fazer melhorias na empresa quando sentem necessidade”, analisa a economista-chefe do SPC Brasil Marcela Kawauti.
Fonte: CNDL