45% dos microempreendedores têm dificuldades em gerir as finanças

4 de fevereiro de 2019

Levantamento realizado pela Serasa apontou ainda que 5% não fazem qualquer controle sobre fluxo de caixa; o que levou 136 mil deles a simularem empréstimos

Um levantamento realizado pela Serasa no final de 2018 e divulgado agora apontou que 45% dos microempreendedores têm dificuldade para equacionar as finanças da empresa, enquanto 5% admitiram não fazer nenhum tipo de gestão sobre 0 fluxo de caixa.

Tamanho descontrole levou 136 mil deles a simularem R$ 1,8 bilhão em crédito na plataforma da instituição, ano passado. O mesmo estudo revelou, no entanto, que nove em cada dez entrevistados definiram como meta para 2019 “cuidar melhor do assunto”.

Porém, para os que fazem planos de contrair um empréstimo para saldar alguns compromissos, pagar fornecedor, 0 pessoal, e dar aquela respirada, muita cautela. Seja para iniciar, expandir, ou mesmo fazer 0 negócio girar, é preciso muita calma nessa hora.

De acordo com a consultora do Sebrae na Bahia, Fernanda Machado, ter acesso a crédito é de suma importância para micro e pequenas empresas, mas que para fazer uso do expediente é preciso “consciência” e máximo de planejamento. “Crédito é solução”, diz.

“O empresário precisa ter em mente a real motivação para contratar um empréstimo. Ter um objetivo claro, um plano de negócio, calcular 0 retorno do investimento, se vai ser maior que 0 dos juros pagos. Crédito é uma solução”.

Segundo Fernanda, muitas vezes 0 empreendedor acha que 0 problema está na falta de dinheiro em si, mas que, na maioria das vezes, falta mesmo é gestão. E destaca que financiar máquinas e equipamentos sai mais barato que contratar “capital de giro”.

“É preciso separar finanças pessoais da empresarial. Fazer registros (de entrada e saída de dinheiro). Apurar lucro, faturamento. E, caso precise de crédito, buscar, entre bancos oficiais, privados e cooperativas, a que melhor lhe atender”.

À frente do restaurante Porto do Moreira, que completa em 2019 nada menos que 80 anos, 0 empresário Francisco Moreira faz plano de dar uma “levantada” no local. Diz que há pouco tempo trocou as cadeiras, e que pensa agora refrigerar 0 espaço, “retirar 0 calor da cozinha”. Precisa para isso de projeto – e dinheiro.

Ele conta que nunca precisou de empréstimo, que trabalha otimizando receitas, controlando os gastos, mas que recentemente foi “chamado” pelo gerente do banco – lhe ofertando recurso para a empreitada. Para ele, segredo em restaurante é “comprar bem”.

“E trabalhar muito. Não faço outra coisa na vida. Quando não estou aqui estou fazendo compras. Na Feira de São Joaquim, em outro lugar mais barato. Estou sempre atrás do melhor preço do camarão, do peixe, do hortifruti”, conta.

Depois de conhecer a face do desemprego em 2003, passar três anos à procura de uma recolocação – seguida de depressão severa – Jair Leal, 46, é hoje um microempreende-dor do ramo da publicidade.

De bicicleta, ele circula pelo bairro de Cajazeiras veiculando spots comerciais através de duas caixas de alto-falante. Ele diz que mais de mil comerciantes da região já anunciaram com ele, que hoje emprega oito pessoas diretamente, incluindo gente para gerenciar redes sociais e para pedalar.

Tudo isso, ele ressalta, graças ao Crediamigo do Banco do Nordeste (BNB). “Quando ninguém mais me abriu a porta, 0 BNB estava lá para me ajudar a realizar 0 meu sonho. De deixar de fazer biscates, e abrir 0 meu próprio negócio. Eu, que sempre pensei em viver de emprego, e nunca empreender”.

De acordo com a gerente de microfinanças da instituição, Lana Oliveira, 0 Crediamigo é 0 maior programa de microcré-dito produtivo da América do Sul, com mais de 20 anos de atuação em todo Nordeste, Norte do Espírito Santo e Minas gerais. Segundo ela, em 2018 foram concedidos cerca de R$ 9 bilhões em empréstimos, 11 mais que no ano anterior.

Ainda segundo Lana, 0 pú-blico-alvo são empreendedores com negócio estabelecido há, no mínimo, seis meses, seja no setor formal ou informal da economia – e faturamento de até R$ 200 mil ao ano. Os empréstimos vão de R$ 100 a R$ 15 mil, e as taxas de juros variam de 1,08% a 2,5%.

“Para ter acesso, ele deve formar grupo solidário ou indicar avalista para os créditos individuais”, diz a gerente.

“Saúde” do negócio De acordo com a assessoria de imprensa do Itaú-Unibanco, a instituição oferece uma série de linhas de crédito para micro e pequenas empresas, sendo que lá a taxa de juros varia de acordo com 0 relacionamento do cliente com 0 banco.

Como forma de ajudar pequenos empreendedores a manter as finanças em dia e gerir melhor 0 negócio, 0 Serasa lançou esta semana 0 Saúde do Seu Negócio. A plataforma (www.serasaempreen-dedor.com.br) reúne planos de ação, dicas, informações, análises e tendências.

“A saúde financeira é 0 coração de uma empresa. Nosso objetivo é orientar os empreendedores no desafio de conquistar uma boa reputação e mais chances de conseguir crédito”, diz 0 diretor da Serasa Experian, Eduardo Crivelari.

“Saúde”, que aliás, é a receita de Eduardo Leonel dono do Açaí Chapada, inaugurado há pouco mais de um ano, no Rio Vermelho. “Um sonho de 1998 realizado só agora, após muito amadurecimento. Não precisei de empréstimo, mas 0 tempo todo acionei minha rede de contato”, diz ele, que é administrador com especialização em gestão de finanças.

DICAS PARA QUEM BUSCA CRÉDITO

NECESSIDADE: É super importante ter em mente o valor do financiamento e a finalidade do recurso pretendido, se para compra de máquina, de equipamento, insumo ou ampliação do local

INSTITUIÇÃO: Busque informações sobre as linhas de financiamento que melhor se enquadram nas suas necessidades de crédito, e quais instituições operam com tais linhas

RESTRIÇÃO: É fundamental estar com todos os fatores de restrição (situação legal, garantias, capital próprio) adequados às exigências das instituições financeiras

PIANO: Você terá que mostrar ao banco que seu projeto é financeiramente viável. A melhor ferramenta para fazer isso é o plano de negócios

PRIORIDADE: Priorize financiar máquinas e equipamentos, reservando recurso também para capital de giro

Fonte: A TARDE