O artesanato, em todas as suas manifestações, tem ganhado espaço e dialoga cada vez mais com outros setores da economia, entre eles a moda e a decoração. De um lado, a consolidação dos novos modelos de trabalho levou a uma ressignificação das moradias, com espaços que possibilitem a integração e o convívio social, dando maior importância para objetos que trazem conforto, aconchego e principalmente memórias afetivas. De outro, o consumo sustentável e consciente, inclusive no vestuário, é tendência que veio para ficar, com valorização da identidade cultural do país.
“O uso do artesanato na moda e arquitetura se fortalece porque está alinhado ao mundo que vivemos: identidade, exclusividade, sustentabilidade e realidade. Além de trazer trabalho, renda e desenvolvimento a quase todos os municípios em que a produção artesanal está presente”, explica a gestora Nacional de Artesanato do Sebrae, Durcelice Mascêne.
Ao movimentar em torno de R$ 100 bilhões por ano – cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país – o artesanato brasileiro mostra-se cada vez mais fortalecido com mais de 8,5 milhões de artesãos espalhados por todos os estados.
A agregação do artesanato potencializa a moda e o design de interiores com a tendência e gosto por práticas estéticas ligadas ao “feito à mão”, diz a especialista. Tal posicionamento vem ganhando mais valor pelas demandas das redes sociais por mostrar pessoas reais fazendo coisas, seus locais e cotidianos.
“Esse mercado pode ser uma grande oportunidade para a inserção dos artesãos que podem utilizar as redes sociais, postando fotos dos seus produtos e demonstrando possibilidades de uso em ambientes decorados e lojas especializadas. Além da participação em eventos que sejam foco de arquitetos, design de interiores, estilistas e outros formadores de opinião”, aconselha Durce.
Da moda à arquitetura
Lembrado por associar o artesanato à moda em seus trabalhos, o estilista Ronaldo Fraga destaca que a moda é um vetor extremamente amplo e diverso pela forma de fazer. “A moda que se conecta com o artesanato é a autoral, humanista e com uma pegada de ancestralidade que busca mostrar a identidade de um povo”, explica Fraga.
O designer também lembra que um novo olhar sobre o modo de produzir com o movimento slow fashion, traduzido ao pé da letra como “moda lenta”, está mudando as relações de consumo e exigindo mais atenção das marcas em relação aos seus métodos de produção.
A máxima de Ronaldo, inspirada por Mário de Andrade, é “Olhar para o Brasil e criar pontes” que, segundo ele, unem o que é feito à mão com o que é feito na indústria e cria conexões entre o país rural e o urbano. “Os processos artesanais são muito bem-vindos e importantes para contar a nossa história e nesse lugar o artesanato contribui muito com o profissional de moda”, completou.
Já os sócios do Studio 2 Arquitetura, o arquiteto Alex Claver e o designer de interiores Wilker Medeiros ressaltam a força e a diversidade do artesanato brasileiro na composição de ambientes e a valorização de peças exclusivas. “Cada dia mais os projetos requerem que a gente coloque nos espaços a memória afetiva, a identidade e objetos que contam a história do cliente. Nessa missão, o artesanato é um grande aliado”, avalia Alex.
Cestarias, tapetes com tear, teto de bambu feito artesanalmente e peças decorativas feitas à mão em diversas regiões do Brasil foram algumas das apostas dos empresários para compor ambientes nos últimos anos.
Além disso, eles lembram que a produção industrial em larga escala perdeu valor e as empresas que querem se destacar têm investido em design com peças artesanais. “Cada objeto é feito de forma única e essa singularidade tem ganhado muito destaque e valor no mercado de arquitetura e design de interiores, não só no Brasil, mas no mundo todo”, explica Wilker.
Agência Sebrae