Quais são os caminhos o profissional construir carreira sólida e se tornar referência
Nunca temas como gestão de carreiras, coaching, desenvolvimento profissional e networking foram tão discutidos como atualmente. Em sintonia com o mercado de trabalho, a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP) realizou recentemente o evento “Planejamento de Carreira: Networking x Formação Profissional”, que contou com a palestra de Saulo Lerner, diretor da unidade Key Executives da Right Management.
Durante sua apresentação, Lerner deu dicas de como evitar uma carreira perecível e como é possível reinventar sua trajetória apostando no planejamento de carreira e formação profissional.
O palestrante abordou uma série de conceitos que coincide com suas experiências pessoais, as quais divide em três fases: a primeira na área de Recursos Humanos; posteriormente como executivo; e, por fim, dedicando-se a questões de carreira.
“Como eu converso diariamente com diversas pessoas, em sua maioria diretores, tenho uma excelente oportunidade de ver o que deu certo e o que não deu. Por isso a formação profissional e o networking não só caminham juntos como em muitos momentos se sobrepõem”, contou Lerner.
Para o mercado eu sou um produto, e não há nada de errado nisso
O que são os produtos? Somos nós, as pessoas que trabalham para o mercado, que necessitam de estratégias de atuação e trabalho de campo.
Para exemplificar melhor, o palestrante usou uma pequena história como ilustração. “Vamos considerar que em uma mão temos uma espada e em outra temos uma lâmpada. Aqueles que pegarem a espada e saírem usando-a sem critérios quando utilizarem a lâmpada irão verificar os estragos feitos. Já aqueles que usarem a lâmpada na frente vão escolher onde colocar a espada. Então, a sugestão é a seguinte: primeiro vamos usar a lâmpada e conhecer o produto, bem como sua especificação técnica para depois agir. E como se faz isso? Em primeiro lugar o patrimônio profissional, formação, experiência, competências, além da rede de relacionamentos, que também faz parte do nosso patrimônio profissional”.
Networking
Muitas vezes quando as pessoas falam sobre networking imaginam inúmeros cartões de visita, porque essa, na maior parte das vezes, é a idéia de rede de relacionamento, o que na realidade é muito pouco eficaz.
“Networking verdadeiro é aquele que agente tem a partir de histórias construídas, desde a época da faculdade, com nossos colegas, pessoas que nós conhecemos e tivemos uma história, por isso o relacionamento com esse grupo é muito mais eficaz. Tentem acessar uma pessoa que vocês não conversam há 10 ou 15 anos. Se tiveram uma história com ela, a probabilidade de ela voltar a falar com você é muito grande. Além de histórias construídas, é claro que existem outras relações que se fazem relevantes, como reputação, imagem, características pessoais inatas, visão de mundo, atitude perante a vida, inteligência emocional, autocontrole, apresentação pessoal e background sócio-cultural”, declarou.
Kits competências
A mais exigida é a formação básica que é a graduação, após isso a pós-graduação, programas de atualização, vivência internacional preferencialmente associada à formação, domínio de idiomas e de tecnologias de informação, além de profundo conhecimento da área de atuação específica.
Observando os tipos de competências, o diretor da Right Management as dividiu em três grupos:
Kit básico : isso qualquer pessoa precisa, visão analítica, base quantitativa e expressar-se corretamente. Sem isso não se sobrevive no mercado.
Kit avançado : visão estratégica de negócios, visão sistêmica de gestão, liderança, comunicação, criatividade e flexibilidade.
“Há alguns anos os itens citados acima ajudavam bastante, só que hoje essas competências também não resolvem completamente o problema. Então, por falta de um nome melhor, eu acabei dando o nome de Kit guerrilheiro , que conta com autonomia, determinação, decisão, ocupação de espaço, iniciativa, dinamismo, inteligência emocional e humildade pedagógica. Talvez o nome mais estranho desse kit seja humildade pedagógica, que é a capacidade de ouvir aprender e a partir disso se reinventar”.
Pensando na gestão de carreira
Aspectos pessoais e emocionais, saúde física, mental e social podem influenciar diretamente na gestão de sua carreira. Se o profissional não estiver muito bem centrado e condicionado com relação a essas questões, aparecerão problemas no caminho como os de auto-valorização e de como lidar com os próprios limites e possibilidades.
“No começo da carreira nós temos uma mala que é a mala do potencial, até porque no começo nós somos potencial, então a formação, competências e talento, que são fundamentais. Após esse período, carregamos a mala da experiência. O que é isso? São realizações e relacionamentos”.
“Um exemplo futebolístico. Vamos pensar em uma primeira fase operacional. Um jogador de futebol começa a jogar profissionalmente com 17 anos e rende até os 34. Nesse processo ele incorpora uma série de competências, só que como jogador ele tem um ciclo e o que acontece depois desse ciclo? Ele é cronologicamente jovem, mas como jogador ele é um produto perecível e aí muitos se perdem. Se a pessoa planeja a carreira em uma segunda fase de gestão, incorpora competências e aos 55 anos, como técnico, caminha para a terceira fase, que seria a de dirigente, na qual começa a ser visto como referência”, afirmou Lerner.
“Se a pessoa vai cumprindo as diversas etapas na construção de sua carreira, ela vai se reposicionando no mercado. Com isso, cumprindo todas as etapas, as discussões sobre estar muito velho ou novo ficam obsoletas”, acrescentou.
Referência
Mas a vida não é tão simples assim, a questão mais grave acontece nessa fase próxima à aposentadoria, pois muitas empresas usam a faixa de 60 anos como limite.
“Por isso o planejamento tem que começar a ser pensado muito lá atrás e o que eu acabo percebendo é que as pessoas não se planejam. Muitas vezes, quando chegam para mim nessa fase, me sinto como um médico no pronto socorro de fraturas, quando eu gostaria de estar fazendo medicina preventiva, ou seja, a gente pode começar cedo”.
No início da formação é importante que o profissional se veja como um produto, reconheça seus talentos e comece a construir a própria carreira com uma visão de longo prazo, com soluções muito bem construídas.
“Passando pelas fases técnicas, operacionais e executiva, essa é uma fase em que a gente se torna referência. Eu costumo colocar como exemplo que é muito fácil conhecermos pessoas que são referência para alguma coisa, normalmente elas estão fazendo o que sempre fizeram e sempre gostaram de fazer a vida toda”, afirmou o diretor.
“Nessa fase, provavelmente, se construirmos bem a carreira, fazendo o que é a nossa grande fonte de prazer, vamos ser uma referência, porque nessa altura nós já construímos uma identidade e já somos conhecidos e reconhecidos por isso”, finalizou Lerner.
Por Priscila D’Amora
Imagem: guia.via6.com