O segredo dos empreendedores que, com poucos recursos, mas muita criatividade, conseguiram alcançar uma posição de destaque no mercado
Ter o negócio próprio é o sonho de muitos profissionais. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), no Brasil existem 5,1 milhões de empresas, sendo que 98% são micro e pequenas. Estas respondem por mais de dois terços das ocupações do setor privado. Entretanto, de acordo com um estudo também do Sebrae, 27% das empresas paulistas fecham antes de completar um ano. E os números só se agravam até o sexto ano, quando atingem 64% de mortalidade. E as pequenas e microempresas representam 96% desse universo.
Daí a conclusão de que apostar em um empreendimento requer muito mais do que tino comercial. De acordo com o Ibmec São Paulo, ações como antecipar acontecimentos, buscar informações para tomar decisões e aproveitar oportunidades são os principais elementos para sobrevivência das empresas. Entretanto, buscar a simples sobrevivência está longe de ser o objetivo de um verdadeiro empreendedor. O sucesso exige a criação de projetos diferenciados que façam com que o negócio seja algo realmente inovador. Essa foi a estratégia utilizada por diversos empresários que, mesmo com poucos recursos, atrelaram criatividade a um bom planejamento e deram início a negócios promissores e bastante lucrativos.
É o caso da VAULT, especializada em engenharia para ambientes seguros, com atuação em duas divisões de negócios: blindagem arquitetônica e sistemas integrados de segurança (controle de acesso, CFTV e alarme). Há quase vinte anos fabricando, distribuindo e implementando soluções integradas de segurança, a VAULT surgiu como um embrião dentro de uma empresa de engenharia voltada para execuções de projetos e estruturas metálicas no segmento de módulos habitáveis para plataformas de petróleo, contêineres de cargas e vagões ferroviários.
Um dos sócio-fundadores, Cristiano Vargas, viu no negócio uma oportunidade de mudar o rumo profissional, já que, formado em Direito, o empresário não estava feliz trabalhando em escritório de advocacia. “Nessa época, eu tinha um amigo que morava em San Diego, Estados Unidos, e tinha comentado sobre uma feira de segurança que ele havia visitado na região e achado interessante. Então, pedi que me mandasse um material sobre os produtos e as empresas do mercado americano. Passei a pesquisar esse mercado no Brasil e constatei que havia uma demanda muito grande por este tipo de serviço e poucas empresas que o prestavam.” Ao perceber que o nível de produto no mercado americano era extremamente mais avançado do que o brasileiro, Vargas passou a importar esses produtos em sociedade com seu amigo de San Diego.
Com o aumento da violência no início dos anos 1990, a empresa de engenharia foi extinta e Vargas criou uma empresa destinada especialmente à fabricação de portas de segurança em função da crescente demanda por estes produtos. Atualmente, a VAULT desenvolve projetos mais complexos, customizados, com proteções de ambientes inteiros para residências, condomínios, bancos, empresas e representações diplomáticas. “No início, contamos apenas com recursos próprios, mesmo porque passamos bastante tempo apenas pesquisando e estudando, ou seja, só gastando. Então, ninguém ia nos conceder empréstimo sem um negócio propriamente montado e funcionando. E nem nós mesmos tínhamos esse objetivo, já que ainda não tínhamos nosso negócio operando”, pontua o executivo.
A principal dificuldade no início da VAULT, segundo Vargas, foi ter paciência e “sangue frio” para passar tanto tempo só investindo e pesquisando sem ter receita alguma. “Tanto é que o meu sócio, que iniciou o projeto comigo, ao voltar para o Brasil, não aguentou e arrumou um emprego. Portanto, fiquei sozinho na empreitada e, posteriormente, arrumei outros dois sócios (amigos antigos) que abraçaram o projeto e estão comigo até hoje.” Outro problema, percebido mais à frente, foi a dificuldade de lidar com burocracia, carga tributária e legislação trabalhista. “Essa nossa estrutura arcaica acaba resultando em uma quantidade enorme de informalidade, gerando concorrência desleal.”
Por Flávia Ghiurghi
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