Somos condicionados a acreditar que somente o trabalho enobrece o homem. Vivemos apesar das aparências parecerem contrárias. Os fatos demonstram a idolatria do trabalho na vida do homem moderno. Acredita-se que aqueles que trabalham muito – e sempre – serão mais admirados, mais bem sucedidos, mais bem vistos.
Estar desempregado é quase uma doença, um mal, algo indesejável e impensável, independente de quem está vivendo esse momento. Tanto é assim que quem está desempregado sofre por isso, como se fosse só um problema dele e não uma questão social de proporções globais. Claro que existem as exceções, aqueles que não são adeptos ao trabalho, mas não é sobre eles que estou me referindo. Aqueles que trazem o trabalho como um valor, que cresceram acreditando que quem não trabalha é vagabundo e não vai crescer na vida, sentem enorme dificuldade em lidar com o tempo livre. Como se o tempo precisasse ser útil, produtivo sempre. Quem está desempregado quase pede perdão.
Domenico De Masi já falava da importância do ócio criativo, ou seja, da possibilidade de equilibrar as atividades humanas entre trabalho, estudo e lazer.
De que maneira?
Valorizando e enriquecendo o tempo livre. Há um universo de possibilidades de atividades enriquecedoras além das relações de e com o trabalho. Valorizando as necessidades reais das pessoas, educando os indivíduos e as sociedades para a importância das necessidades básicas, tais como a introspecção, o convívio, a amizade, o amor e as atividades lúdicas. Com isto, ficariam em segundo plano as necessidades criadas pela propaganda e pela busca de status.
É importante ampliar o leque de conhecimento, arejar a cabeça, desconstruir para conseguir criar, inovar, ampliar a percepção. Para isso, é importante dar um tempo na rotina que consome, cansa, esgota, limita a vida.
Para isso, nem sempre é necessário se afastar por meses do trabalho. Se for possível, ótimo. Aproveite. Não tenha vergonha de poder fazer coisas incomuns, levantar um pouco mais tarde, por exemplo, ficar com os filhos, pegá-los na escola. Creia: muita gente gostaria de poder fazer isso. Ir ao cinema no meio da tarde, passear no parque durante a semana, ver uma exposição, passar uma tarde com a mãe ou avó, ou simplesmente não fazer nada – SEM CULPA.
Por Adriana Gomes*
*Adriana Gomes é mestre em Psicologia Social e do Trabalho e pós-graduada em Psicologia Clínica. Psicóloga e coach com mais de 20 anos de carreira. Ex-vice-presidente da Catho. Coordenadora do Núcleo de Estudos e Negócios em Desenvolvimento de Pessoas e Coordenadora Acadêmica da área de Pessoas e do Centro de Carreiras da pós-graduação da ESPM. É colunista do Portal Exame e colaboradora dos Blogs da HSM e Clickcarreira. Autora do Livro Mudança de Carreira e Transformação da Identidade. Diretora do site www.vidaecarreira.com.br