Troca pode ser feita apenas em pacientes com mutação de uma proteína. Alteração genética é mais comum em não fumantes que têm a doença
Oncologistas descobriram uma nova função de uma medicação já usada para tratar pacientes com câncer de pulmão. O “cloridrato de erlotinibe”, conhecido comercialmente como Tarceva, mostrou ser tão eficaz quanto à quimioterapia administrada na veia em pacientes que apresentam a doença, mas que sofrem de uma mutação diferenciada do tumor.
Pesquisas recentes europeias descobriram que o remédio de via oral, antes usado como complemento à quimioterapia convencional, conseguiu ser suficiente no ganho de sobrevida, podendo ser usado unicamente nestes pacientes por um tempo mais prolongado.
Em dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se que surjam 17.210 novos casos de câncer de pulmão em homens e 10.110 em mulheres no Brasil somente em 2012. Valores que correspondem a um risco estimado de 18 novos casos a cada 100 mil homens e 10 a cada 100 mil mulheres.
O maior fator de risco da doença é um longo período de exposição ao tabagismo. Mas conviver em ambientes muito poluídos também pode ser arriscado.
Como o remédio responde?
Esses pacientes tem uma mutação na proteína EGFR (sigla para “receptor do fator de crescimento epidérmico”, em português), localizada nas células do pulmão. Todo mundo possui essa proteína, mas a sua mutação é mais comum em pessoas não fumantes que desenvolveram o câncer de pulmão de pequenas células (o tipo menos comum desse câncer). O câncer de pulmão não-pequenas células é o de maior abrangência (atinge até 80% dos casos), causado em grande parte pelo consumo de derivados de tabaco, como o cigarro.
Segundo o oncologista Artur Katz, chefe do serviço de oncologia do hospital Sírio-Libanês, o medicamento pode ser a única opção de tratamento para esses pacientes por meses e anos, dependendo de cada caso e pode ser determinante para frear o crescimento do tumor.
– [O uso] mais que dobra o período que demora para que o tumor se torne resistente ao tratamento e volte a crescer. E, em alguns pacientes, o efeito pode durar anos em vez de meses. Se, nesse período, tiver controlado [o crescimento do tumor], não precisa de quimioterapia.
O medicamento tem efeitos colaterais mais brandos do que a quimioterapia convencional, que deve ser administrada no hospital e causa náuseas, vômitos, além da queda de cabelo, explica o oncologista Stephen Doral Stefani, do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS).
“Os efeitos colaterais são mais confortáveis e ele pode ser usado em casa. Os mais comuns são a queda de glóbulos vermelhos, que causam anemia, e a queda da taxa de glóbulos brancos, que pode aumentar o risco de infecções.”
Entretanto, a comodidade de um quimioterápico tomado em comprimidos tem seu preço: um mês de tratamento custa em torno de R$ 6.000 a R$ 8.000. Por ser um medicamento de alto custo, o paciente pode tentar incorporar o tratamento no plano de saúde ou recorrer à Justiça para consegui-lo pelo Sistema Único de Saúde (SUS), explica Stefani.
Fonte: G1