O celular toca, o telefone também … preciso atender!
A caixa postal está lotada de emails e promoções que não caíram no spam … preciso ver!
As redes sociais virtuais cobram a presença, assim como as “redes sociais” presenciais com inúmeros encontros, casamentos, aniversários, batizados, happy hours … preciso ir!
O trânsito não colabora, os faróis não abrem e enquanto isso a cabeça entra num turbilhão fazendo um check list de TUDO o que é necessário e urgente no dia … preciso parar de pensar e não consigo! E celular toca de novo …
Já deu uma certa angústia só de pensar, e o pior é que muitos de nós vivemos exatamente sob essa “demanda”. A pergunta paira no ar: “O que é urgente ?”.
Me dei conta dessa loucura “desorganizacional” que era a minha vida quando o projeto Volta ao Mundo que estou fazendo me deixou à margem desse meu cotidiano. Desacelerei e passei a ver algumas situações dando um “zoom out”, não sei se gosto muito dessa expressão, mas ela exemplifica bem a questão de olharmos à distância os fatos; no caso: a minha própria vida. Inúmeros questionamentos bateram e continuo refletindo sobre assuntos que gostaria de compartilhar com vocês.
Com tantas distrações e diversões será que a gente consegue estar inteiro em algo? Será que dá pra cumprir nossas tarefas com excelência?
Hoje entendo melhor o que aprendi anos atrás num curso de filosofia. Estudava um pensador chamado Gurdjieff que dizia com convicção que estar “inteiro” e pleno nas ações cotidianas nos leva à excelência do que é praticado e o que é melhor, para ele o foco no presente momento age como mágica “alargando” o tempo. Entende-se como presente não deixar a mente se perder no ontem e no amanhã. Pra facilitar: quando estamos lendo, bacana apenas ler, quando cortamos um pão, bacana cortar o pão, quando conversamos com alguém, bacana estar realmente na conversa …. e assim por diante. O que não dá é pra ler o livro pensando nas quinhentas coisas a fazer no dia seguinte, atendendo à quinhentos telefonemas e parando pra dar uma olhadinha no email a cada 5 minutos. Vou pular o capítulo facebook pois esse rouba até o nosso sono!! O que acontece é que a gente avança muitas páginas do livro e nem lembra o que leu!! Exageros à parte, só conseguimos alcançar a plenitude de um a ação quando nos dedicamos exclusivamente à ela!! Parece muito fácil mas não é!!
E esse é o ponto: estamos deixando de ser excelentes nas pequenas e grandes coisas do nosso dia a dia por distração!! Eu percebi o quanto era caótica e consequentemente estafada. Minha mente vivia subdividida em milhões de frações, cada parte pensando em algo distinto !!
Essa vida mais caótica onde tudo acontece aqui e agora e tudo precisamos resolver já é o que no fundo nos tira do “eixo”, o mestre Gurdjieff colocava com sabedoria que a nossa cabeça é sede de um enorme rio de pensamentos e temos que aprender a domá-los, só ao cessar esse fluxo ininterrupto é que conseguimos nos concentrar naquilo que realmente importa. E como parte do aprendizado tínhamos que fazer uma série de exercícios de “atenção”, nos concentrando ao máximo em determinadas ações cotidianas. Vou dizer que essa fase da minha vida foi uma das mais interessantes e plenas, onde alcancei muitas conquistas profissionais além de conseguir encontrar comigo mesma.
Quando estivemos no Laos conhecemos Donald MacGillivan, um canadense muito figura que decidiu não ter celular e nem email na defesa de uma vida mais saudável e de relações mais presentes. Ele disse que quer ter tempo para trabalhar, se desenvolver e não quer substituir encontros ao vivo com aqueles que gosta por papos via celular ou email, quer curtir inteiramente cada minuto de sua vida e de suas relações!!
Sem radicalismos e sem fazer apologia à vida “alternativa”, acho que vale a pena rever nossas urgências e como estamos gastando nosso precioso, divino e irrecuperável tempo.
Gastamos mesmo muito tempo em blá blá blá e essa “blábláção” é responsável não só pela perda de qualidade das nossas ações como pela perda de qualidade da nossa vida. Se a gente juntar todo o tempo que gasta enrolando ao telefone, nos emails, nas correntes, nas redes sociais, etc … chegamos a conclusão que esse tempo bem empregado poderia render um curso, uma viagem, uma nova faculdade e com certeza mais desenvolvimento e retorno no trabalho …
Quem sabe não seja hora de dar uma olhada e ver se você também faz parte do Clube da Distração, ponderando o que de fato importa e é urgente em sua vida! Ih, o celular toca de novo … ops … mas dessa vez não vou atender !!
E pra encerrar uma frase do célebre filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860):“Somente o presente é verdadeiro e real. O presente é o tempo realmente pleno e sobre ele repousa exclusivamente a nossa existência”.
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Por Danilo España e Luah Galvão
Disponível em: Exame.com