Um emprego é como um relacionamento. Você cria vínculos, precisa ter trocas, confiança, ser flexível e cumprir certos acordos. Quando essa relação fica desgastada e há mais pontos negativos do que positivos, talvez seja hora de dizer adeus (ou seja, de pedir demissão). Este é um momento crítico e, dependendo de como é conduzido, poderá deixar ótimas impressões ou pode arranhar sua imagem profissional, prejudicando futuros trabalhos.
O diretor de marketing da consultoria de recursos humanos da Catho, Luís Testa, explica que, em primeiro lugar, o profissional deve refletir sobre as razões que o levam a querer deixar o trabalho, antes da conversa definitiva. “Precisa considerar a potencialidade de crescimento na área em que atua, a sua satisfação, a dedicação nas atividades, quais são os reais motivos de insatisfação e se é algo momentâneo ou pontual”, diz ele. Além disso, é importante ter em mente que um salário ou benefícios mais atraentes não devem, sozinhos, servir como justificativa para a mudança de empresa. “Se não houver motivações profissionais, poderá também levar à frustração”.
A contadora Jéssica de Souza, 32, trabalhou durante seis anos em uma multinacional, sendo que nos últimos quatro era coordenadora de um departamento. O excesso de trabalho a desmotivou e ela pediu demissão. “Os dois últimos anos, em particular, me desgastaram ao extremo. Eram jornadas de trabalho intermináveis para o cumprimento de prazos cada vez mais justos com a matriz estrangeira. Meus níveis de estresse foram ao limite e, por consequência, minha saúde foi seriamente fragilizada. Embora eu tivesse medo de sair e enfrentar um recomeço, precisava tomar esta decisão”, conta.
Analisando os prós e contras
Os prós e contras de sair do emprego devem ser avaliados com critério. Para a professora Elza Veloso, que dá aulas no MBA de Recursos Humanos e faz parte Programa de Gestão de Pessoas da FIA (Fundação Instituto de Administração), vários fatores devem ser calculados. “Primeiro, observe os sentimentos em relação ao trabalho atual e aos possíveis empregos futuros. O ponto de referência deve ser a pessoa e seu contexto familiar e social. Em seguida, é essencial que essa análise considere também o lado objetivo, que envolve os recursos financeiros, para que a pessoa faça a transição tranquila. É também muito importante que as oportunidades de trabalho sejam mapeadas”.
Apesar de saber que seria melhor para sua saúde, pedir demissão não foi fácil para Jéssica, já que não tinha outro emprego em vista. “Refleti muito sobre a minha chegada à empresa, todo o aprendizado, coleguismo e oportunidades que me foram concedidas. O trabalho deixou de ter reconhecimento. Passou a ter somente cobranças e era notória uma insatisfação geral. O lado negativo da minha demissão é que me tornaria integrante na parcela dos desempregados e precisaria de um ótimo plano para seguir em frente. Por outro lado, poderia cuidar da minha saúde, ter tempo para mim e para as pessoas que amo”, conta.
Evite os dez maiores erros ao pedir um aumento11 fotos
Se você anda com a ideia fixa de que precisa (e merece) um aumento, é preciso avaliar uma série de questões antes de conversar com o chefe. “Verifique se o seu salário está realmente abaixo da média para o seu cargo ou função”, diz o coach José Roberto Marques, presidente do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching). Avalie também os benefícios, como remunerações anuais e bônus, planos de seguro saúde e previdência, entre outros. “Se você receber mais do que a média do mercado e suas realizações forem consistentes, pode ser o caso de pleitear uma promoção, e não um aumento”, diz o coach Persio Cordeiro, diretor do JobCoach. Se chegar à conclusão que você deve mesmo pedir um salário maior, agende uma reunião com o chefe, avisando-o que pretende falar sobre salário. Assim, ele também terá a chance de se preparar para a conversa. Antes disso, veja, a seguir, como não cometer os dez maiores erros ao pedir um aumento. Por Rita Trevisan e Thaís Macena, do UOL, em São Paulo Didi Cunha/UOL
Depois de analisar todos os prós e contras, é hora comunicar ao chefe a decisão. Só depois dessa conversa é que o pedido de demissão deve ser oficializado ao departamento de Recursos Humanos. Para que essa reunião seja bem-sucedida, a coordenadora do Gestão Estratégica de Pessoas, Vanderli Frare, do instituto de ensino IBMEC, aconselha: “Procure ser transparente e honesto dentro do possível. Agradecer o tempo de permanência e as oportunidades que teve. Colocar-se à disposição da empresa durante uma ou das semanas para a passagem de tarefas, se for o caso. E se manter aberto para fazer do seu processo de saída o mais tranquilo possível”.
Dependendo dos motivos que levaram ao desligamento, o processo pode ser delicado. Testa recomenda que o mais indicado é que o profissional agende uma reunião para conversar em particular com o superior e que não comente sobre o assunto com os colegas antes deste encontro, para evitar boatos.
“A conversa deve ser sincera, sem ultimatos, blefes ou ameaças. Deixar as ‘portas abertas’ é fundamental. O profissional deve marcar o ambiente organizacional com comprometimento e competência até o último dia de trabalho e, ainda, ser transparente sobre sua decisão de saída, sem deixar dúvidas sobre outros possíveis motivos. É isso que os ex-chefes irão lembrar, seja na hora de recontratar ou para indicá-lo a uma nova oportunidade”. Os especialistas também recomendam nunca deixar o emprego de uma hora para outra, deixando trabalhos pendentes ou problemas a resolver.
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Sinceridade tem limites
Os motivos que levam ao pedido de demissão nem sempre devem ser totalmente revelados, principalmente quando envolver um relacionamento ruim com o chefe. “É importante evitar falar mal de pessoas ou da empresa, fazer comentários sobre situações em que não é possível provar e utilizar termos ou palavras ofensivas”, afirma Testa.
Ser extremamente sincero poderá lhe causar problemas futuros, principalmente quando procurarem referências no seu antigo emprego. “É importante lembrar que as pessoas atualmente circulam pelo mercado de trabalho e que talvez colegas de uma empresa se encontrem em novamente. “No momento de pedir demissão, as competências sociais são tão importantes quanto no momento de ser admitido”, diz Elza.
Caso você tenha recebido uma proposta de novo emprego, deverá explicar teor da proposta e a oportunidade de crescimento profissional que ela significa na sua carreira profissional. Se estiver pedindo demissão por falta de motivação, é melhor dosar a sinceridade para não perder possibilidades futuras de relacionamento com a empresa.
Para a contadora Jéssica Souza, a conversa com o gestor foi tranquila, já que tinha bom relacionamento com ele. “Quando decidi me desligar da empresa, me coloquei à disposição para treinar um substituto pelo tempo necessário. Desliguei-me com a sensação de missão cumprida, com a certeza de ter feito um bom trabalho”. Poucos meses depois, Jéssica aceitou uma proposta de um ex-chefe para prestar consultoria de negócios em uma empresa por um período determinado. “Depois, mudei para uma cidade litorânea, troquei cargos e salários consideráveis por uma vida mais simples, mas com qualidade e tempo”.
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Por Patrícia Ribeiro
Do UOL, em São Paulo