Desde que o juros começou a cair e, consequentemente, as margens dos bancos, certas práticas começaram a ser questionadas. Uma delas foi a venda parcelada sem juros. Criado para substituir o cheque pré-datado, o produto acaba custando para varejistas. Para adquirentes, no entanto, o parcelamento sem jutos funciona como forma de incentivar o uso do cartão, bem como para aumentar o tíquete médio das compras gerais. Já os bancos ficam mais receosos, uma vez que o parcelamento pode levar ao descontrole financeiro e à inadimplência do consumidor.
De acordo com Roque Pellizzaro, presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, grande parte dos lojistas – principalmente os que vendem roupas, calçados e acessórios – tem um prazo não tão longo para pagar pelos seus produtos. Quando a mercadoria é importada, inclusive, o varejista paga por ela no momento da compra. “Precisamos reestruturas as nossas jabuticabas, como o parcelado sem juros, mecanismo que fomos criando no período das “vacas gordas” e que, agora, passam, necessariamente, por uma reestruturação muito forte”, comenta Pellizzaro.
Na opinião de Reginaldo Zero, CEO da Fidelity, a situação não é bem assim. “Não tem como voltar. Hoje a indústria de meio de pagamento ficou grande demais para que se possa fazer qualquer tipo de mudança”, comenta. Segundo ele, as adquirentes não pretendem parar de operar o parcelado sem juros, mesmo. “Foi uma exigência do mercado, uma criação do mercado por causa das altas taxas de juros. O mercado quer o parcelado”, fala Zero.
Pellizzaro rebate e diz que, se existisse uma abertura e uma regulamentação que proteja os lojistas que dão preço diferenciado para quem compra a vista, o parcelado sem juros seria menos danoso. Assim como Zero, no entanto, Pellizzaro concorda com o fato das compras parceladas terem sido de grande valia para os lojistas. “Se diminuísse para até 6 ou7 parcelas, isso já iria abarcar mais de 90% do varejo“, diz Pellizzaro.
O presidente da CNDL comenta que, mais do que os varejistas, são os bancos que estão chiando contra o parcelado, uma vez que são eles que tomam o risco maior.Para Zero, a situação do parcelado sem juros é a mesma de muitos outros produtos relacionados ao crédito: a discussão que está colocada de forma errada. “Não é discutir o produto, mas o modelo comercial do produto.O varejista precisa aprender a embutir os valores de taxas no produto”, comenta Zero. Os bancos, complementa o executivo, poderiam taxar tal prática.
O sucesso do parcelado entre os consumidores, no entanto, é inegável. O tipo de compra, segundo Pellizzaro, representa mais de 50% do total do varejo brasileiro. Segundo ele, muitos lojistas vão na contramão do setor e dizem que se o parcelado acabar, eles voltam a vender usando o cheque pré-datado “no dia seguinte”. “Às vezes, parece que os varejistas gostam do cheque pré-datado, parece que a conclusão é essa”, brinca Zero.
Fonte: CNDL