Lojistas veem surpresa positiva, mas esperam que não se trate de “pico passageiro”
O varejo apresentou um crescimento além do esperado no último mês de julho, tanto em comparação com o mês anterior quanto em relação ao mesmo mês de 2012, de acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (12/9). Guido Mantega, ministro da Fazenda, comentou mais cedo que trata-se de uma retomada da demanda interna. Economistas, apesar de afirmarem que é difícil basear um crescimento no resultado de um único mês, reforçam que o resultado demonstra que, mesmo que de forma lenta, a economia brasileira vem crescendo.
Heron do Carmo, doutor em Economia e professor da Universidade de São Paulo (USP), ressalta a série de incentivos que foi dada a diversos setores do mercado brasileiro. Para ele, esse resultado, junto com outros anunciados recentemente, apontam uma tendência de aumento nas vendas.
“A economia brasileira vem crescendo pouco, mas vem crescendo, então é esperado que o comércio acompanhe. O resultado do IBGE aponta que a situação está mais favorável do que se pensava. Em termos de tendência, o resultado de IBGE está de acordo. Esperava-se que a economia crescesse abaixo de 2% neste ano, mas agora a tendência é crescer um pouco mais”, declarou.
Para ele, no entanto, não é possível afirmar que resultado significa uma retomada do mercado interno. Em sintonia com outros economistas, ele reforça que não dá para analisar o crescimento do consumo com base em um mês – já que o crescimento pode ser acompanhado por uma queda no mês seguinte – e que é necessário considerar também a oferta.
“Isso depende do humor do consumidor. Não cabe comemorar ainda. É preciso esperar a evolução da economia nos próximos meses, para verificar se de fato a demanda cresce”, afirmou. A questão é que os próximos resultados dependem de questões maiores, como a situação do câmbio, da atividade econômica, o efeito disto no mercado de trabalho e a política internacional. Ele destaca que a incerteza sobre o ataque ou não dos Estados Unidos à Síria, por exemplo, gera uma incerteza no mercado que é ruim para o crescimento e para a inflação.
Adriano Benayon Amaral, especialista em Economia Internacional, também ressalta que o varejo teve um aumento “muito grande”, mas que não se pode levar tanto em consideração o crescimento de um mês para o outro. “Estamos em uma época um pouco difícil, com dificuldade nas contas externas. O aumento do varejo não quer dizer necessariamente que tenha havido um aumento na procura”, comentou.
A Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) considerou o crescimento uma surpresa positiva, mas defende, no entanto, que é preciso aguardar o desempenho de agosto, para avaliar se o resultado de julho foi apenas um “pico passageiro”. “O resultado é ótimo, mas comércio pode acompanhar a tendência da indústria, que cresceu e logo depois recuou. Temos que aguardar o desempenho de agosto, que vai mostrar se existe uma tendência de recuperação para o segundo semestre ou se esse resultado é um pico passageiro”, comentou Roque Pellizzaro Junior, presidente da CNDL.
Carlos Cova, doutor em Engenharia de Produção, todavia, acredita que o crescimento do varejo não é sustentável, devido à fragilidade da situação econômica, que, ele aponta, reduz o nível de confiança do empresariado. A solução, no entanto, não deveria vir de uma expansão do crédito e dos benefícios fiscais. “Um resultado como este é pouco significativo para dizer que houve uma mudança no perfil do consumo no varejo”.
Fonte: Jornal do Brasil