Como lidar com um mundo tecnológico em rápida transformação, no qual a informação é cada vez mais abundante e as expectativas cada vez mais altas?
Lamentavelmente, não há receita; a resposta mais segura é que cada um terá que encontrar a sua.
Assim mesmo, há algo consensual. Os profissionais da comunicação empresarial não podem deixar de fazer uma coisa que jamais envelhecerá: o básico.
É muito interessante atentarmos para as entrevistas coletivas com técnicos de futebol, por exemplo. Principalmente na derrota. Porque falar do que deu certo é mais fácil, é preciso menos jogo de cintura, menos eloquência. Na derrota, não, na derrota é preciso lutar sumô. E você sabe qual é um dos objetivos do lutador de sumô em relação ao seu adversário? Tirá-lo do ringue. O ofício do jornalista esportivo (e de todo jornalista), portanto, consiste em jogar luz sobre o que está oculto, geralmente tentando fazer a fonte, o treinador, neste caso, dizer aquilo que não necessariamente jogará a seu favor.
Havia encerrado mais um desses grandes clássicos do futebol brasileiro. O time derrotado tinha jogado com os reservas e o técnico também não era o titular, mas seu auxiliar. Antes de entrar na sala da coletiva, o assessor de imprensa e o comandante interino reuniram-se para definir a resposta à mais óbvia das perguntas: o que levou o seu time a perder o jogo?
Reunião encerrada. Todos a postos. Repórteres com os braços erguidos e canetas apontadas para cima. Microfone da bancada ligado. Primeira pergunta:
— Professor, aqui. Jonas, Rádio Itumbica AM. Sabemos que em clássico não há favorito. Até por isso, na sua opinião, o que levou o seu time a perder o jogo?
O comandante sorriu. Já esperava que aquele repórter o empurrasse para perto do limite do ringue. Mas estava preparado.
— Se você disser que perdeu porque o outro time é mais forte – iniciou o assessor, minutos antes, na rápida preparação que antecedeu a entrevista – os jogadores saberão pela imprensa que você os chamou de ruins. Sua imagem ficará prejudicada, também, porque será visto como um treinador que não soube armar um time mais fraco; e isso é básico – olhou para o lado, voltou-se para baixo, onde estava sentado, pensativo, o técnico novato, e sentenciou: — essa não pode ser a resposta.
— E dizer o quê? – indagou o outro, braços repousados nos joelhos e olhos fixos no alto, no rosto do conselheiro, iluminado pela lâmpada fluorescente do vestiário – dizer o quê para a imprensa?
Na coletiva, o jovem treinador puxou a haste do microfone para si e respondeu, seguro:
— A inexperiência. Perdemos por causa de nossa inexperiência.
Experiência se adquire; a falta de técnica, de destreza, pode ser definitiva. Ao responder, o técnico não queria apenas desvencilhar-se do jornalista; nem pensava apenas nas circunstâncias da derrota.
Treinador e assessor de imprensa pensavam, sim – e aqui está o pulo do gato que quero propor – nos interlocutores mais importantes daquela entrevista e na imagem que queriam moldar na mente destes públicos. Imaginem a torcida e jogadores ouvindo de seu comandante a afirmação de que os jogadores que entraram em campo eram pernas-de-pau.
Seria uma resposta honesta?
Talvez, mas devastadora para a reputação do clube, do grupo, do treinador.
Uma resposta desanimadora para a torcida. Já a falta de experiência soava bem para todos. Verdade, o time reserva era mesmo mais novo, pensariam os torcedores.
Para os jogadores, a mensagem seria igualmente positiva — os lançaria à frente: era preciso treinar mais, trabalhar mais, capacitar-se mais.
EMPATIA
A primeira premissa da comunicação, na minha opinião é, portanto, a empatia.
De que adianta você conhecer a fundo cada mídia social, suas características e potencialidades se, antes de criar e alimentar o perfil, esquecer de perguntar a si mesmo se o cliente da sua empresa está nela? Que resultado terá um investimento numa engenhosa solução se ela não resolve nenhum problema do cliente? Sem empatia, você nada seria. É quase como a carta de São Paulo aos Coríntios, para os cristãos – ou a letra do Renato Russo, para os demais (incluindo os cristãos): ainda que tenhamos toda técnica, todo orçamento do mundo, se não tivermos empatia, tudo será como o címbalo que retine.
Amanhã o smartphone não existirá mais? Deixarão de curtir o Facebook? A nova febre virá do Oriente? Pouco importa. Arrisco dizer que o futuro nunca chega para quem não procura pensar com a cabeça de seu cliente hoje. Num diálogo, numa comunicação, enfim, mais importante sempre será o que o seu interlocutor escuta do que o que você diz.
Depois desta, há outras duas premissas.
Todas as redes sociais se alimentam do novo. Do que o amigo descobriu na viagem, da foto recém tirada na balada, do índice revelado há pouco pelo sistema financeiro.
ROTINA
Existem coisas, entretanto, mesmo nesta era da comunicação frenética, que precisam ser constantes, precisam desta segunda premissa: a rotina. Existem informações, leituras, pesquisas, checagem, planilhas, caro colega, que precisam ser incorporadas nos hábitos do comunicador empresarial. Como o cafezinho ou a ida ao banheiro. Sem ela, mês que vem você não será capaz de comparar a performance da sua equipe e nem mesmo poderá fazer uma análise de cenário. Você estará só, sem histórico, sem identidade. Lembre-se que, muito provavelmente, seu patrão (ou seu cliente) não é um jornalista, mas alguém que está preocupado com projeções mensuráveis, com resultados, com números.
DISCIPLINA
E a última premissa é a disciplina.
Sugiro que você a pratique para livrar-se da distração, outro grande mal deste nosso tempo. Um comunicador, eu sei, precisa de inspiração, precisa ouvir e ver coisas novas. Precisa de congressos, de palestras, de revistas sobre economia e sobre skate, precisa trabalhar com fones de ouvido. Precisa conferir o Facebook e o e-mail pessoal. Concordo, mas sem disciplina não chegamos a lugar algum. Há cada vez mais dispersão. Três contas de e-mail, notificações e bate-papo do Facebook chamando, e muitas notícias importantes pipocando de segundo em segundo nas listas do Twitter. Concentre-se. Menos é mais (ou demais?). A disciplina é prima do foco e sobrinha da capacidade de dizer “não”. Disciplina liberta. Disciplina é mais do que saber onde ir. É ir.
Pense, argumente, compre uma briga pelo seu interlocutor. Adquira hábitos profissionalmente saudáveis. Mantenha-se firme nas rotinas que serão importantes mês que vem. Empatia, rotina e disciplina; o meu trio básico da comunicação corporativa.
Fonte: Comunique-se