65% das indústrias têm dificuldades para encontrar trabalhador qualificado

30 de outubro de 2013

industriaA falta de trabalhador qualificado é um problema para 65% das empresas industriais brasileiras dos segmentos extrativa e de transformação. A dificuldade é maior para as de grande e médio porte, mas também atinge as pequenas. Os dados fazem parte da pesquisa Sondagem Especial – Falta de Trabalhador Qualificado na Indústria, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) na segunda-feira, 28 de outubro, em Brasília.

O estudo, no qual foram consultadas 1.761 empresas entre 1º e 11 de abril deste ano, revela situação semelhante à identificada na edição anterior da pesquisa, em 2011.

Desde então, o problema só perdeu importância para as indústrias de pequeno porte, grupo em que o percentual de entrevistados com problemas para encontrar de mão de obra qualificada caiu de 68% para 61%. Entre as de médio porte, o índice se manteve em 66%; já nas de grande porte, houve discreto aumento – de 66% para 68%. “Desde o fim de 2010, a indústria não cresce e, ainda assim, os empresários têm dificuldade para encontrar trabalhadores qualificados. À medida que a indústria voltar a crescer, o problema vai se acirrar”, afirma o gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI, Renato da Fonseca, responsável pela pesquisa.

Na análise das ocupações dentro das indústrias, a pesquisa revela que há dificuldade para encontrar profissionais qualificados para todas as áreas, desde operadores para a produção até o nível gerencial. Os empresários consultados que afirmaram que a falta de trabalhador qualificado é um problema destacam que a escassez é maior entre operadores e técnicos para a produção: 90% disseram ter problemas para encontrar operadores de produção e 80% para trabalhadores de nível técnico (veja tabela). Juntos, esses dois tipos de profissionais respondem por cerca de 70% dos contratados na indústria.

Falta de trabalhador qualificado por área

— Operadores para a produção – 90%
— Técnicos para a produção – 80%
— Administrativa – 68%
— Vendas/marketing – 67%
— Engenheiros para a produção – 61%
— Gerencial – 60%
— Pesquisa e desenvolvimento – 59%

Ainda de acordo com os empresários entrevistados, a falta de trabalhador prejudica principalmente a busca pela eficiência e a redução de desperdícios. O aspecto foi referido por 74% dos entrevistados em que a falta de trabalhador qualificado é um problema, seguido por garantia de melhoria da qualidade dos produtos fabricados (61%) e expansão da produção (39%).

A principal saída encontrada para isso tem sido a capacitação dentro das empresas, com atividades desenhadas especificamente para atender à própria realidade, o que é adotado por 81% dos entrevistados em que a falta de trabalhador qualificado é um problema. Quarenta e três por cento fortalecem a política de retenção do trabalhador (com salários e benefícios) e 38% realizam capacitações fora das empresas. A estratégia de investir em automação aparece em quinto lugar na lista e é adotada por 24% das empresas (26% entre as de pequeno porte, 24% entre as médias e 21% entre as grandes).

A baixa qualidade da educação básica é referida por 49% dos empresários que lidam com a falta de trabalhador qualificado como o principal obstáculo para investir na qualificação. Quarenta e três por cento afirmam que existe pouco interesse dos trabalhadores e quarenta e dois por cento dizem que, ao investir em qualificação, a empresa perde o trabalhador para o mercado.

Outros estudos realizados pela CNI buscam detalhar as razões da falta trabalhador qualificado. De acordo com o diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Rafael Lucchesi, a questão está ligada a uma série de fatores que vão desde o nível de escolaridade, a educação voltada para o trabalho até o aspecto comportamental no ambiente laboral.

“A preparação para o trabalho é mais complexa do que simplesmente anos de estudo. Na indústria, são necessários conhecimentos específicos, além de habilidades comportamentais e de comunicação que acabam por afetar o desempenho e a produtividade dos trabalhadores”, ressalta Lucchesi.

Entre as hipóteses, está a de que conhecimentos e habilidades obtidas pelos trabalhadores na educação formal não atendem ao que os empregadores desejam. “Nos últimos anos, vimos que o percentual de trabalhadores da indústria com, pelo menos, o ensino médio completo aumentou, mas não detectamos diferenças na percepção da qualidade da mão de obra pelos empregadores”, destaca. Entre 2007 e 2012, o percentual de trabalhadores da indústria com ensino médio completo passou de 43,1% para 53,4%.

Outra possibilidade é a de que a carência de mão de obra qualificada decorra da falta de formação básica geral. Conscientes da necessidade de qualificar os trabalhadores para as tarefas da própria empresa, os empregadores oferecem esse tipo de treinamento, mas a baixa qualidade da educação básica impediria que as competências específicas se desenvolvessem.

Diante disso – afirma o diretor-geral do SENAI – o desafio está em repensar a qualidade da educação formal oferecida hoje e o quanto ela colabora para melhorar a empregabilidade dos trabalhadores. “Se o quadro atual não mudar, a falta de qualidade do trabalhador vai se tornar um entrave para o crescimento do país”.

Fonte: Tribuna da Bahia – Economia