Mercado automotivo atinge limite de vendas

13 de fevereiro de 2014

A preocupação da indústria local agora gira em torno do crescimento sustentável dos emplacamentos, que tendem à estabilidade…

Mercado brasileiro atinge limite de vendasApós comemorar por uma década crescimentos contínuos e expressivos, o mercado automotivo brasileiro atingiu uma certa “ressaca”. Agora, a preocupação é encontrar maneiras de crescer de forma sustentável e manter sua bilionária estrutura – estão previstos para os próximos cinco anos investimentos da ordem de R$ 70 bilhões – sem oscilações indesejáveis.

“As vendas devem crescer em uma velocidade menor nos próximos anos. O mercado precisa evoluir de maneira natural”, afirmou ao DCI Gerardo San Román, presidente da Jato Dynamics, consultoria global especializada no setor automotivo.

Ele explica que os incentivos concedidos nos últimos anos, como a redução do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI), foram importantes para adiantar as vendas. No entanto, este cenário não deve persistir. “Quem já comprou carro não deve comprar novamente tão cedo”, destaca San Román.

Em 2013, pela primeira vez em dez anos, as vendas de veículos apresentaram queda no Brasil, para 3,76 milhões de unidades, volume 0,9% menor do que o registrado em 2012, de acordo com dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

“A economia brasileira cresceu muito no período, o poder aquisitivo aumentou e o acesso ao crédito também, fatores que impulsionaram as vendas domésticas”, diz San Román. Neste cenário, as montadoras investiram pesado em aumento de capacidade para atender ao anseio dos brasileiros por veículos novos. Porém, no ano passado, a inadimplência atingiu níveis altos, o que levou a uma redução do fluxo de empréstimos no mercado nacional.

“Chegamos ao topo do endividamento. Com a explosão do consumo, os bancos não conseguem suprir a demanda e estão endurecendo a concessão de crédito”, destaca o consultor. O impacto imediato do esgotamento deste modelo de consumo foi a queda observada no setor automobilístico. “As vendas foram praticamente ‘forçadas’ com a ampla oferta de crédito e incentivos”, diz San Román.

O consultor ressalta ainda que a concorrência irá crescer muito nos próximos anos, o que obrigará as montadoras a repensarem a forma como atuam no mercado.

Cada empresa possui uma estratégia, como por exemplo concentrar esforços nas chamadas vendas diretas (frotistas). Estimativas de mercado dão conta de que cerca de 40% dos emplacamentos das quatro grandes montadoras do País são para frotistas. Para se ter uma ideia, há cerca de dois anos, 90% das vendas do modelo Parati, da Volkswagen, eram diretas. A montadora afirma, no entanto, que não desmembra esse tipo de informação.

De acordo com o vice-presidente da Ford para Brasil e América do Sul, Rogélio Golfarb, as vendas diretas devem puxar o crescimento da indústria nos próximos anos, porém, este não é o cenário previsto para a montadora. “Em 2014, as vendas da Ford aos frotistas devem se manter estáveis, considerando nossos competidores, que atuam bem mais nesta modalidade”, ressalta Golfarb.

Segundo San Román, outra maneira de alavancar de forma natural as vendas no País seria destravar o leasing (modalidade em que há opção de compra ao final do aluguel do veículo). “Os EUA têm um mercado enorme para veículos apoiado basicamente no leasing”, diz o consultor. Ele explica que um importante item a ser considerado quando se fala em automóveis é a depreciação. “No País, a renovação da frota não ocorre de forma mais acelerada porque o brasileiro ainda tem o carro como um bem muito precioso, o que dificulta vendê-lo pelo preço que realmente vale”, destaca San Román.

Inclusive, um dos pleitos da Anfavea junto ao governo para alavancar as vendas é o destravamento do leasing, que em 2008 representava cerca de 35% dos emplacamentos totais de veículos no Brasil. Em meados de 2012, este índice caiu para apenas 2%. San Román ressalta que o mercado brasileiro, apesar de todos os gargalos, continua sendo fértil para as montadoras. “Os custos ainda compensam, mas não sabemos até quando seremos competitivos”, diz.

Fonte: DCI –  Diário Comércio Indústria & Serviços