Na China, existe um provérbio que explica a vida e morte dos negócios de família: “Pai rico, filho nobre e neto pobre”. Quer dizer, o fundador de uma empresa tem o espírito batalhador e empreendedor que o faz ter sucesso e riquezas; o filho, com a mordomia de já ter um ganha-pão, não tem a mesma visão do pai e deixa escapar por entre os dedos o que seu antecessor moldou com as mãos. No final, o neto volta para a estaca zero, tendo de fazer todo o caminho novamente.
No Brasil, a revista Exame fez um levantamento preocupante; de cada três empresas familiares hoje existentes, duas não chegarão até a próxima geração. Essa estatística atinge em cheio os planos da maioria dos dekasseguis. Afinal, qualquer pai ou mãe se preocupa ao perceber que, mesmo se sacrificando em uma fábrica japonesa, não está garantindo o futuro dos filhos. Porém, muitos desses negócios podem ter uma grande longevidade. É uma questão de planejar a função de cada membro da empresa e como se dará a sucessão. A maioria das falências não acontece devido à concorrência, mas aos desentendimentos nos rumos da firma, que emperram seu sucesso.
Gambare! conversou com Rogério Yuji Tsukamoto, coordenador da Gestare, uma consultoria especializada em empresas familiares. Ele deu seis dicas essênciais de como fazer seu empreendimento ter uma vida longa, para o bem de toda a família. Também deixa um recado para quem ainda não pensa em montar um negócio, mas, como está juntando um pé-de-meia no Japão, pode até empreender algo. “A vida de dekassegui é ótima para quem estava acostumado a ter tudo na mão. Nada melhor para preparar um bom herdeiro do que deixá-lo trabalhar bastante e até sofrer com broncas de chefe, para saber ser humilde.”
Prepare seu herdeiro
Deve-se preparar os filhos desde cedo para trabalhar na empresa ou ser uma espécie de acionista, que tem participação nos lucros, mas não decide os rumos da empresa
Acordo entre os sucessores
É necessário firmar um acordo para definir regras como a entrada de sucessores e o de pessoas de fora da família no negócio, por exemplo
Crie um código de ética
Com uma série de procedimentos para cada tipo de situação que a empresa possa enfrentar, é possível evitar discussões que podem levar à falência. Por exemplo, a não concorrência dos herdeiros com o negócio principal (montando outra firma na mesma área de atuação) e a exigência dos membros da empresa se casarem com separação total de bens
Faça testamento
Sem ele, o negócio pode se desmembrar demais entre todos os herdeiros, incluindo até quem não se interessa pela sua administração
Divida os bens
Se tiver mais de um imóvel ou empresa, é necessário fazer algo como cotas ou ações para todos os bens e dividi-los de forma igual. Isso evita brigas na hora de distribuí-los
Sucessão
Muita gente não se dá conta, mas preparar a pessoa que vai passar o bastão do negócio também é importante. Especialmente no caso do fundador, esse momento é dos mais difíceis. Cabe aos sucessores ajudá-lo a descobrir novas motivações e atividades.
Todo fundador deveria
Saber quando e como começar a formação de seus herdeiros e sucessores
Estimular o filho a trabalhar primeiro fora da empresa da família, para aprender o que é ter chefe, disciplina, humildade e orgulho próprio
Evitar colocar os herdeiros como assessores ou assistentes – Lembrar que “embaixo de árvore muito frondosa não cresce planta forte”
Recordar-se de que a empresa familiar é caracterizada pelo vínculo permanente entre os seus membros
Todo herdeiro deveria
Compreender os diferentes objetivos e as necessidades de cada geração
Entender o crescente papel das mulheres nas empresas familiares
Conhecer a importância de criar novos desafios para a geração que se afasta
Preservar o espírito empreendedor da família
Fazer o patrimônio da família crescer, geração após geração.
Fonte: Revista Exame