Mães que abriram negócio em home office são 76%, afirmam autoras do “Minha mãe é um negócio”

7 de março de 2014

GoHome entrevistou com exclusividade as jornalistas e autoras do livro Minha mãe é um negócio (Editora Saraiva), Patricia Travassos e Ana Claudia Konichi. Elas são idealizadoras da série de TV Mãe S/A e entrevistaram mais de duzentas mães empreendedoras para saber quais são suas motivações, desafios e objetivos.

Patricia travassos e Ana Claudia Conichi

Confira agora:

– Em pesquisa realizada por vocês (e citada em uma matéria no UOL) foi detectado que 58% das mães que iniciaram um negócio próprio após a maternidade o fizeram em um home office. Vocês acreditam que o home office é uma das alternativas mais viáveis para uma mãe empreendedora?

O dado correto é que 58% das mães empreendedoras atualmente trabalham em home office. O número de mães que abriram o negócio em home office é ainda maior – 76% – uma vez que algumas depois “migraram” a empresa para um espaço fora de casa.
O home office é uma ótima alternativa para uma mãe empreendedora, já que permite que a mulher esteja próxima do filho e tenha uma carreira, ainda que não no modelo “tradicional”, num escritório, com horário para entrar e sair.
Mas é preciso tomar alguns cuidados para que o home office não atrapalhe o andamento do négocio: é importante determinar um cômodo para ser a sede da empresa: é lá que você irá se concentrar e se organizar. Com o tempo, a ideia é que esse espaço seja respeitado e identificado pelas crianças como o local de trabalho da mãe. Outro alerta é que você precisa ter disciplina e se preparar como se fosse sair para o trabalho: nada de acordar e tocar a empresa de pijama, por exemplo.


– Hoje, da Geração Y em diante, o sucesso não é algo tão ligado à carreira e sim à qualidade de vida a satisfação. Pela pesquisa que realizaram, poderiam dizer que este fenômeno tem relação com as novas gerações de mães?

De certa forma, sim. Na época das nossas mães – que nasceram nos anos 40, 50 – as mulheres ainda “lutavam” por um espaço no mercado de trabalho. E quando tinham filhos, muita vezes, abdicavam da carreira para ficar com as crianças em casa.
Entretanto, o panorama de hoje é diferente: as mulheres já conquistaram o mercado de trabalho e não querem ou não podem abrir mão da vida profissional. Além da autoestima relacionada ao desempenho profissional, a maioria das famílias não pode abrir mão da renda da mulher no orçamento doméstico. Neste sentido, o empreendedorismo surge como uma alternativa para essa mulher que deseja ter uma carreira, mas não aceita terceirizar a maternidade. É neste cenário que surge esse novo significado de sucesso: para uma mãe empreendedora, o sucesso não é diretamente proporcional ao faturamento da empresa. Para elas, o sucesso está relacionado à qualidade de vida, não apenas à renda gerada pelo negócio. Um exemplo é que na pesquisa que realizamos, 36% das mães disseram que ganham menos do que antes, mas 75% delas afirmaram que estão mais realizadas profissionalmente.
É importante lembrar que, no livro, temos diversas mães que, apesar de não pertencerem à geração Y, também têm a qualidade de vida como um fator determinante para alcançar o sucesso.

– A culpa é tema frequente nas pautas sobre carreira e maternidade. Como analisam este fator entre as mães empreendedoras?

A culpa foi tema recorrente em praticamente todas as entrevistas para o livro e para a pesquisa. É um assunto citado até por mulheres que ainda não são mães, mas já pensam no sofrimento que enfrentarão quando tiverem filhos. Na pesquisa, as mães revelaram que com o empreendedorismo materno, a culpa diminuiu – 45% – ou acabou – 24%.
A nossa percepção é que ela também tem muito a ver com a autoestima da mãe. Se a mulher está bem consigo mesma, se a família está bem, se o negócio vai bem, a culpa diminui. Entretanto, se algo está errado em alguma dessas variáveis, a culpa tende a aumentar.

– Qual foi a principal motivação das mães para iniciar o próprio negócio?

A maternidade foi o que levou 67% das mães que atualmente são empresárias a abrir o próprio negócio. Para 59% das mães, a maternidade trouxe a vontade de mudar de carreira.

– Poderiam citar os principais segmentos de atuação desses negócios?

53,5% dos negócios estão no setor de Serviços, 43% no Comércio e 3,5% na Indústria.

– Na opinião de vocês, a que se deve este fenômeno das mães empreendedoras? As empresas não estão prontas para as mães?

O que percebemos diante dos relatos das mães é que as empresas ainda estão se adaptando.
Algumas empresas já implantam programas como home office, jornada parcial de trabalho com redução salarial ou horário flexível depois do retorno da licença-maternidade. Mas isso ainda não é muito significativo.

É muito bacana, por exemplo, que uma empresa tenha um berçário onde a criança possa ficar o dia todo e ser amamentada algumas vezes durante o expediente. Mas a Adriana Moraes, uma das nossas entrevistadas no livro, que é arquiteta e se tornou confeiteira, conta que quando a filha completou dez meses, não podia mais levá-la para a empresa. Conclusão: para ela, o berçário apenas adiou o sofrimento pós licença-maternidade. A partir do dia em que começou a deixar a filha na creche às 7h da manhã e buscá-la às 19h, Adriana percebeu que “havia algo errado”. E, depois de um tempo, resolveu deixar o emprego para investir num negócio próprio que lhe desse mais flexibilidade e autonomia.

A maioria das empresas costuma “torcer o nariz” para uma funcionária que ficou grávida. O que elas não perceberam, entretanto, é que a mulher desenvolve diversas habilidades com a maternidade. Alguns exemplos são:
– capacidade de liderança (ela se torna um exemplo a ser seguido, seja nas ações, seja no palavreado)

– capacidade de motivação (o tempo inteiro ela incentiva a criança a fazer algo – comer verduras, por exemplo). A persuasão pode ser muito útil no ambiente profissional também.

– capacidade de reconhecer talentos (com a convivência diária, a mãe aprende a identificar quais as habilidades do filho e como elas podem ser melhor aproveitadas – ele pode ser um bom músico, um bom esportista ou um bom cientista). Numa equipe, ela saberá delegar tarefas de acordo com as características de cada um.

– capacidade de compreensão e empatia (com o tempo, a mãe identifica, por exemplo, se o choro da criança é de fome ou de manha). Se ela entende um bebê que não fala, imagina a facilidade para perceber a insatisfação de um funcionário ou de um cliente.


– E uma curiosidade: vocês, como jornalistas, já trabalharam em casa? O que acharam?

Atualmente, ambas trabalhamos em casa. Nós ainda não somos mães, mas a liberdade dada pelo home office tem sido incrível para nós duas. Porém, muitas vezes, sentimos falta de ter uma companhia, alguém para conversar, ter uma segunda opinião. Por isso, eventualmente nos reunimos e trabalhamos juntas na mesma casa.
Para as mães empreendedoras, esse encontro presencial é mais díficil. A solução que encontraram foi se conectar em redes. Muitas mães se relacionam online e trocam suas experiências profissionais e pessoais pela internet.

Fonte: Go Home