Marcas internacionais de moda têm prejuízo no Brasil

14 de março de 2014

mercado-de-luxo_internaA grife americana Gant suspendeu suas atividades no Brasil ao fechar seus três pontos de venda, entre eles a ‘loja-conceito’ nos Jardins, luxuoso bairro de São Paulo, informaram fontes do setor nesta quinta-feira, aumentando a lista de marcas internacionais que desistem do país, que inclui ainda a Ralph Lauren e, em parte, a Tommy Hilfiger.

Quando a Gant, uma das mais emblemáticas casas americanas de moda ‘casual sport’, chegou ao Brasil, em 2008, desembarcou com a inauguração de três lojas em menos de um ano em endereços exclusivos de São Paulo e de Curitiba.

Em 2010, a marca planejava, como afirmou à época o presidente da Gant no Brasil, Luiz Mendes, ‘abrir mais 20 lojas a partir de 2013 e estar presente em mais de 200 pontos de venda em todo o país’.

Não foi o que aconteceu. Ainda no terceiro mês de 2013, a Gant fechou suas três lojas no Brasil, duas em São Paulo e uma em Curitiba.

Em comunicado, a assessoria da marca informou que ‘a empresa Gant está revendo sua estratégia operacional no Brasil, e por enquanto não podia fornecer mais detalhes sobre o assunto’.

A história da marca é uma verdadeira Torre de Babel: a companhia foi criada em 1949 em New Haven (Connecticut), nos Estados Unidos, por um ucraniano, vendida depois para um grupo sueco e, em 2008, comprada pelo grupo suíço Maus Fréres, também proprietário da francesa Lacoste.

No Brasil, além disso, 50% da marca pertenciam ao grupo suíço e, os outros 50%, ao grupo têxtil português Ricon, que tem o direito de comercializar a marca no país e fabrica 60% das roupas da marca.

Assim como todo o setor de luxo, a Gant enfrenta os elevados custos ao consumidor final por conta das altas taxas de importação de roupas no país. O tíquete médio (valor médio das vendas) da Gant-Brasil é de R$ 860.

Além dos muitos impostos, no Brasil as marcas enfrentam outros desafios de logística e administração, como a morosidade na burocracia e os problemas nos trâmites alfandegários, que atrasam a chegada das coleções aos pontos de venda.

Além disso, para posicionar seu produto as marcas pagam quantias astronômicas pelo aluguel de espaços nos pontos mais luxuosos de São Paulo.

Ainda assim, o mercado do luxo prevê em 2014 um crescimento de entre 10% e 15%, tanto em produtos importados como em nacionais.

Segundo dados da Associação Brasileira do Comércio do Varejo Têxtil (ABVTEX), os impostos que incidem sobre as roupas importadas representam mais de 50% do valor da mercadoria.

Os impostos sobre importação, no entanto, são de 35%, aos quais é preciso somar outros impostos obrigatórios, o que faz com que a roupa da Gant e de outras bandeiras estrangeiras sejam vendidas no Brasil a um preço 120% mais alto que nas lojas dos Estados Unidos e Europa.

Potenciais consumidores da marca no país, os brasileiros preferem comprar as peças a preços muitos mais acessíveis em qualquer viagem ao exterior.

Dados da ABVTEX indicam que as importações do comércio no varejo de roupa no Brasil somam R$ 1,7 trilhões ao ano. Em contraste, os consumidores brasileiros gastam cerca de R$ 4 bilhões em roupas ao ano quando viajam para o exterior, gasto que representa entre 30% e 40% da despesa dos brasileiros fora do país.

Por enquanto, a Ralph Lauren, concorrência direta da Gant, não parece pensar em voltar ao país, depois de fechar todas as suas lojas em terras brasileiras em 2002.

Não foram as únicas. A Tommy Hilfiger, que tem o mesmo público, fechou em 2013 sua loja-conceito em São Paulo, embora mantenha outras abertas na cidade e em outras capitais, como o Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília.

Fontes do setor acreditam que a situação não vá mudar no curto prazo devido às complexidades logísticas do mercado e às medidas protecionistas do governo, em um cenário cambial desfavorável para o real.

Fonte: Agência EFE