Todo empresário avalia que o desafio é fazer com que o negócio cresça. Hoje, porém, com o mercado inundado por novas firmas, apenas mantê-la competitiva e evitar a falência já é difícil. Ainda mais quando a empresa é familiar. No País, 200 mil companhias são abertas anualmente. E 83% dos empresários buscaram recursos do próprio bolso – ou de parentes – para isso. A conclusão é do monitoramento de 12 anos do Sebrae.
A entidade também diz que a cada 10 firmas abertas no Estado de São Paulo, três não duram nem um ano. Uma estratégia considerada essencial hoje para evitar a mortalidade é o planejamento. Não só financeiro e de gestão. Empreendimentos familiares devem se preocupar sobre quem será o futuro responsável pelos negócios.
O peso da empresa familiar
Em 2005, uma pequena parcela não recorreu a bancos para pedir socorro financeiro: 5% dos proprietários de MPEs pediram dinheiro a parentes e amigos para quitar os débitos. O consultor do Sebrae Pedro João Gonçalves reforça que os números seguem estáveis até hoje.
Os resultados mostram que manter espírito empreendedor nas empresas de famíliaé essencial para evitar que o sonho da prosperidade desabe com o passar do trono. “Falar sobre sucessão é difícil porque é o mesmo que falar da finitude humana; a morte de uma pessoa amada”, explica Josenice Blumenthal, diretora da Mesa Corporate Governance, empresa que trabalha fazendo planejamento familiar de negócios.
Josenice conta que 80% das empresas familiares no mundo não passam da segunda para a terceira geração. Do volume, de 10% a 15% sobrevivem na próxima transição. Mas ela afirma que isso está começando a mudar.
“Há muito pouco tempo, empresas familiares começaram a se dar conta da preparação dos sucessores para o momento de o herdeiro assumir seu lugar na empresa, para ser preparado como executivo de mercado. Isso é fundamental para a firma não morrer.”
Estilos
O analista do escritório regional do Sebrae no Grande ABC José Roberto Rodriguez Silva aponta ainda outro obstáculo para a continuação do império familiar: a diferença no estilo de condução dos parentes.
“O filho é mais inovador e a visão do pai é mais conservadora. Isso gera conflito dentro da empresa que prejudica o negócio como um todo”, alerta. No geral, tais firmas são sustentadas pela paixão.
A solução é saber se os primogênitos têm capacidade e mesmo vontade de experimentar a batuta do empreendimento. Caso contrário, o projeto não vinga.
Preparando Herdeiros
Existe até curso para a formação familiar. O objetivo é que os novos comandantes saibam se relacionar com os acionistas, a fim de gerir os lucros e realizar um plano de desenvolvimento. “Caso o herdeiro não seja apto ao cargo, que se possa ter consenso para buscar o sucessor no mercado”, afirma Josenice. Para isso, é necessário adotar postura profissional, pois não adianta a família “ter filho preferido”, se não tiver capacidade.
“Se esse sucessor não for capaz, não trará resultado para a empresa, não terá lucratividade e nem competitividade no mercado e vai acabar morrendo”, afirma a diretora.
Claro, não basta boa preparação. Silva diz que, com a concorrência do número elevado de novas empresas atuantes o mercado, não dá mais para aceitar “gestões amadoras”.
Após 27 anos, empresário encaminha firma para o filho
O proprietário de uma moveleira de São Bernardo Manoel Rodrigues faz parte dos 39% de empreendedores que trabalham nas MPEs (Micro e Pequenas Empresas) paulistas e que são sócios-proprietários. O estabelecimento, existente há 27 anos, surgiu com a chefia do irmão, que dividiu o poder com mais dois sócios, um deles seu cunhado.
Hoje, João Marcos, o filho, já gerencia alguns setores da empresa. Segundo Rodrigues, a tendência é que ele irá, no futuro assumir as rédeas do empreendimento.
Mas, com o tempo, os administradores enfrentaram problemas. Há sete anos, o irmão decidiu abandonar o cargo e migrar o negócio para outro nicho, foi quando a firma poderia ter encerrado os trabalhos. “A relação de negócio familiar é complicada. O dinheiro de duas décadas estava se perdendo. Tudo o que imaginava que daria certo, deu errado.”
Ele conta que vendia muito, mas não produzia no mesmo ritmo. Ter muita gente reclamando foi o que o motivou a “acordar”. As dificuldades só não se avolumaram devido à iniciativa de Rodrigues, que ficou sozinho no comando. Foi necessário repensar o negócio.
A família no processo decisório
A tomada de decisão familiar tem tanto peso que o Sebrae destaca que, em 2010, quase 60% dos empresários de MPEs consultaram parentes e amigos como fontes de informação. No mesmo ano do balanço, Rodrigues e o filho decidiram dedicar 20% do orçamento total para TI (Tecnologia da Informação). “O dinheiro que melhor investi foi nisso. Temos forma de produzir sob medida com software customizado, que faz leitura do desenho e já o transforma para a produção.”
Mas isso não foi o suficiente. Ele fechou alguns braços que a empresa tinha na Capital, se valeu da publicidade boca a boca e aproveitou todo o conhecimento para inovar nos produtos. Ainda cortou preços para competir por igual com as demais lojas da região.
“Eu tinha de manter a qualidade, porém, no preço nós exorbitávamos. Tivemos que melhorar nossa produção e abaixar o preço para sermos competitivos.” Os lucros não retornaram ainda, mas ele afirma que a oxigenação no planejamento permitiu ao negócio mais fôlego para se manter vivo.
Rodrigues calcula que a firma tenha 40 funcionários, entre transporte, produção, atendimento. Há, por sua vez, apenas quatro – incluindo ele e João Marcos – na administração (os demais ajudam ambos).
A dica do empresário para quem precisar superar barreiras no negócio familar, são novos investimentos. Só assim é possível conquistar o pote de ouro no futuro, como ele faz agora. “Tem que estar sempre com projeto inovador para sua empresa. Eu vibro com minha história.”
Fonte: Empreendedor Online