Copa de torcedores sedentários prejudica vendas de varejo

19 de maio de 2014

Copa do Mundo: a maior economia da América Latina perdeu a oportunidade de usar a Copa do Mundo para alimentar o crescimento no longo prazo

Copa do Mundo: menino vestido com camiseta do Neymar equilibra bola na cabeça durante "pelada" em Porto AlegreMais de dois terços dos shoppings esperam uma queda “significativa” no movimento durante a Copa do Mundo no próximo mês, pois os torcedores ficarão colados à TV e os shoppings reduzirão o horário de funcionamento devido aos feriados públicos, de acordo com uma pesquisa do Ibope publicada em 13 de maio.

O Banco Santander SA disse que uma queda no número de viajantes a negócios reduzirá as vendas das companhias aéreas como a Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA. Hotéis e restaurantes também estão se preparando para uma desaceleração.

Menos de um mês antes do início dos jogos, o campeonato internacional de futebol não está dando à lenta economia do Brasil o empurrão que defensores como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da fazenda Guido Mantega esperavam.

A maior economia da América Latina perdeu a oportunidade de usar a Copa do Mundo para alimentar o crescimento no longo prazo por não levar adiante os projetos planejados para modernizar a infraestrutura e a atividade econômica não deve ganhar um impulso no curto prazo, disse William Nóbrega, sócio-gerente do The Conrad Group, empresa de assessoria de investimento para private-equity.

“Poderia ter havido um impacto positivo não apenas no curto prazo, mas também no crescimento econômico no longo prazo, e isso não aconteceu”, disse Nóbrega pelo telefone, de São Paulo. A Copa do Mundo, “na melhor das hipóteses”, terá um impacto neutro no PIB.

Crescimento de 2 por cento

O campeonato chega em um momento em que o Brasil está caminhando para o quarto ano consecutivo com um crescimento do PIB abaixo de 2 por cento.

A perspectiva de que as cidades-sede concedam mais dias livres pode prejudicar ainda mais a economia, disse o Santander em um relatório do dia 9 de maio.

“Possíveis feriados durante os jogos prejudicam a produtividade nas empresas que não contarão com o mesmo número de horas trabalhadas” disse Bárbara Mattos, analista da Moody’s Investors Service, em e-mail.

A UM Investimentos, corretora no Rio de Janeiro, é uma dessas empresas.

“Nos dias de jogo o volume é menor,” disse o CEO Marcos Maluf, acrescentando que as operações voltam ao normal no dia seguinte aos jogos.

Mudança de rotas

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) espera que as empresas modifiquem as rotas antes dos jogos para se adaptarem à demanda inferior à estimada.

Até o dia 1º de maio, as companhias aéreas tinham vendido apenas 21 por cento dos lugares nos voos de junho que partem ou que chegam às 12 cidades-sede, disse ontem a Anac em resposta por e-mail a perguntas.

O Santander estima que a renda da Gol durante o evento, que dura um mês, sofrerá uma redução de aproximadamente 13 por cento, pois um aumento na quantidade dos turistas não será suficiente para compensar uma queda de 70 por cento nas viagens de negócios.

O impacto negativo na rival de maior porte, a Latam Airlines Group SA, corresponderá à metade do da Gol, pois o Brasil representa 50 por cento da capacidade de transporte da empresa, escreveram os analistas do banco.

“Como os clientes corporativos pagam tarifas muito mais altas, mesmo com o aumento esperado nas tarifas por lazer o impacto geral nos preços deve ser negativo”, disseram os analistas. “Esperamos um impacto negativo tanto no volume quanto nos preços”.

Por outro lado, a Copa do mundo está sendo uma dádiva financeira para alguns brasileiros. O corretor de imóveis Norbert Hartmer disse que está alugando apartamentos de luxo nos melhores bairros do Rio a bilionários da Ásia por até US$ 180.000 pelo mês.

Estimativas do governo

O governo brasileiro espera que o evento mobilize 3,7 milhões de turistas locais e estrangeiros, gerando R$ 6,7 bilhões em gastos relacionados ao campeonato, de acordo com uma declaração do dia 13 de maio da Secom.

Algumas cidades-sede, como o Rio, onde a final será disputada no dia 13 de julho, declararam feriados públicos nos dias dos jogos para tentar aliviar os engarrafamentos.

“Os níveis de produtividade para o Brasil durante todo o mês dos jogos vão simplesmente despencar, por causa dos feriados consecutivos”, disse Nóbrega da The Conrad Group. “Mesmo sem os feriados oficiais muitas pessoas não irão trabalhar”.

Fonte: Exame