O jovem Marcos Ariel Santos Cerqueira (foto), de 17 anos, estudante da 7ª e 8ª séries na Escola Municipal Professora Edivanda Maria Teixeira, em Vitória da Conquista, jamais havia entrado numa sala de cinema. A primeira sessão de Xareu, seu nome indígena, foi proporcionada pelo projeto “O que se aprende com o Cinema: saberes e fazeres na relação cinema-educação”, uma iniciativa do Programa Janela Indiscreta Cine Vídeo Uesb, com o filme “Pro dia nascer feliz”, exibido na noite dessa terça, 12, no Teatro Glauber Rocha.
“Xareu é um peixe de água salgada”, explica o índio da tribo Tupinambá, oriundo da região de Coroa Vermelha, no extremo sul da Bahia. Sua definição sobre a experiência de participar pela primeira vez de uma sessão de cinema demonstra que Xareu não é exatamente um peixe fora d’água por aqui: “Acho bom, é importante a gente assistir a um filme, porque o filme traz começo, meio e fim de uma história, que pode ser romântica, pode ser qualquer história. É importante porque a gente está aqui lendo uma história visualmente”.
O projeto “O que se aprende com o Cinema” surgiu em 2008. Interrompido em algumas ocasiões por falta de financiamento, chega a sua sétima edição. A produtora do Janela Indiscreta, Raíssa Fernandes Coelho, explica que a exibição de filmes nesta semana dedicada aos estudantes é o atendimento a uma demanda antiga das escolas municipais de Vitória da Conquista, onde há muitos “Xareus”, privados do contato com a linguagem cinematográfica, seja por falta de condições financeiras ou de incentivo. “O projeto proporciona a conciliação entre a sala de aula e o Cinema, ou seja, tem exatamente esse enfoque de promover o diálogo entre o Cinema e a Educação”, pontua.
Nesse sentido, o filme assistido por Xareu, “Pro dia nascer feliz”, um documentário dirigido pelo cineasta João Jardim, é, literalmente, uma metalinguagem em relação à proposta do projeto, pois aborda o sistema educacional brasileiro do ponto de vista do aluno, seus sonhos e anseios, muitas vezes movidos pela expectativa da família, outras vezes desconstruídos por essa mesma expectativa ou pelos diversos problemas estruturais e pedagógicos enfrentados pelas escolas públicas em diferentes regiões do país. Novamente, a definição de Xareu aponta que o objetivo do projeto foi outra vez alcançado quando os 60 alunos da Escola Municipal adentraram o Teatro Glauber Rocha: “Assistindo ao filme, a gente não só vê ele, como aprende a interpretar, aprende que de um filme a gente pode saber muitas coisas, muitas histórias”.
As exibições, que começaram na segunda, 11, dia do estudante, seguem até esta quinta, 14, quando são aguardados 200 alunos da Escola Bem-Querer, no Teatro Glauber Rocha, às 14 horas. Para obter outras informações, entre em contato com o Janela Indiscreta: (77) 3425-9330.
Fonte: Uesb