Brasileiros de todas as faixas etárias poupam cada vez menos

14 de agosto de 2014

Compras por impulso, crediários e displicência são principais desafios da educação financeira. As melhores práticas estão entre as pessoas que já passaram dos 55 anos.

compras2
Foto: Google

Os brasileiros se dizem bem informados quando o assunto é finanças, mas, na prática, ainda sentem dificuldades em guardar dinheiro e se planejar para o futuro. Essa condição é mais expressiva entre os jovens, que priorizam o imediatismo, preferem as marcas que os amigos usam e estão mais suscetíveis às compras impulsivas e aos parcelamentos, como mostra o Indicador de Educação Financeira 2014 feito pelo Serasa Consumidor em parceria com o Ibope Inteligência.

A dificuldade em administrar o dinheiro é verificada também no restante da população. Na pesquisa, metade das pessoas alcançou nota entre zero e seis, numa escala de zero a 10, e somente 3% somaram mais de oito pontos em educação financeira. A faixa etária com a melhor média de notas, 6,2, é a de mais de 55 anos, enquanto quem tem entre 16 e 24 anos atingiu no máximo 5,5 pontos. Os resultados indicam que a experiência de vida se reflete na forma como as pessoas lidam com o dinheiro.

As dificuldades da educação financeira para os brasileiros têm origem em diferentes fatores, que mudam de acordo com a faixa etária analisada. Entre os mais novos, o assunto é deixado em segundo plano. Já os mais maduros esbarram em questões como inflação e falta de segurança no emprego. “Enquanto as pessoas em geral enxergam o tema com certo conservadorismo, a camada jovem se mostra displicente, contando com que no futuro tudo vá se resolver. Estamos tentando alertá-los de que não é assim. É necessário se preocupar com isso independentemente de já ter renda ou de morar com a família. Saber lidar com dinheiro e produtos financeiros é indispensável”, comenta Tomás Carmona, Gerente de Relações Institucionais da Serasa Experian, em entrevista ao Mundo do Marketing.

Gastar menos do que ganha é o começo

Para cultivar a saúde financeira, continua valendo a regra de ouro: gastar menos do que se ganha. Embora básica, essa ideia está perdendo espaço no cotidiano e a poupança, que era tradicionalmente o primeiro produto adquirido pelos clientes de bancos para economizar, está perdendo adesão em todas as camadas sociais.

Entre os clientes que ganham mais de 10 salários mínimos, houve uma queda de 19 pontos percentuais na adesão em relação a 2013. Já na faixa de renda entre cinco e 10 salários, a diferença foi de 14 pontos, e para os que ganham até um salário mínimo a diferença foi de um ponto percentual. “Não basta ter conhecimento de educação financeira, é necessário se comportar seguindo esse nível de conhecimento. As pessoas dizem saber, mas, na hora de agir, seguem no sentido contrário, gastando mais do que ganham e não fazendo economias”, diz Tomás Carmona.

O impacto gerado pela falta de poupança serve de alerta, pois significa que as pessoas podem não estar preparadas para emergências ou mesmo para a realização de planos que demandem maior preparo financeiro, como a compra de uma casa ou de um carro. “Para gastos maiores é comum recorrer a financiamentos para adquirir esses bens, mas, mesmo assim, quando se tem uma reserva para dar uma boa entrada, ficam muito melhores as condições de negociação. A poupança é um dos produtos financeiros mais simples e as pessoas a estão utilizando cada vez menos sem migrar para outros serviços”, avalia o Gerente de Relações Institucionais da Serasa Experian.

Diferenças nas decisões financeiras

Entre os jovens, o traço mais marcante é a pressa em adquirir bens: 34% preferem parcelar uma compra mais cara do que esperar para juntar o dinheiro e adquiri-la à vista. Na hora de fazer as compras, 41% admitem agir sob impulso, e a preferência por marcas passa pela aprovação da família e dos amigos. Apesar de refletirem pouco antes de fazerem gastos, 58% dos entrevistados com até 24 anos se consideram aptos a administrar sua renda sozinhos. “Na prática os jovens não estão preparados para gerir as suas finanças. Eles acabam deixando este assunto sempre para depois. Apesar da maturidade ajudar neste aspecto, quanto antes se absorve pelo menos os conceitos básicos de educação financeira, maior será a facilidade para decisões no futuro”, avalia o Gerente de Relações Institucionais da Serasa Experian.

Para aqueles que já têm mais de 55 anos, as decisões costumam ser mais conservadoras. Os crediários, por exemplo, perdem a popularidade: apenas 24% deste grupo opta por esta forma de pagamento. A confiança sobre a própria capacidade de administrar as finanças também melhora ao longo da vida. A partir dos 35 anos, 69% das pessoas acredita que administra bem seus recursos pessoais, padrão que se mantém até os 54 anos. Com a entrada na terceira idade, 64% ainda continuam gerindo o dinheiro sozinhos. “Um bom caminho para os mais jovens é sempre aprender com quem já viveu mais e está acostumado com o tema”, pontua Tomás Carmona.

Administração eficiente

Apesar de a maioria das pessoas acreditar que não precisa de ajuda para controlar seus gastos e investimentos, a pesquisa mostra que, quando a gestão acontece em conjunto a especialistas ou parentes, ocorre o aumento dos níveis de educação financeira. Quando a gerência do dinheiro e do crédito acontece em parceria com o cônjuge ou outros membros da família, a educação financeira aumenta até 0,2 pontos percentuais em relação aos lares em que apenas uma pessoa controla as finanças sozinhas.

Quando um único indivíduo é responsável pela saúde financeira fica mais susceptível a erros por não poder analisar opiniões distintas. O aprendizado acontece na prática, pela exposição a novos serviços, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos. “Muitos consumidores são educados pelos erros, acabam tendo problemas porque usam mal esses serviços e entram em inadimplência”, avalia o Gerente de Relações Institucionais da Serasa Experian.

As dívidas são o primeiro resultado concreto da falta de controle sobre os gastos. Em 2014, a inadimplência brasileira abriu com alta de 7,84%, o maior índice para janeiro em três anos, de acordo com o SPC Brasil. Para incentivar os consumidores a manterem sua saúde financeira e fugirem das armadilhas da má-administração, a Serasa desenvolveu o programa cadastro positivo, que pretende traçar um histórico de cobranças e pagamentos entre consumidores e empresas, afim de beneficiar quem cumpre os compromissos em dia. “Em cinco ou 10 anos, a expectativa é de que os indicadores melhorem, impulsionados pelo programa, que é um natural indutor da educação financeira. O cadastro faz com que as pessoas percebam vantagens em lidar bem com seu histórico positivo de crédito”, projeta Tomás Carmona.

Fonte: CNDL