Embora os lojistas brasileiros já saibam o valor que uma vitrine tem para o negócio, há muitos que ainda contam apenas com a criatividade do patrão e dos vendedores
Por trás de uma vitrine de bom gosto, há sempre um bom vitrinista, na maioria das vezes, um profissional do ramo. Não era assim anos atrás – principalmente entre os pequenos lojistas -, quando o próprio dono arriscava seus arranjos. Com a descoberta das vitrines – a “alma da loja”, segundo gente do setor – o mercado passou a valorizar o vitrinista, reconhecendo a importância do trabalho, do treinamento e, consequentemente, aumentando os salários. Eles ainda não são muitos no mercado e parte conta apenas com a criatividade. Outros vêm de cursos de capacitação em escolas renomadas, como o Senac, por exemplo. Hoje, bastante demandados, os vitrinistas faturam, em média, R$ 3,5 mil mensais, por cliente.
A função também se ampliou e não se restringe mais à vitrine. Muitas vezes, são os vitrinistas que ditam as linhas de comunicação do varejo dentro do triângulo vitrine, agência de comunicação e cliente. Embora os lojistas brasileiros já saibam o valor que uma vitrine tem para o negócio, há muitos que ainda contam apenas com a criatividade do patrão e dos vendedores para montar suas interfaces com o consumidor.
“Existe um movimento de uns cinco anos para cá, por parte dos lojistas, de investir nesse profissional, cada vez mais procurado. Vários estão saindo de São Paulo para ocupar a função em shopping centers espalhados por todo país”, diz João Faria, sócio diretor da Agência Cidadã, de publicidade. “O varejo demonstra a cada dia uma preocupação maior com uma vitrine inovadora, moderna, despojada e que toma uma parte dos investimentos da área de marketing”, acrescenta.
Para Faria, vitrine é sinônimo de comunicação. “A vitrine cumpre um papel fundamental porque por meio dos produtos expostos traduz o DNA da marca ali presente. Os vitrinistas, hoje, são procurados pelas lojas porque sabem que a vitrine faz a diferença”, afirma. O publicitário Faria define a vitrine como “um briefing para ampliar e melhorar a qualidade criativa da sua comunicação”. “A vitrine tem um papel fundamental na missão de fisgar o cliente e levá-lo para dentro da loja. Às vezes, o custo é um fator que pesa, mas é o meio de seduzir o cliente e de fazê-lo entrar”, diz.
A limitação de recursos tem sido um grande entrave para os pequenos e micro varejistas. “Nesse caso, eles são obrigados a usar de muita criatividade”, diz Fernanda Della Rosa, assessora econômica da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio). Mas não se pode esquecer, diz, que “a vitrine é a alma da loja”. “Ela reflete a questão da identidade e estilo. Ao definir a vitrine, o lojista define que tipo de público quer atrair”, acrescenta.
Leandro Silva, professor e coordenador do Centro Universitário Newton Paiva, de Belo Horizonte, especializado em varejo e consumo, sugere que o próprio dono do negócio cuide de sua vitrine. “Um curso de vitrinista, de curta duração, sai entre R$ 300,00 a R$ 600,00. Nem todos os pequenos e micro empresários têm essa habilidade, mas entender um pouco dessa arte ajuda bastante”, sugere Silva, que desembolsa cerca de R$ 4 mil por ano na vitrine de sua loja.
Pelos seus cálculos, mesmo com uma receita baixa, o varejista deve gastar entre 10% e 25% no arranjo de sua vitrine. “Capacitação é fundamental e hoje muitos profissionais são formados em cursos. Mas outros aprenderam na prática, usando seus dons”, afirma.
José Alves de Oliveira Filho, professor do curso de vitrinista do Senac, São Paulo, conta que só em 2013 a instituição formou 247 profissionais. “Além dos cursos de oferta paga e programas de gratuidade, o Senac São Paulo, por meio do atendimento corporativo, oferece curso personalizado para empresas de acordo com sua necessidade”, informa.
Segundo Oliveira Filho, a inserção no mercado de trabalho depende da indicação de outros profissionais e da procura porta a porta. “Os profissionais da área vão a campo – lojas, shoppings, feiras de negócios – e fazem contato direto com lojistas e empresas, além de divulgarem seu portfólio pelas redes sociais, blogs e sites”, diz. “O que se percebe atualmente é que a qualificação na área é cada vez mais exigida por lojistas e empresários”, conta.
Mariana Oliveira, um das sócias da mineira Stylo Calçados, conta que um vitrinista, ganha, em média, R$ 3,5 mil por mês, mesmo no interior do Estado. “Geralmente, são profissionais capacitados e o próprio meio se encarrega de indicá-los”, informa. Perguntada se contratar um profissional da área foi um bom negócio para sua loja, Mariana diz não ter dúvidas. “Compensa e muito ter um vitrinista. O Brasil ainda está distante do varejo dos Estados Unidos em termos de exposição, mas já despertou para isso e cada dia mais valoriza a importância da vitrine de qualidade e o profissional da área”, afirma. A Stylo reserva, anualmente, algo ao redor de 5% de sua receita bruta para aplicar nessa área, segundo a sócia.
Fonte: Valor Econômico | Especial – Pequenas e Médias Empresas