Número de empresas inadimplentes acelera em agosto e cresce 7,64%, mostra indicador do SPC Brasil

23 de setembro de 2014

Empresas do setor de serviços lideram ranking da inadimplência. É o quinto mês consecutivo que a alta fica acima dos 7%

O número de empresas inadimplentes voltou a crescer no mês de agosto. Segundo indicador calculado pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), a quantidade de empresas com contas em atraso registrou alta de 7,64% na comparação com agosto de 2013. A variação foi levemente superior à apresentada em julho deste ano, quando o crescimento observado fora de 7,11%. O resultado de agosto representa o quinto mês consecutivo com alta superior ao patamar de 7% e foi puxada, principalmente, pelas empresas do ramo de serviços, que apresentaram alta de 10,76%.

Na avaliação da economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o aumento da inadimplência das empresas é reflexo do atual cenário de crescimento econômico em desaceleração, que aliado à manutenção dos juros em patamares elevados e à inflação no teto da meta cria dificuldades relacionadas ao pagamento das dívidas. “Além disso, a piora da confiança do consumidor e o crescimento da inadimplência da pessoa física também são fatores que influenciam a deterioração da capacidade de pagamento das empresas”, destaca a economista.

Já na passagem de julho para agosto, os dados do SPC Brasil mostram que houve uma ligeira desaceleração no crescimento de empresas inadimplentes, passando de 0,37% para 0,26%.

Setor econômico e região

A abertura do indicador por ramo da economia mostra que o setor de serviços foi quem mais contribuiu para a alta da inadimplência: neste segmento, que concentra 35,88% de todas as dívidas das pessoas jurídicas em atraso, a alta anual do número de empresas devedoras foi de 10,76%. Empresas de hospedagem e alimentação (13,46%) e transportes (10%) apresentaram as maiores variações. Em segundo lugar ficou o segmento do comércio, com alta de 6,57% e participação de 49,64% no total de dívidas. Logo em seguida aparece o segmento de indústrias, que apresentou alta de 7,77% e ocupa uma fatia de 9,84% no universo de dividas não pagas. Já o setor da agricultura, que representa apenas 0,69% das dívidas em atraso, registrou alta de 4,39% no número de empresas inadimplentes.

Para a economista Marcela Kawauti, a significativa participação do comércio dentre as empresas devedoras se deve ao seu crescente papel na cadeia de consumo. Por exemplo, é grande a participação das empresas atacadistas que também revendem mercadorias para os varejistas. “Tendo em vista que muitas empresas do comércio desempenham funções não só frente ao consumidor final, mas também intermediam outras relações de negócio como atacadistas exercendo o papel de distribuidoras, o segmento ganha importante participação na economia e responde também pela maior parte da inadimplência”. explica a economista.

Na comparação anual, a região Nordeste apresentou o maior crescimento do número de pessoas jurídicas inadimplentes (9,08%), seguida pelos Estados do Sudeste (7,41%), Norte (6,22%), Centro-oeste (5,10%) e Sul (4,07%). Apesar da variação abaixo da média nacional (7,64%), os Estados da região Sudeste concentraram 43,53% do total de empresas com dívidas em atraso no Brasil.

Tempo de inadimplência

Desde fevereiro deste ano, o número de empresas com dívidas entre 181 e 360 dias vinha apresentando leves recuos na base de comparação anual segundo o indicador do SPC Brasil. Em agosto deste ano, entretanto, essa faixa de tempo apresentou alta de 2,21% em relação ao mesmo mês de 2013. Já as empresas com dívidas mais recentes, com até 90 dias de atraso, mostraram uma alta de 7,82%, menor variação dos últimos cinco meses da categoria.

Para os economistas do SPC Brasil, o resultado reflete o fato de que o número de empresas recentemente endividadas vem desacelerando, apesar de ainda apresentar variações positivas elevadas. Por outro lado, as empresas com dívidas contraídas há mais tempo vêm aumentando: o maior crescimento ficou por conta das empresas detentoras de pendências entre 91 e 180 dias, cuja variação foi de 11,79%, a maior para a categoria dos últimos 17 meses. O movimento do indicador mostra que as dívidas estão se mantendo na base de compromissos em atraso, passando da categoria de até 90 dias para a categoria de 90 a 180 dias. Para os economistas do SPC Brasil, os números sugerem que os empresários estão com dificuldades para quitar pendências antigas.

Setor Credor

Dentre os setores credores, ou seja, aqueles que deixaram de receber os valores que lhes são devidos, o segmento de serviços, que engloba bancos e financeiras, é quem mais se destaca. Embora o crescimento do número de empresas inadimplentes deste ramo tenha sido de 4,39%, uma variação menor do que a média (6,94%), este setor representa 63,18% de todas as dívidas pendentes registradas nas bases que o SPC Brasil tem acesso.

Em segundo lugar no ranking de empresas que mais deixarem de receber em dia aparece o segmento do comércio (crescimento de 11,18% e participação de 16,01%), seguido por indústria (crescimento de 15,22% e participação de 9,81%) e agricultura (crescimento de 13,58% e participação de apenas 0,11%).

Novo indicador

Desde julho deste ano, o SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) passaram a divulgar o Indicador Mensal de Inadimplência da Pessoa Jurídica. O objetivo é proporcionar uma ferramenta de análise e indicador de tendências para as empresas brasileiras, a exemplo do que já acontece com o indicador de inadimplência da Pessoa Física, divulgado mensalmente pelas duas instituições.

Fonte: SPC Brasil / CNDL