Mercados desabam reagindo à reeleição

1 de outubro de 2014

Com retomada da vantagem da presidenta Dilma Roussef, somada à pressão vinda de fora, bolsa, dólar e juros revertem otimismo ensaiado na sexta e atingem máximas

diminuiçãoO mercado financeiro reagiu negativamente à subida da presidente Dilma Roussef nas intenções de voto para a próxima eleição. O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa brasileira, chegou a cair mais de 5% e fechou em queda de 4,52%-a maior em três anos (veja na página ao lado). O dólar encerrou em alta e os juros futuros, idem. O movimento se assemelha ao que ocorreu quando o então candidato Lula despontou como favorito em 2002. Na época, o presidente precisou se comprometer com as instituições publicamente, lançando a “Carta aos Brasileiros”.

O movimento de ontem nos mercados foi mais acentuado em parte porque na sexta-feira o mercado fechou antes da última pesquisa ainda esperançoso de que a vantagem de Dilma fosse reduzida- ou seja, a Bolsa havia subido e o dólar e juros, recuado. Ontem, houve uma correção de preços. Além disso, o mercado internacional deu motivos adicionais à alta do dólar frente ao real – não apenas ao real, mas frente a moedas de todos os mercados emergentes.

“O movimento de ontem tem também relação com o cenário externo, por conta do resultado dos lucros das empresas chinesas do setor industrial, que registraram a primeira queda em dez anos. Mas teria sido moderado”, diz o estrategista chefe do Banco Mizuno, Luciano Rostagno.

O movimento estaria sendo exacerbado pela pesquisa eleitoral com retomada da vantagem pela presidente Dilma, e pela reversão das especulações positivas feitas na sexta feira.

O diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello, lembra que o movimento de ontem não é isolado. ressalta que “Setembro foi um mês de correção dos mercados, coma Bolsa devolvendo parte dos ganhos conquistados em agosto”, diz. O executivo lembra que as pesquisas eleitorais estão dando o tom dos negócios no mercado de renda variável. “Hoje, as chances são de 50% para melhorar e 50% para piorar”, diz. Isso porque, as pesquisas eleitorais mostram que pode tanto haver continuidade do atual governo,como a oposição vencer a disputa. De acordo com ele, o mercado avalia que a mudança de governo será positiva e, se isso se confirmar, já deve haver uma mudança de tendência no “day after” da eleição.

Curvello pondera que mesmo ciente de que 2015 será um ano difícil, o mercado está disposto a ver mudança e avalia que a para a candidata Dilma Roussef será mais complicado conquistar a credibilidade. “O mercado não vai dar este voto de confiança a ela. Está cada vez mais difícil acreditar que ela promoverá a volta do tripé. Ela está atacando esta linha na campanha,e tem feito declarações heterodoxas. Uma coisa é ganhar a eleição,outra é governar”, avalia.

Os entrevistados evitam prever os próximos movimentos. Mas a maioria concorda com Curvello. “O mercado está precificando as chances de uma redução na classificação de risco país do Brasil, que são maiores caso Dilma seja reeleita”, disse um economista que preferiu não se identificar. “Ao que tudo indica, ela faria alguns ajustes mas manteria as bases do seu modelo econômico, de estimular consumo manter o mercado de trabalho aquecido, bem como a presença forte do Estado na economia, com gastos elevados e déficit público preocupante. Os gastos leva a preocupação”, completa a fonte. Para ele, “vai ser difícil para Dilma entregar o que vai ser necessário para reverter a tendência de rebaixamento do grau de investimento. Houve perda de confiança, e se a economia não voltar a crescer não vai ter ajuste fiscal. É um cenário desafiador”.

Wellington Ramos, economista da Austin Rating, nota que o pessimismo transpareceu principalmente nas cotações das ações de empresas estatais, como a Petrobras. “Mas os bancos também sofreram”. Houve forte saída de investidores também pelas perspectivas de alta maior dos juros nos Estados Unidos.”É difícil prever o que acontecerá com os preços dos ativos. Mas se Dilma mantiver a vantagem até sexta, o mercado tende a continuar pessimista”, afirma.

Fonte: Brasil Econômico