Em ano atípico, por conta de menos dias úteis trabalhados, feriados e paralisações por ocasião da copa do mundo, as administradoras mantiveram o ritmo de crescimento do número de consorciados ativos. Assim, ao totalizar 6,18 milhões de participantes ativos em dezembro do ano passado, o sistema de consórcios fechou 2014 com recorde histórico.
Com crescimento de 7,7% sobre 2013 em consorciados ativos, que havia atingido 5,74 milhões, e ainda ao registrar 6,4% de retração entre as 2,35 milhões de adesões de 2014 e as 2,51 milhões de 2013, os consórcios apontaram alta significativa nas contemplações.
O volume possibilitou a realização de objetivos de pessoas físicas e jurídicas, além de alimentar a cadeia produtiva. Ao subir 7,9%, saltaram de 1,26 milhão em 2013 para 1,36 milhão no ano passado.
Ao analisar o comportamento do mecanismo no último ano, Paulo Roberto Rossi, presidente-executivo da Associação Brasileira de Administradoras de consórcios (Abac), destacou que a desaceleração dos negócios de 2014 esteve presente em todos os mercados, não sendo diferente no nosso segmento. Os principais fatores foram a instabilidade econômica, maior endividamento da população, inflação em alta que corroeu o poder de compra, redução das disponibilidades e do consumo. Contudo, com agilidade e criatividade, as administradoras foram adequando suas estratégias e obtiveram sucesso com crescimento dos participantes e das contemplações, mesmo com menor número de vendas de novas cotas.
Baseado nos procedimentos adotados e considerando um provável pouco robusto desempenho das atividades econômicas, Rossi traçou uma perspectiva para os consórcios, apoiada em recente pesquisa feita junto às associadas da Abac.
– As empresas estão conscientes que haverá desafios a enfrentar. Por isso, com o objetivo de voltar a crescer, as ações em 2015 focarão mais em divulgação, maior capacitação profissional, melhor atendimento e mais presença junto aos atuais e novos consumidores. Novos nichos também poderão ser prospectados, inclusive com a criação de novos pontos de venda. Com ênfase na educação financeira, as administradoras e a entidade abordarão a relevância da informação e planejamento na aquisição de bens ou serviços, com destaque para o binômio necessidade versus possibilidade, com vistas a assegurar equilíbrio no orçamento pessoal e minimizar os riscos de superendividamento – disse o presidente-executivo.
Como os sinais das novas autoridades monetárias apontam para ajustes graduais, existe ainda espaço para crescimento, desde que bem planejado, levando-se em conta o aumento dos juros para controlar a inflação e aumento dos impostos para garantir o financiamento dos gastos do governo.
– Desta forma, trata-se de uma boa perspectiva para atuação do sistema de consórcios, apoiado em divulgação e conscientização sobre educação financeira com possível expansão de pontos de vendas, atuação pontual em novos nichos e formação e ampliação de parcerias. Ficam ainda as preocupações com a manutenção dos empregos e a natural insegurança provocada junto aos consumidores – esclarece Rossi.
Para a Abac, o amadurecimento do consumidor ao longo dos últimos anos sinaliza a continuidade do planejamento financeiro no seu dia a dia. O conhecimento e a análise comparativa possibilitam que se tome a melhor decisão para compra de bens ou contratação de serviços, características importantes para quem encara o consórcio como poupança programada com objetivo definido.
Estudo realizado recentemente pelo SPC Brasil, que entrevistou mais de 600 pessoas, maiores de 18 anos, em todas as capitais estaduais, apontou que seus três maiores desejos de consumo eram viajar para o exterior ou pelo país (30%), adquirir um automóvel (9%) e fazer uma cirurgia plástica (7%).
Ao observar que a falta de planejamento financeiro tem sido o principal obstáculo na concretização de objetivos para mais de 70%, a pesquisa sinaliza uma boa ocasião para administradoras de consórcios como opção a ser oferecida àqueles que pretendem adquirir bens ou serviços tomando a melhor decisão quando do comprometimento orçamentário e formação patrimonial.
– Os consórcios têm sido e continuarão sendo importantes para o consumidor em razão de sua essência: o planejamento. No médio e longo prazos, caracterizam-se em oportunidades para maximização de recursos pessoais, familiares e até empresariais – concluiu o presidente-executivo da Abac.
O balanço das contas de ativos administrados do sistema de consórcios, fechado no final do primeiro semestre do ano passado e disponibilizado pelo Banco Central do Brasil, apresentou os resultados alcançados no período. No total de R$ 150,6 bilhões, soma dos recebíveis e das disponibilidades e aplicações financeiras, houve evolução de 5,7% sobre os R$ 142,5 bilhões registrados anteriormente.
Na composição dessas contas é possível visualizar que ambas aumentaram, no ano passado. Enquanto os recebíveis cresceram 14,2%, saltando de R$ 113 bilhões em 2013 para R$ 129 bilhões em 2014, as disponibilidades e aplicações financeiras também evoluíram. Com 16,7% de alta, subiram de R$ 18 bilhões (2013) para R$ 21 bilhões (2014).
No sistema de consórcios, o patrimônio líquido ajustado (PLA), resultado da soma do capital, reservas e resultados das administradoras, apresentou retração em razão da redução do número de empresas participantes do sistema. Desta forma, com menos organizações o total do PLA foi de R$ 5,8 bilhões no ano passado, 7,9% inferior aos R$ 6,3 bilhões de 2013.
– Os indicadores refletem o momento vivenciado pelos consórcios nos últimos anos – explica o presidente-executivo da Abac.
Ainda segundo ele, apesar da redução do número de administradoras, as 186 empresas que, atualmente, detém autorização do Banco Central para atuar no sistema de consórcios mostraram ser sólidas financeiramente e competentes para superar as dificuldades, atender seus clientes e, principalmente, proporcionar segurança e liquidez ao sistema.
Rossi explicou ainda que, mesmo com menos empresas ativas, a arrecadação de tributos e contribuições sociais pelas administradoras de consórcios aumentaram. Na comparação entre o acumulado de janeiro a junho de 2013 para 2014, o total subiu de R$ 733 milhões para R$ 874 milhões. O crescimento foi de 19,2%.
Nos últimos cinco anos (2009 a 2013), a participação dos ativos administrados do sistema de consórcios no PIB evoluiu 0,6 ponto percentual. Enquanto em 2009 era de 2,4%, em 2013 foi de 3%.
Fonte: Monitor Mercantil Digital