No ano passado, houve alta de 4,3% no volume de vendas do comércio varejista restrito em 2014 ante 2013
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revisou para baixo de 3,1% para 3% a projeção de aumento no volume de vendas do comércio varejista restrito em 2015, em comparação com o ano passado. Foi a primeira revisão feita pela confederação em relação às estimativas para o desempenho do varejo este ano.
Segundo a economista da entidade, Juliana Serapio, o ambiente atual de intenção de consumo não se encontra em um momento favorável, uma vez que o patamar de endividamento entre as famílias está elevado, o crédito está mais caro e o mercado de trabalho segue com sinais de enfraquecimento no ritmo de abertura de vagas.
Isso é perceptível no indicador Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgado nesta quarta-feira pela confederação, e que mostrou estabilidade, com alta modesta de 0,2% em janeiro ante dezembro, após três quedas consecutivas.
No ano passado, houve alta de 4,3% no volume de vendas do comércio varejista restrito em 2014 ante 2013, o pior desempenho em dez anos, perdendo apenas para 2003 (-3,7%). A especialista não descartou novas revisões para baixo nas estimativas para 2015. “Conforme o IBGE for divulgando os resultados [da Pesquisa Mensal de Comércio] vamos ajustar as projeções”, disse, avaliando, porém, que a conjuntura atual não mostra indícios que estimulem o interesse do consumidor para elevar ritmo de compras.
Ela observou também que o retorno à estabilidade no ICF não indica sinais de retomada na intenção de consumo do brasileiro. A especialista notou que, na comparação com janeiro de 2014, o ICF de igual mês esse ano mostrou recuo de 8,6% ? mais intenso do que a queda de 7,7% nesse índice em dezembro de 2014, ante dezembro de 2013. “O ritmo de queda na intenção de consumo nessa comparação anual está aumentando”, alertou ela.
Ao mesmo tempo, ela notou que, no ICF de janeiro, é possível notar que todos os sete tópicos usados para cálculo do indicador estão em queda na comparação com igual mês do ano anterior. A mais forte retração parte do item “perspectiva de consumo”, que tem recuo de 14,2% em janeiro desse ano, ante janeiro de 2014.
Com 121,9 pontos, o item, que ajuda a delinear o interesse do consumidor por novas compras, também mostrou em janeiro deste ano o menor nível da série histórica do indicador, iniciada em 2010. Outros dois tópicos relevantes também registraram patamares mínimos históricos, esse mês. É o caso de acesso ao crédito, com 123,4 pontos; e momento para duráveis, com 97,2 pontos.
A especialista observa que a situação ainda é mais preocupante com o agravamento de sinais de alerta que rondam o mercado de trabalho, no começo desse ano. Ou seja: se o consumidor não se sente seguro com seu emprego em horizonte de longo prazo, também não se mostra disposto para efetuar compras, principalmente à prazo. “Vimos agora em janeiro diversas demissões no setor automotivo, e isso é preocupante, causa medo [ao consumidor]”, avaliou.
“Creio que os problemas que estão contribuindo para esse atual ambiente desfavorável de consumo, como crédito mais caro, juros elevados e mercado de trabalho em menor ritmo, não são de resolução no curto prazo”, disse.
Fonte: O Globo Online