Encontrar o local perfeito para abrir um negócio é sempre um desafio. seis empresários mudaram as regras do jogo e decidiram empreender sobre quatro rodas, levando seus produtos e serviços para todos os cantos do país
BOLSAS DE RETALHOS > MARIA BERENICE
Fundação: 2006
Investimento inicial: um micro-ônibus, restos de tinta e R$ 100 para tecidos
Por onde roda: ruas de Brasília
Faturamento: não divulgado
Funcionários: uma ajudante para a produção no ateliê
“Quando meu grupo de teatro se separou, em 2005, tudo o que restou foi um velho micro-ônibus. Fiquei meio perdida, não sabia o que fazer. Um dia vi uma amiga com uma bolsa de tecido e bateu a inspiração: que tal montar um ateliê e criar bolsas artesanais? Mas estava dura, não tinha como alu-gar um ponto de venda. A solução veio quando vi um comerciante de pamonha com seu fusquinha. Com algumas latas de tinta esquecidas, decorei o antigo micro-ônibus, e pendurei ali as minhas bol-sas. A primeira viagem aconteceu na avenida Paulista. Chamamos a atenção de todo mundo! Os motoristas buzinavam, os motoboys mandavam beijos, os pedestres paravam para olhar. Hoje moro em Brasília, onde tenho família. Voltei a atuar, mas todo fim de semana dou uma volta com a Bereni-ce. A maioria das pessoas chega movida pela curiosidade: ‘Isso é um bufê de festa infantil?’; ‘É ôni-bus para passeio turístico?’. Com certeza, não passo despercebida!” – Adriana Bruno, 36 anos, dona da Maria Berenice
Fundação: 1998
Investimento inicial: R$ 100 mil
Por onde roda: ruas de São Paulo
Faturamento: R$ 15 mil (mensal)
Funcionários: 2
“Não tem momento mais estressante para um animal de estimação do que a hora de fazer uma visita à pet shop. O cão fica todo agitado, porque sabe que chegou a hora da tosa e do banho. Por isso, recebíamos muitos pedidos de clientes para oferecer esse tipo de serviço em domicílio. A loja envia-va um funcionário e ele cuidava do cão dentro da casa do dono. Mas, para mim, essa solução não era muito profissional. Foi então que tive a ideia: que tal vender a loja física e instalar a pet shop em uma van que se deslocasse até a casa dos clientes? Dessa maneira, ninguém ficaria angustiado. Nos primeiros passeios, enfrentamos algumas dificuldades. Como usamos a energia da residência do cliente, às vezes o disjuntor da casa caía, porque puxávamos muita eletricidade. Mas logo resol-vemos a questão elétrica. Hoje, os clientes adoram o serviço. Tinha um deles que era superapegado, não largava o cão por nada. Agora, com a Petshop Móvel, ele deixa o bichinho aos nossos cuidados e fica sossegado. E os animais também ficam tranquilos, porque sabem que estão perto de casa.” – Laércio Eugênio da Luz, 54 anos, sócio da Petshop Móvel
Fundação: 2010
Investimento inicial: R$ 300 mil
Por onde roda: ruas de São Paulo
Faturamento: não fornecido. Realiza 20 eventos por mês, com preços entre R$ 750 e R$ 950 por hora (DJ, petiscos e bebidas são cobrados à parte)
Funcionários: 5
“Foi em uma viagem pela Califórnia, quando tinha 19 anos, que descobri a balada mais movimenta-da da minha vida. Literalmente. Lá, festas montadas dentro de ônibus modificados são comuns. De-cidi trazer a ideia para o Brasil. Gastei quatro meses estudando o negócio e mais quatro adaptando o ônibus. Os primeiros resultados foram fracos. As pessoas não conheciam esse tipo de casa noturna e ficavam inseguras. Participei de feiras de automóveis, fiz alguns ‘tours’ para apresentar o projeto e a ideia pegou. A balada móvel funciona em sistema de festa fechada, em que o veículo é alugado por hora. Durante o trajeto, passa pelos principais pontos turísticos de São Paulo. Fazer uma balada num veículo em movimento exige alguns cuidados. O ônibus anda numa velocidade bem tranquila, mas ainda assim sempre tem gente que tropeça — as mulheres costumam tirar os sapatos de salto, para evitar uma queda. Mas também tem suas vantagens. Se alguém passa mal, o copeiro é instruí-do a levar o convidado para a parte da frente do ônibus e colocá-lo na janela, onde ele pode descan-sar e respirar um pouco de ar fresco.” – Maurício Somlo, 21 anos, sócio da Bus Party
Fundação: 2010
Investimento inicial: R$ 33 mil
Por onde roda: ruas do Rio de Janeiro
Faturamento: R$ 40 mil (mensal)
Funcionários: 5
“Meu negócio vive de rodas. Das rodas das bicicletas que eu vendo na minha loja física e das rodas do meu serviço móvel. Com uma van, visito condomínios e hotéis e monto tendas. Nesse espaço, os clientes podem alugar bikes, comprar produtos da loja ou realizar pequenos reparos. No começo, paguei alguns micos. Às vezes, um vento mais forte levava a tenda que a gente tinha acabado de armar. Uma vez, parei sem querer em cima de uma faixa de pedestres. Na mesma hora, um ciclista que atravessava a rua começou a me encarar. Ele bateu no vidro e levei um susto, achei que ia par-tir para a briga. Mas, na verdade, só queria pedir o meu cartão. Todo dia converso com pessoas que voltaram a pedalar depois que descobriram a Bike Care. Nem todo mundo tem tempo de levar a bici-cleta para consertar, ou mesmo de ir a uma loja e alugar a magrela. Então acabam se esquecendo dessa diversão.” – Jorge Luiz Bahia Ferreira, 25 anos, dono da Bike Care
Fundação: 2007
Investimento inicial: R$ 20 mil
Por onde roda: no bairro de Sumaré, São Paulo
Faturamento: R$ 25 mil (mensal)
Funcionários: 4 (dois para a produção das massas, dois para atendimento na Kombi)
“Mesmo sem nenhuma formação em gastronomia, sempre brinquei de cozinheiro. Depois de traba-lhar como empreiteiro durante 15 anos, decidi mudar de área. Minha primeira ideia era comprar uma Kombi e sair pelas ruas vendendo cachorro-quente. Mas pensei: ‘Faço massas e molhos incríveis, então por que não ganhar dinheiro com isso?’. A maior dificuldade, no começo, era fazer as pessoas entenderem que eu não vendia hot dog. Uma vez, um rapaz me pediu um ‘completo’. Levei na espor-tiva e fiz um pão com meu molho à bolonhesa e calabresa. E aí expliquei que vendia massas. Ele aprovou o sanduíche e acabou sentando para provar o prato. A novidade foi se espalhando e acabei recebendo o apelido que daria nome ao negócio: Rolando Massinha. Cozinhar em um espaço me-nor, dentro de uma Kombi, exige muita atenção. Já aconteceu de eu esbarrar na minha funcionária e derramar uma panela inteira de molho. Sem falar que não há estrutura para armazenar grandes quantidades de comida. Um dia, fui obrigado a fechar mais cedo, porque todas as porções tinham sido vendidas. Por isso mesmo, meu plano é montar uma cozinha profissional para produzir, conge-lar e conservar por mais tempo minhas massinhas.” – Rolando Vanucci “Massinha”, 50 anos, funda-dor da Rolando Massinha
Fundação: 2009
Investimento inicial: R$ 120 mil
Por onde roda: ruas de Curitiba
Faturamento: R$ 20 mil (mensal)
Funcionários: 1
“Comecei a trabalhar como sacoleira em 2006. Ia a empresas e condomínios e batia de porta em porta, oferecendo roupas compradas em São Paulo. No começo, levava cerca de 40 peças em duas sacolas. Mas a demanda foi crescendo e passei a carregar quatro malas cheias de roupas. Foi aí que surgiu a ideia de criar um negócio sobre rodas. Mas, antes disso, tive de convencer o meu mari-do, Roberto, a entrar como sócio. Para criar a Boutique de Rua, compramos uma van e fizemos uma série de adaptações. Investimos em luzes fortes, mas que não aquecessem demais o interior do car-ro; ar-condicionado de frigorífico, para garantir o frescor; e um provador, claro, para o conforto das clientes. O espaço da van não é muito grande — só cabem oito mulheres por vez. Para não perder as outras consumidoras, coloco uma arara com algumas peças do lado de fora. Como a maioria das clientes se conhece, de vez em quando fechamos a porta da van e deixamos que elas se troquem lá dentro. Quando me dou conta, estão todas de calcinha e sutiã, fofocando sobre quem colocou silico-ne ou fez lipo.” – Fabiane Post, 38 anos, sócia da Boutique de Rua
Por Rafael Farias Teixeira