Se você trabalha com comunicação, precisa saber escrever. Mas muita gente sofre para escrever. Eu escrevo profissionalmente desde 1988. Tenho uns truques para compartilhar com você.
Em 2008, eu me rendi e comecei um blog para palpitar todo dia sobre cultura, tecnologia e comunicação. Também o fiz para expor as glórias e vergonhas destas duas décadas. Me rendi ao blog porque quase só leio online.
Observei que muitos blogs brasileiros são prolixos e ensimesmados. Muita opinião e pouca posição. Jornalistas profissionais têm outros problemas. O pior é cozinhar o press release.
Tudo isso tem remédio.
A primeira vez que escrevi sobre escrever foi em 1995, numa coluna do Folhateen. Uma resposta a mil consultas sobre como virar crítico musical. Está no meu blog.
De lá para cá, escrevi várias vezes sobre o assunto. Quase sempre para consumo interno. Eu envelheço, mas meus colegas sempre têm uns 25 anos. Eles batizaram de “Escolinha do Professor Forasta”.
O foco é jornalismo, mas serve para outras coisas. Reescrevi minha aulinha há um mês. Este é o primeiro remix.
COMO ESCREVER BEM
Escrever bem é defender uma posição original, com argumentos irrefutáveis, de maneira sedutora e clara. Vamos chamá-la de “tese”. Isso pode ser feito em uma frase ou mil. Em uma é melhor.
Se o texto não tem posição, não defende uma tese. E se não tem algum componente de provocação, não defende uma tese original.
Aí pode ser o que você quiser – poesia, prosa, “conteúdo” -, mas não é jornalismo.
Adaptando a Wikipédia, a tese é uma tomada de posição por parte do autor. Ele apresenta sua posição e, em seguida, argumentos que provem que ela está correta.
A tese deve ter tema único e bem delimitado, rigor de argumentação e apresentação de provas, profundidade de ideias, avanço da compreensão da área abordada e originalidade.
A ESTRUTURA
O texto jornalístico ideal tem 1500 caracteres. Ele deve defender uma única tese. O texto longo é, na verdade, uma grande tese, construída por miniteses de 1500 caracteres. É muito difícil de fazer e pouca gente tem paciência para ler. Pense dez vezes antes de fazer.
Se você realmente precisar fazer algo maior que 1500 caracteres, transforme tudo o que passar disso em listas, subretrancas, bullets, boxes, infográficos etc.
O título da matéria deve ser um resumo da tese, expressada da maneira que mais atrairá leitores.
O primeiro parágrafo do texto (também conhecido como “lead”) explicita a ideia central do texto e, portanto, é um resumo do texto completo.
O efeito final no leitor deve ser o de que ele escorregou pelo texto – foi paquerado pelo título, seduzido pelo lead e, quando viu, já estava no clímax.
Uma estrutura muito eficiente: tese no lead, seguida de quatro parágrafos apresentando provas da tese em ordem crescente de força da prova. O último repete a tese e apresenta a prova definitiva de que ela é correta.
O TEXTO
As frases devem ser curtas e diretas.
Não use vírgulas.
Não use jargões e termos técnicos. Escreva em português que sua mãe possa entender.
Não use metáforas, bordões, clichês.
Se usar siglas, na primeira vez que mencioná-las, explique o que ela significa e o que ela é em texto entre parênteses.
Abra um parágrafo a cada 400 caracteres.
Use muitos subtítulos.
Quando você achar que o texto está bom, conte o número de caracteres. Corte 30%.
Depois disso, volte para a primeira linha e desça cortando todas as vírgulas que conseguir. Uma por parágrafo é o máximo desejável.
O ESTILO
Não procure ter um estilo. Estilo é uma mistura de todo mundo que você admira com o que você não consegue deixar de ser. Vai sedimentando com a idade. Preocupe-se em defender sua tese com clareza e eficiência.
Escreva rápido até o final. Revise depois. Desligue o corretor automático, mas verifique as grafias. Você pode usar palavras que não usaria normalmente numa conversa com sua mãe – uma vez por texto.
Aprenda inglês. Leia Gore Vidal pelos ensaios, The Economist pela clareza, e Seth Godin se sua praia é marketing.
Mas estude os jornalistas brasileiros que sabem escrever em português. Não interessa o que ele está falando, interessa como. Paulo Francis é imbatível. Na minha geração, Álvaro Pereira Júnior.
A formuleta acima funciona. Use e pare de sofrer. Você também pode ignorá-la e escrever bem. Só precisa ser muito inteligente e experiente e talentoso.
Finalmente: se você não se diverte quando escreve, o leitor percebe. Vá trabalhar com alguma coisa que te dê prazer!
Fonte: R7 – Blog Andre Forastieri