Procura por veículos importados e chegada de grifes internacionais: marcas de um setor que continua a crescer
A queda da confiança do consumidor em relação à economia, inclusive entre os mais ricos, impacta diversos setores. Porém, o mercado de luxo ainda consegue manter, em 2015, sua constante evolução dos últimos anos. O crescimento real do setor no Brasil será de 4% neste ano, na comparação a 2014, segundo estimativas da Euromonitor, empresa de pesquisa de mercado.
No primeiro trimestre, enquanto a venda de veículos caiu 17% em comparação a igual período do ano passado, algumas marcas de importados não têm do que reclamar. É o caso de duas marcas da Fiat Chrysler Automobiles (FCA): a Dodge, com crescimento de 12,9% e a Jeep, que vendeu 133,6% mais veículos importados do que nos três primeiros meses do ano passado. “Esse ótimo desempenho da Jeep se deve ao sucesso do Jeep Grand Cherokee que, após ser renovado em 2014, reassumiu a liderança entre os SUVs grandes de luxo”, afirmou a FCA em nota. Nada mal para um modelo cujo preço inicial é de nada menos que R$ 199,9 mil.
Ainda no segmento de importação de veículos, a Jaguar teve expansão de 43,3% de janeiro a março, a Lamborghini cresceu 50% e a Volvo, 5,2%. Embora entre os brasileiros os carros ocupem o topo do ranking quando o assunto é sofisticação, este não é o único segmento a crescer. Jóias, barcos e jatinhos executivos também entram na lista.
“O público desses segmentos de produtos são classes de maior poder aquisitivo, que sofrem menos com as questões socioeconômicas do Brasil”, diz a pesquisadora Renata Galhanone. Há quem diga, inclusive, que nem mesmo a valorização do dólar em relação ao real deverá afetar esse consumidor das das classes AAA.
“Não é o câmbio que força ou não uma venda. Um consumidor que compra um carro importado que custa R$ 400 mil já tem algo parecido no Brasil. Ele não busca uma commodity para o seu dia a dia, mas algo exclusivo. A preocupação é o status que aquele produto proporciona”, afirma Michelle Fernandes, diretora de logística e sócia da Next Global, companhia especializada em comércio exterior para pessoas jurídicas e física.
Ela conta que vendeu uma McLaren a um cliente brasileiro depois que ele ficou sabendo que o veículo tinha sido encomendado pelo estilista Calvin Kline. “O estilista desistiu do carro porque a cor não ficou como ele imaginou. Eu contei essa história para o meu cliente, que ficou fascinado e fechou o negócio”, conta Michelle.
Experiência e bem-estar acima dos cifrões
Economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti concorda que, para os pertencentes à classe A, o luxo tem mais a ver com a experiência proporcionada do que a compra em si. “O consumo significa experiência e pertencimento, e a compra de produtos e serviços de luxo mostra que muitos brasileiros estão dispostos a pagar mais – desde que o resultado tenha a ver com sensações positivas, visibilidade e exclusividade”, diz Marcela Kawauti.
Tanto é assim, afirma , que um estudo sobre o mercado de luxo do SPC Brasil mostra que, quando analisada a importância dada pelos consumidores às marcas de produtos de luxo, oito em cada dez entrevistados (82%) fazem questão delas na hora de comprar. Marcas que são sinônimos de luxo perceberam isso e estão cada vez mais interessadas do mercado nacional.
Montadoras como a Jaguar e BMW instalaram suas fábricas no país, como estratégia para se aproximar do consumidor brasileiro. Grifes internacionais – como Chanel, Burberry, Hermès e Louis Vuitton – estudam abrir lojas fora do eixo Rio/São Paulo, ampliando seu raio de atuação. E a valorização do dólar pode confirmar que essa aposta é acertada, já que os brasileiros que costumam viajar para fazer compras – que estão entre os turistas que mais consomem em suas viagens do mundo todo – podem migrar sua demanda por artigos de luxo para cá.
Ainda assim, o setor de luxo não passará totalmente ao largo da crise: até 2013, esse mercado crescia cerca de 7% ao ano e, agora, não deve passar de 4%.
“Não é o câmbio que força ou não uma venda. Um consumidor que compra um carro importado não se preocupa com o preço. A preocupação é o status que aquele produto proporciona ” Michelle Fernandes.
Fonte: Brasil Econômico