Trocar crédito caro ajuda na luta contra a inadimplência

27 de maio de 2015

jurosPara evitar o “efeito Gremlin” sobre as dívidas, ou seja, a transformação do crédito em um fator destrutivo ao orçamento e a consequente inadimplência, não existe fórmula mágica. Especialistas recomendam cortar gastos, ajustar o orçamento, comprar à vista e trocar dívidas caras por linhas mais baratas. “Eu sugiro que as pessoas simplesmente não façam dívidas e se as tiverem procurem liquidá-las”, afirma o professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Keyler Carvalho Rocha. Na análise da economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito Brasil (SPC), Marcela Kawauti, “este ano é um ano de se cuidar. É hora de evitar dívida de longo prazo e privilegiar pagamento à vista”.

“Se quiser parcelar em dez vezes, resista. Não é mais fácil esperar seis meses para comprar o produto à vista?”, questiona o coordenador do Programa de Atendimento ao Superendividado do Procon-SP, Diógenes Donizete. Na visão do especialista, o consumidor precisa ponderar cada gasto que pretende fazer. A regra de ouro, de acordo com o especialista, é que a soma dos financiamentos não supere 30% da renda do consumidor. “Se ultrapassar esse limite está entrando num caminho perigoso.”

Conforme o diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, a primeira providência é colocar no papel a renda da família e as despesas. “Os consumidores precisam visualizar os gastos e realmente enxugar custos, ou seja, enquadrar sua realidade de renda à realidade de despesas”, explica. Para o especialista, alguns hábitos, como ir a restaurantes, podem ser reescalonados ou até mesmo interrompidos temporariamente.

O segundo passo, segundo Oliveira, consiste em trocar dívidas caras, especialmente as pós-fixadas, como o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial, por linhas mais baratas. “As melhores alternativas, em termos de taxas, são os consignados e depois os empréstimos pessoais”, aponta. O especialista cita ainda modalidades em que o consumidor oferece um bem como garantia, como linha de crédito com garantia de imóvel ou refinanciamento de veículos, e as taxas são melhores. “É bom a pessoa se antecipar, porque quando ocorre a inadimplência, não vai ter o crédito novo aprovado”, alerta Marcelo Monteiro, diretor da PH3A, especializada em sistemas de recuperação de crédito.

Caso o consumidor já não consiga mais pagar em dia os empréstimos, seja por redução na renda ou um evento como perda de emprego, não existe alternativa senão renegociar as dívidas, considera o diretor da Anefac. “Nessa situação, é necessário ter uma atitude proativa e chamar os credores, como bancos, operadora do cartão e lojas, para reestruturar a dívida”, diz Oliveira. A ideia é que o devedor saia com um acordo no qual consiga um prazo mais longo e uma taxa de juros mais baixa.

De acordo com Monteiro, da PH3A, nos períodos de crise, quando a inadimplência fica pressionada, as instituições tendem a ser mais receptivas às renegociações. “À medida que o cenário fica mais sombrio, a tendência é que as condições de negociação se tomem mais flexíveis e o cliente consiga fazer uma negociação mais proveitosa do que no passado”, diz.

O especialista lembra ainda que o consumidor pode ficar atento às promoções e eventos de renegociação de dívidas, em geral mais frequentes no segundo semestre. “As campanhas com adesão de grandes bancos e financeiras representam uma oportunidade de resolver as pendências, com propostas mais maleáveis e mais generosas de pagamentos.”

Em situações de superendividamento, quando, na definição do Procon-SP, as dívidas comprometem tanto a renda que não sobra o suficiente para as despesas básicas, “a primeira dica é não se angustiar”, pondera Donizete. O especialista recomenda ao superendividado procurar ajuda de um profissional ou um núcleo de tratamento, como o do Procon-SP. “Nós fazemos um diagnóstico dos casos. A pessoa passa por uma entrevista e preenche uma planilha com todos os gastos para verificar o que pode ser cortado”, explica. Esse processo ajuda o consumidor a obter uma reserva financeira para poder negociar. “Em cima desse valor X que sobra vamos procurar o credor para renegociar as dívidas. O endividado deve entender que é mais vítima do que culpado.”

Fonte: Valor Econômico