Com a possibilidade de serem usados em outras lojas, os plásticos co-branded são uma forma alternativa aos bancos de a população de renda mais baixa ter acesso ao crédito
Os cartões co-branded – plásticos que carregam o logotipo da loja, mas podem ser usados em outros estabelecimentos – assumiram a linha de frente nas receitas financeiras das redes varejistas e devem aumentar, cada vez mais, a relevância nos resultados das empresas.
Alternativa para os consumidores das companhias de varejo, esses cartões devem gradativamente assumir o espaço que antes era preenchido exclusivamente pelos plásticos de marca própria da loja, chamados de private label – usados, inclusive, como uma forma de fidelização e retenção de clientes.
O embandeiramento dos cartões da Riachuelo – quando os plásticos private label passam a trabalhar com uma bandeira, como Visa e Mastercard, e ser aceitos em outras lojas – começou no final de 2010.
Do início do ano passado até o primeiro trimestre de 2015, apenas as receitas com comissões sobre os cartões com bandeiras (pagos pelas operadoras à varejista) aumentou 105,3%, para R$ 18,87 bilhões.
“Começamos com uma campanha conservadora, apenas com os clientes preferenciais e depois fomos expandindo”, apontou Antonio Francisco Amorim, diretor da Midway Financeira, braço financeiro do grupo da Riachuelo. “A operação começou a crescer mesmo de 2013 pra cá”, completou.
Na Renner, os cartões embandeirados cresceram seis vezes mais que os private label e já representam mais da metade dos ganhos obtidos com os plásticos de marca própria.
A receita total com os cartões co-branded na rede aumentaram 78,9%, para R$ 43,5 milhões, contra alta 13% dos tradicionais, que fecharam o primeiro trimestre deste ano em R$ 81,5 bilhões.
Silvio Paixão, professor de economia da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), afirmou que ao oferecer acesso barato ao crédito – segundo Amorim, o cartão Riachuelo co-branded pode ser adquirido por três parcelas de R$ 15 – e não restringir as compras o cliente à rede, a empresa atrai mais consumidores.
“Na rede bancária tradicional, o cliente precisa ter conta corrente [para ter acesso ao cartão] e tem um custo que não é desprezível”, observou o professor. “Com uma pré-disposição das redes de varejo aos cartões, esperando que eles impulsionem as vendas, esse produto [co-branded] deve crescer cada vez mais”, concluiu.
Para Paixão, diante da seletividade de empréstimos nos bancos tradicionais e de evolução de meios alternativos de pagamento, o mercado não tradicional de crédito e de fluxo financeiro deve apresentar expansão significativa nos próximos anos.
Amorim ressaltou que embora a tendência seja que a participação dos cartões co-branded nos resultados aumente nos próximos anos, os plásticos private label não devem desaparecer totalmente do mercado.
“Nos Estados Unidos, mesmo com o crescimento dos cartões embandeirados, entre 14% e 17% dos cartões das lojas ainda são private label”, disse.
Apesar de não dividir as operações por segmento, o Carrefour Soluções Financeiras (CSF), braço financeiro do gigante varejista francês, que trabalha com cartões com a bandeira Visa desde 2007 e Mastercard desde 2010, apresentou um avanço de 30,42% nas receitas com crédito de 2013 para 2014, e quase dobrou seu lucro líquido, com alta de 94,72%, para R$ 413 milhões.
Os cartões estão substituindo, inclusive, os tradicionais os tradicionais crediários. No Grupo Pão de Açúcar, controlador de redes como Casas Bahias e Ponto Frio, a carteira de carnês diminuiu o tamanho em 4,05% na variação anual, para R$ 2,14 bilhões.
A participação dos crediários nas vendas do grupo caiu de 5% para 4% no período, enquanto os cartões aumentaram de 47,6% para 48,8%.
Os balanços de resultados consultados pelo DCI mostram ainda que as vendas parceladas sem juros são responsáveis pela maior fatia das transações. Na Renner, por exemplo, 38,2% das vendas foram parceladas em até 5 vezes sem juros, enquanto 9,5% foram divididas em até oito parcelas com encargos.
Empréstimos e saques
Além do crédito oferecido por meio dos cartões, as redes varejistas também passaram a oferecer empréstimo pessoal e saques ao clientes que possuem o plástico do estabelecimento.
Segundo Paixão, o crescimento dessa linha de crédito nas financeiras das varejistas é resultado, entre outros, da maior severidade de aprovação de crédito nos bancos e do aumento do custo de prestação de serviços das instituições financeiras tradicionais.
“Esse crédito serve, inclusive, como forma de incluir a população de renda mais baixa no sistema financeiro”, avaliou.
Amorim, da Midway, apontou que os empréstimos pessoais – feito por meio de uma transferência para a conta corrente do cliente – e os saques – quando o consumidor consegue tomar dinheiro em espécie emprestado por meio do cartão – são as modalidades que devem impulsionar os resultados financeiros da companhia, atrás dos cartões co-branded.
Por apresentarem riscos maiores, esses empréstimos costumam ter juros maiores que os do mercado. As empresas, contudo, estão bem capitalizadas: o CSF, por exemplo, possui um Índice de Basileia de 31,8% – ou seja, para cada R$ 100 emprestados, possui R$ 31,8 em caixa – e a Riachuelo um índice de 39,7% (o índice mínimo requerido pelo Banco Central é de 11%).
Fonte: DCI Online