Deu no NY Times (e com isso eu revelo a minha idade): os consumidores habituais das grifes de luxo, como Prada ou Louis Vuitton, não querem mais sair por aí ostentando bolsas que declarem abertamente custar uma pequena fortuna. O motivo? Com a crise, não pega bem mostrar que está gastando como se não houvesse amanhã. Leia aqui.
Bom ponto. Em tempos de crise a gente sempre repensa gastos, certo? Então vem comigo pra gente repensar juntas esse guarda-roupa? Longe de mim dizer pra alguém parar de comprar. Mas também não precisa sustentar a indústria sozinha. Quando eu saio para fazer personal shopping com meus clientes, algumas vezes eles acabam não levando nada, mas o mais importante desse momento é que funciona como um pequeno curso de boas compras. A gente deve pensar em roupa como investimento na autoestima e na imagem – pessoal e profissional, não só como diversão (embora não deixe de ser muito divertido se aventurar no provador).
Como? Quando a gente investe, não joga dinheiro fora, certo? Pergunta pro gerente do banco qual a previsão do retorno e em quanto tempo. Pensa em quanto vai colocar todo mês. E assim funciona com as roupas. Já que você está investindo uma parte dos seus ganhos naquela peça, qual o retorno que ela vai te dar? Além da roupa deixar você mais bonita (óbvio!) e valorizar sua aparência, dá uma olhadinha na lista que passo também para meus clientes (e que uso sempre):
1) Só compro coisas que irão combinar e coordenar com várias outras peças que já tenho no meu guarda-roupa. Assim eu multiplico e dou vida nova a um monte de coisas que está lá. Um casaco tem que servir pra várias ocasiões (formais e informais, de preferência) e combinar com saias, vestidos, calças etc. Se combinar com uma peça só, estou escolhendo mal.
2) Quando se trata de roupas para trabalhar (no meu caso, não faço distinção entre roupa de trabalho e de lazer), penso se aquela peça vai me ajudar a passar a mensagem que preciso em termos profissionais. Ou seja, se ela é a melhor embalagem para o meu talento, se vai me apoiar na construção da minha imagem no trabalho. Se sim, mais um ponto a favor. Construir a imagem ideal para a sua carreira tem a ver com sua competência, mas roupas que sejam a tradução dessa competência e de sua área de atuação podem ajudar, e muito, a ser reconhecido no trabalho.
3) Quanto essa roupa vai durar? Ir até uma loja, estacionar o carro no shopping, gastar tempo escolhendo uma saia e levá-la pra casa são investimentos de tempo. Mas se ela durar só três lavagens, será que valeu o esforço? Meu conselho é escolher peças de boa qualidade sempre que possível, mesmo que isso signifique comprar menos. E assim você não precisa refazer o guarda-roupa todo ano. Muita gente me pergunta o tamanho do meu guarda-roupa e, quando eu mostro, toma um susto. Aparentemente, tenho pouca roupa quando comparada à média feminina. Mas…está tudo organizado, tudo se combina e faz algum tempo que dou preferência a comprar peças de boa qualidade. Leia sobre isso também nesse outro post. Assim eu não preciso comprar com muita frequência e, mesmo depois de muitas lavagens, as roupas continuam em ótimo estado. Tenho roupas com mais de cinco anos e que estão lindas. JURO.
4) Quem faz sua roupa? Quando tive bebê, há 11 anos, comecei a conhecer as lojas do meu bairro porque aproveitava pra passear com meu pequeno (por acaso eu dei a sorte de morar na Vila Madalena) e fui encontrando gente muito legal que fazia roupas e acessórios incríveis. Até hoje, comprar nessas lojas – pra mim – significa apoiar designers que produzem com qualidade e honestidade, em vez de incentivar marcas que vendem a preço de banana e tratam funcionários como escravos. Conhecendo a produção e o processo, eu entendo que não tem como coisa boa custar o preço de um milk-shake. Se eu posso, prefiro pagar um pouco mais pra levar pra casa alguma coisa que eu sei quem fez, de quem eu respeito o processo e que eu sei que tem qualidade – e de quebra é mais especial porque não tem milhares de pessoas usando igual. Se por acaso estragar rápido também vou saber pra quem reclamar. Tem um app, o Moda Livre, que mostra as marcas que usam trabalho escravo (e não são só as baratinhas, não. Tem muita marca “chique”).
5) Eu só compro o que eu amo. Muito. Mesmo. Ainda que seja um pijama. Tenho que sentir que aquela peça vai trazer uma grande contribuição para minha vida em termos de prazer e beleza, porque eu adoro me cercar de coisas lindas. Na área em que eu trabalho, o que eu visto importa. E é assim em diversas profissões. Mas ainda que meu valor esteja muito além de um par de sapatos, eles vão ajudar a construir minha imagem, vão me dar conforto para caminhar, serão usados por meses e meses ou anos a fio. Então, por que levar pra casa alguma coisa que eu gostei mais ou menos ou só porque estava em promoção.
6) Por fim, eu tenho paciência e espero as liquidações, quando acho que muitas roupas passam a valer de fato o que deveriam custar o ano todo. Como nem sempre temos tempo de sair por aí visitando lojas e lojas, nessas horas vale dar uma boa espiada nas lojas online. Algumas costumam dividir em 12x e aí você pode deixar seu dinheiro rendendo no banco enquanto paga pequenas parcelas mensais. As meninas competentes da Oficina de Estilo elaboraram uma lista para comprar bem pela internet aqui.
Fonte: Blog Moda Prática – Estadão