Seja para checar informações ou para saber a opinião do candidato, as redes completam o currículo do trabalhador
Se alguém acessasse sua página no Facebook agora, o que encontraria? Independente de sua resposta, uma coisa é certa: há muito tempo as redes sociais deixaram de ser usadas apenas para a vida pessoal. Hoje elas são fundamentais no campo profissional e, inclusive, nas seleções de emprego.
Seja para checar informações ou até mesmo para saber a opinião do candidato sobre determinados assuntos, as redes completam o currículo de qualquer trabalhador. Cerca de 90% dos recrutadores olham perfis de potenciais candidatos nas redes sociais.
A informação é do site de empregos Catho, que também identificou em pesquisa que 83,1% dos trabalhadores e candidatos baianos reconheceram que seu comportamento nas redes sociais influencia direta ou indiretamente na hora de garantir uma vaga de emprego.
Mesmo assim, 17% ainda acreditam que as redes sociais não interferem ‘em nada’ nos processos seletivos. Para o coordenador de pesquisa e estratégia da Catho, Fabrício Kuriki, está claro que as redes dizem muito sobre as pessoas. “Com a facilidade de buscar informações online, os perfis na web são ferramentas comumente usadas como uma forma de avaliar o profissional”, diz.
De acordo com Kuriki, a partir do momento que as pessoas estão em uma rede social, estão expostas a qualquer tipo de reação. “As informações passam a ser públicas e podem afetar não só em seleções como no próprio emprego. É preciso ter cuidado, já que aquilo que está lá faz parte da imagem da pessoa. A regra é ter sempre bom senso”, complementa.
Justamente por conta dessa linha tênue, ela cita que algumas pessoas preferem separar redes profissionais, como o LinkedIn, de pessoais. “Se quiser, pode segmentar, mas não é uma recomendação, pois a pessoa estará exposta do mesmo jeito”.A gerente de inovação da empresa recrutadora Cia de Talentos, Renata Magliocca, acrescenta que tudo que a pessoa publica ou compartilha, de certa forma, é uma expressão do que ela é. “Não publique nas redes algo que você não falaria pessoalmente. As redes são mais um espaço de comunicação com a pessoa, onde todo mundo está presente”, assegura.A dica é que o trabalhador não publique nada que não gostaria que fosse visto. Entre comportamentos frequentes nas redes que podem afetar o trabalhador ou candidato, ele cita o internauta aparecer em fotos bêbado ou fazendo algum gesto ofensivo, postagem de fotos na praia ou em outro local estando de atestado médico, comentários falando mal da empresa ou de colegas e chefes, publicação de informações confidenciais da empresa que trabalha ou já trabalhou e, ainda, demonstração de comportamentos e atitudes preconceituosos.
Após processo seletivo em que não passou, a jornalista Suely Alves revela que chegou a falar mal da empresa e, depois, não conseguiu outras vagas no local – antes visto como um ‘leque de possibilidades’.
“Fiquei chateada e falei que sentia que tudo aquilo era pequeno diante da minha contribuição. Fui verdadeira, isto é primordial”.
Se deu mal
Ela diz que não se arrepende e que publicaria isso de novo. “Sempre fui assim, falo o que penso. Essa coisa de as redes sociais vão afetar no pessoal, pra mim não existe, porque quando eu falo algo já sei no que pode repercutir”.
Embora tenha participado de outra seleção na empresa, ela afirma que na época do comentário “não tinha mais interesse de trabalhar lá”.
Assim como Suely, o estudante João Pessoa, 22, sempre posta tudo o que pensa e diz que isso nunca o afetou na vida profissional.
“Sempre deixei claro que meu Facebook reflete o João pessoal. No trabalho, a postura é outra. Além disso, sempre fui contratado por pessoas que me conhecem ou por pessoas que já viram meu trabalho”, afirma.
Segundo o sócio da People2People Lucas Freire, nos dias atuais é muito difícil separar o pessoal do profissional.
“Hoje em dia, as pessoas compartilham tudo. O que elas precisam fazer é ser coerentes, não precisam ficar maquiando um personagem, mas precisam ter bom senso”.
Ele acredita que as redes podem ser usadas para achar oportunidades ou passar boas impressões em entrevistas de emprego.
“Os recrutadores olham assuntos que a pessoa se interessa, publicações que ela faz, etc. Isso tudo para conhecer mais sobre ela. De certa forma, o que você publica é um pouco do que você é”.
Justiça julga válida demissão por postagens nas redes
Apesar de ajudar na procura de emprego, em seleções e até mesmo na interatividade entre colegas e amigos, as redes sociais podem prejudicar o trabalhador. Isto porque o que se posta nos perfis na web, muitas vezes pensada como espaço pessoal, pode ser usado contra a pessoa.
“Ultimamente o Judiciário tem entendido que as redes sociais não são pessoais e sim algo público. Quando a pessoa posta, ela está tornando aquilo público para a sociedade. Ou seja, deixa de ser privado”, explica o advogado trabalhista Jorge Teixeira.
Segundo ele, apesar de não existir legislação específica voltada para publicações nas redes sociais, as empresas têm se utilizado do Artigo 482 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para demissões por justa causa no caso de publicações que consideram inadequadas.
“Trabalhadores que falam mal das empresas, superior hierárquico ou dos empregadores, por exemplo, podem ser enquadrados neste artigo por incontinência de conduta, mau procedimento ou ato lesivo à honra e boa fama contra o empregador”, revela o especialista.
Fonte: Correio 24 horas