Bancos públicos vão socorrer empresas com financiamento a juros mais baixos

20 de agosto de 2015

Orientação do governo é dar um ‘respiro’ às cadeias produtivas de diversos setores, como o da construção e do petróleo, desde que empresas ‘se esforcem’ para manter os empregos; ontem, a Caixa anunciou linha de R$ 5 bilhões para o setor automotivo

emprestimo_dinheiroPara tentar evitar o agravamento da crise econômica, o governo orientou os bancos públicos a liberar crédito mais barato para empresas das cadeias produtivas de diversos setores da economia. O objetivo do pacote é dar “respiro” ao caixa dos fornecedores de grandes empresas por meio de financiamentos a taxas mais baixas. Em contrapartida, as companhias devem se comprometer a manter os empregos para ter direito às “condições especiais”.

A cadeia produtiva do setor automotivo foi a primeira a ser contemplada, conforme antecipou a colunista Sônia Racy. Ontem, a Caixa Econômica Federal anunciou que vai liberar cerca de R$ 5 bilhões até o fim de 2015 para os fornecedores das montadoras, em linhas de capital de giro e de investimento com juros mais baixos e prazos mais estendidos para pagamentos. A fonte dos financiamentos serão recursos do próprio banco e do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O Banco do Brasil deve fazer hoje anúncio semelhante de linhas especiais para o setor automotivo.

O mesmo desenho de financiamento está em negociação com outros setores. Entre eles, alimentos, papel e celulose, química, fármacos, eletroeletrônicos, energia elétrica, telecomunicações, petróleo e gás e máquinas e equipamentos. Segundo a presidente da Caixa, Miriam Belchior, estão mais adiantadas as negociações para novas linhas para o setor da construção.

“Os bancos públicos estão trabalhando para dar melhores condições para todas as cadeias produtivas”, disse Miriam, ao assinar acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) e a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

Miriam disse que o pacote tem o consentimento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Desde que assumiu o cargo, o ministro sempre fez duras críticas à política anterior de benefícios a setores específicos.

“Sem um setor de autopeças forte, integrado e competitivo, não há razão para termos montadoras aqui”, disse o presidente da Anfavea, Luiz Moan. Segundo ele, as facilidades nos financiamentos vão permitir às empresas superar as “complexidades” do momento atual e podem contribuir para retomada da confiança por parte de investidores e consumidores. A cadeia produtiva automotiva tem 591 empresas associadas.

Juros. Uma das linhas criadas pela Caixa permite que as empresas antecipem recebíveis. Com a garantia dos contratos firmados com as grandes montadoras, os juros serão mais baixos. Também é possível pegar financiamento para cumprir as despesas típicas do segundo semestre, como o pagamento do 13º dos funcionários.

O banco disse que os juros mais baixos serão cobrados das empresas que se “esforçarem” para manter os empregos. Porém, a área técnica reconheceu que não tem como obrigar as companhias a não demitirem.

“O crédito, em especial na rede privada, está bastante restrito, principalmente nas linhas de capital de giro. Em meio à crise, os bancos estão cada vez mais seletivos”, reconheceu José Velloso, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ontem, ele teve a primeira reunião na Caixa para formatar um acordo semelhante ao das montadoras. “Estamos vivendo uma crise e dinheiro para financiamento nunca foi tão importante.”

PRESTE ATENÇÃO

1.Por orientação do governo, os bancos públicos vão oferecer linhas de crédito com juros mais baixos para empresas de diversos setores, como o automotivo, de construção e de máquinas e equipamentos.

2.Como contrapartida, as empresas devem se com prometer a manter os empregos, embora técnicos da Caixa tenham dito ontem, após acordo com o setor automotivo, não ser possível obrigar as empresas a não demitirem.

3.O primeiro acordo foi anunciado ontem. A Caixa criou uma linha de crédito de R$ 5 bilhões para a cadeia do setor automotivo. Hoje, o Banco do Brasil deve anunciar acordo semelhante. Outros setores já estão em negociações.

Fonte: O Estado de S. Paulo