Inflação e endividamento: famílias estão mais contidas nas despesas e racionalizam seus gastos, indicando uma maturidade que os lojistas não esperavam
Após uma década de bonança, os varejistas mostram despreparo para lidar com o cenário recessivo que o País vive. Somado a isso, o consumidor mais maduro sinaliza que o momento é de redução de gastos. A mistura dos dois fatores leva à pior intenção de consumo desde 1999 e a um futuro nada promissor ao comércio.
“O varejista é desleixado e costuma fazer suas previsões e se estocar por intuição. Em momentos como esse, é preciso analisar diversos fatores para não errar”, explicou o diretor vogal da Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (Ibevar), Nuno Fouto.
Segundo o especialista, há empresários que são mais atentos ao planejamento de seus negócios e com perguntas simples, feitas diretamente ao consumidor, é possível enfrentar de forma saudável o que deve ser o pior Natal em 11 anos. “Neste mês de Dia da Criança basta perguntar ao cliente se ele vai gastar mais agora com o presente e menos no Natal. Assim será possível saber como será a demanda para não ter problemas com estoque.”
Final de ano
Mesmo que as vendas no Dia da Criança apresentem alta, é prudente prever que as compras de final de ano vão ficar restritas a lembranças em categorias de baixo valor agregado. Pesquisa realizada pelo Ibevar apontou queda na intenção de compra no quarto trimestre, o que representaria o pior momento do consumo desde o mesmo período de 1999. “Tudo indica que o Natal não será o melhor e que quem estiver capitalizado conseguirá chegar a 2016 com saúde para continuar a operar”, explicou.
O estudo identificou que, na comparação entre o terceiro trimestre e o quarto, é possível que as vendas tenham queda de 1%. Quando a comparação é com o quarto trimestre de 2014 essa retração passará de 8%. Fouto ressaltou que quem não estiver atento ao movimento do mercado correrá o risco de fechar as portas em breve. “Já foi visto um movimento intenso de encerramento de operações. Quem não estiver preparado, pode quebrar em 2016”, enfatizou.
Fantasmas antigos
Com o crédito mais caro – segundo pesquisa do Ibevar, o juro até o mês de agosto somava 86,63% ao ano – e os bancos restringindo mais a concessão, uma saída seria o financiamento próprio por meio dos cartões próprios da rede, o private label, mas isso exige cuidados. “Muitas redes, em especial as de vestuário, já têm essa iniciativa. Mas, mais uma vez, quem não estiver capitalizado pode sofrer no primeiro trimestre do ano”, disse Fouto, ao enfatizar que se o consumidor não tem dinheiro agora, mesmo com o 13º salário, terá menos ainda para 2016. “Eles tem de analisar bem a quem será ofertado o benefício, pois existe o risco da inadimplência”.
O diretor vogal do Ibevar sinalizou ainda que o excesso de crédito nesse momento, mesmo trazendo o ímpeto de compra, pode causar prejuízos futuros. “A Mesbla e o Mappin fecharam justamente por uma concessão desenfreada de crédito”, enfatizou o especialista.
Fonte: DCI