Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu novamente a taxa básica de juros da economia (Selic) em 0,75%, colocando-a quase em sua mínima histórica a 9% ao ano (a taxa nominal mínima da Selic foi de 8,75%). Este patamar de juros, devido à alta inflação que enfrentamos atualmente, é a menor taxa de juros real da história do país. Este nível de taxa de juros real nos tirou do primeiro e nos colocou no segundo lugar entre as taxas reais mais altas do mundo (perdemos agora para a Rússia).
A Selic impacta diretamente a rentabilidade de diversas aplicações do mercado financeiro brasileiro, como CDBs, RDBs, LCIs e principalmente a das LFTs (títulos públicos negociados com rentabilidade atrelada à Selic) que perdem e ganham rentabilidade diretamente ao movimento da taxa anunciada pelo Copom.
Na rotina financeira, os bancos emprestam dinheiro ao governo brasileiro (comprando títulos da dívida pública) e o governo paga juros aos bancos. Estes títulos servem de garantia para que os bancos tomem e emprestem dinheiro entre si. A taxa resultante entre os empréstimos interbancários é chamada de taxa do CDI (sigla para Certificado de Depósito Interbancário), título resultante da operação interbancos que tem taxa sempre um pouco menor do que a taxa Selic, portanto, os bancos recebem juros do governo pela taxa Selic e operam dinheiro com os outros bancos pela taxa DI (Depósito Interbancário).
A grande maioria das aplicações de renda fixa no Brasil (com exceção das que são isentas de Imposto de Renda e as classificadas como de curto prazo) possui uma tributação variável sobre lucro líquido a partir do tempo de investimento. Até 6 meses, o IR é de 22,5% sobre o lucro, de 6 meses a 1 ano, o IR é de 20% sobre o lucro, de 1 a 2 anos, o IR é de 17,5% sobre o lucro, e acima de 2 anos, o IR sobre o lucro é de 15%, ou seja, quanto menor for o tempo da aplicação, mais caro é o IR e menor é a rentabilidade final.
O CDB (Certificado de Depósito Bancário) possui esta tributação e em quase sua totalidade tem a rentabilidade atrelada a um % do CDI (vale destacar que qualquer CDB que renda menos do que 100% do CDI deve ser criteriosamente avaliado em termos de liquidez, pois o investidor já tem 100% da Selic nos títulos públicos – retorno maior que o CDI e mais seguro).
Se pegarmos a taxa Selic de 9% ao ano e convertermos em taxa mensal, chegamos a uma rentabilidade de 0,72% ao mês pelo modelo de juros compostos. Em cima destes 0,72%, se aplicamos uma redução de 22,5% (IR para aplicações de até 6 meses), iremos para uma rentabilidade de 0,56%, se o IR for de 20%, a rentabilidade sobe para 0,58%, com o IR de 17,5%, a rentabilidade sobre para 0,59% e no melhor cenário, com o IR de 15% (aplicações com mais de 2 anos), a nossa rentabilidade fecha em 0,61% ao mês.
No mês de março, a menor rentabilidade da poupança foi de 0,5% em diversos “dias de aniversário” e a maior foi de 0,60% para aniversário em 31/03, ou seja, no mês de março, na melhor taxa de aniversário, a poupança ofereceu uma rentabilidade maior que o CDI de curto prazo (taxa um pouco menor do que a do nosso exemplo, que considerou a Selic) e no menor aniversário, ofereceu um retorno menor que o CDI. Este será o nosso cenário mensal daqui para frente, meses onde o CDI renderá mais e meses onde o CDI renderá menos. Tudo dependerá da TR (taxa que é acrescida ao juro de 0,5% ao mês na rentabilidade da poupança).
A TR é uma taxa resultante dos valores pagos pelos bancos em CDBs e RDBs (investimentos ligados à taxa Selic). Quanto mais retorno os CDBs e RDBs dão, maior é a TR, portanto os CDBs pagando bem melhoram o retorno da poupança por consequência. Em alguns aniversários a TR não rentabilizou nada e em outros rentabilizou até 0,1% ao mês como vimos no exemplo.
Esse atual nível de Selic está sendo trabalhado como piso para a taxa básica, pois se houver novas reduções, poderá ocorrer uma enxurrada de aplicações para a poupança. A poupança legalmente destina a maior parte dos seus recursos para o sistema financeiro de habitação, ou seja, faltariam recursos para os outros tipos de crédito nos bancos.
O governo já está de olho neste problema e provavelmente nos próximos meses ouviremos alguma novidade na poupança, ou uma mudança na rentabilidade (uma briga política ruim e pouco provável), ou uma mudança na tributação (medida com graves consequências políticas também e pouco provável) ou uma alteração no destino do capital aplicado em poupança (por exemplo investir esses recursos nos títulos do governo – medida mais provável na minha opinião).
Ainda é muito precoce trabalhar estas hipóteses sem um pronunciamento oficial do governo. Nesta semana saberemos como foi a ATA da reunião do Copom e teremos uma ideia mais clara dos próximos passos para a taxa Selic, que eu particularmente não acho que demorará muito para cair mais caso a pressão por redução da dívida pública continue da forma que está.
Agora é hora de comparar. Pergunte ao seu gerente qual é a rentabilidade de seu CDB e compare com o rendimento dos títulos públicos inicialmente (por serem os investimentos menos arriscados do país) e em seguida com a poupança. A depender de quanto em % esteja recebendo do CDI, você pode estar perdendo dinheiro. Fiquem atentos ao seu dinheiro, permaneçam na melhor aplicação e acompanhem os passos das mudanças monetárias por parte do Bacen, elas serão cruciais para definir qual o melhor porto para alocar o seu capital.
Fonte: Tribuna da Bahia
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