O movimento de baixa de juros executado pelos bancos oficiais, e seguidos pelas instituições financeiras privadas, abre espaço para uma mudança também na forma de financiamento do crédito imobiliário.
Embora até agora o governo federal tenha se omitido sobre o assunto, o tema é de grande relevância para a sociedade, por se tratar de financiamento de longo prazo, que tem pouco impacto na inflação, ao contrário do empréstimo pessoal, consignado e cheque especial que incidem na demanda por produtos e consequentemente aquecem a economia, com reflexos nos índices inflacionários.
Hoje o tomador de crédito imobiliário está sujeito a juros de 12% ao ano, mais a TR, que por sinal vem variando bem pouco. Nesse patamar de taxa, é exigido do consumidor uma renda elevada e prestações a pagar também elevadas.
Na contabilidade do Palácio do Planalto se a remuneração da caderneta diminuir um pouco e a TR for extinta, os juros cobrados no crédito imobiliário também poderão cair. “É com essa realidade que estamos trabalhando”, afirma um técnico do Ministério da Fazenda. A seu ver, tudo está apontando para o governo pôr fim ao entulho que ainda resta no mercado financeiro, ou seja, a indexação decorrente dos tempos de hiperinflação.
“A TR é um deles”, acrescenta. Mas para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, as mudanças propostas pelo governo são bem-vindas. Mas para que realmente a população tire proveito delas é preciso que, efetivamente, a taxa básica caia e permaneça em um patamar baixo por um longo período. E isso exige um controle efetivo da inflação.
“Se os ganhos da caderneta forem realmente atrelados à Selic, como estão dizendo, em um momento de elevação dessa taxa os ganhos da poupança vão aumentar assim como as prestações da casa própria”, ressalta.
Ora, esse cenário de mudança da poupança está atrelado a um controle efetivo da inflação, como bem notou o economista, mas independente de mudança no cálculo da poupança, o governo, mas precisamente a Caixa, poderia reduzir a taxa de financiamento imobiliário para 8 ou até 6%.
É preciso notar que a o financiamento de boa parte das habitações é feito através do FGTS, cuja remuneração está na casa dos 3% ao ano, mais a Taxa Referência de Juros, a TR.
Numa simulação rápida se o consumidor fosse financiar um imóvel na faixa de R$200 mil, em 30 anos, com juros de 8%, a prestação do bem seria da ordem de R$ 1.523,68, com renda mensal de R$ 5.500. Se os juros estivessem no patamar de 6%,o comprometimento com a prestação estaria na casa dos R$ 1245,70 e a renda exigida seria de R$ 4.120. Como se vê, podemos ter um mercado imobiliário com baixas taxas de juros, financiamento de longo prazo e sem que haja pressão sobre a inflação, porque estamos falando de uma relação comercial de longo prazo.
Ate o momento, não há qualquer sinalização para uma queda dos juros no financiamento imobiliário, toda a pressão recai sobre mudança no cálculo da poupança, com o objetivo de que essa aplicação financeira não fique, como muitos temem, melhor posicionada do que o título de renda fixa, em face a queda da Selic, que por enquanto está em 9%, mas pode vir a cair para 8,75%, ou quem sabe até menos.
Se realmente desejamos instituir o financiamento imobiliário de longo prazo, é imprescindível que os juros sejam baixos e não na casa dos 12%. Vivemos um momento de ajuste das taxas de juros praticadas no Brasil, e esperamos que esse ajuste chegue efetivamente para o tomador do crédito imobiliário
Fonte: Tribuna da Bahia
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