Devoto de Nossa Senhora Aparecida, o empresário e ex-caminhoneiro Raimundo de Oliveira, o Raimundinho da JR Transportadora, sempre que possível volta a conduzir um dos 300 caminhões da frota da empresa pelos 1.773 quilômetros que ligam Dias D’Ávila, na Bahia, até Aparecida, em São Paulo. O objetivo: agradecer, no santuário da padroeira do Brasil, as graças alcançadas: os bons frutos do casamento com Josenildes (o “J” do nome da empresa) e o sucesso como empreendedor, agora à frente do grupo JR Empreendimentos. Na entrevista, o empresário revela as perspectivas para o país, pelo ângulo do setor por onde roda a economia brasileira.
Como surgiu a JR Transportes e, depois, o grupo JR Empreendimentos?
Comecei há 25 anos, quando ainda era caminhoneiro e transportava cargas do Polo de Camaçari para São Paulo. Em plena ebulição econômica, o polo estava crescendo muito e necessitava cada vez mais de transporte especializado. Então, por meio de investimentos em bancos públicos, abri a JR Transportes, batizando a empresa com as iniciais do meu nome e da minha esposa, Josenildes. A princípio, funcionávamos num quarto e sala. A empresa foi crescendo e hoje temos um grande pátio para a nossa frota de 300 caminhões. Somos especializados no transporte de cargas químicas líquidas, entre outras.
É um setor que sente muito os reflexos da retração econômica…
Sim, um dos que mais sentem. Hoje, estou com 80% da frota parada, estacionada no pátio. Mas, antes mesmo dessa crise que abateu o país nos últimos dois, três anos, eu já tinha comigo o pensamento de que num negócio é sempre importante se diversificar. Então, ainda quando estávamos vivendo a bonança na economia brasileira, aproveitei e participei de leilões do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) para adquirir imóveis em localização estratégica. Isso porque acho que, num país que sempre vive ondas de altos e baixos, não se deve ficar focado em um único segmento, justamente para, no caso de uma retração, não ficar dependendo somente de um ramo. É aquela história: não se pode colocar todos os ovos em uma só cesta. Assim, a gente enfrenta qualquer dificuldade. Então, apostei em logística de armazenagem, que agora vem nos dando o suporte para superar a crise enfrentada pelo setor de transporte.
Mas, infelizmente, ainda não a ponto de conter o desemprego. Foram quantas demissões na empresa?
De 2013 para cá, já chegamos a ter 400 funcionários e, hoje, não temos nem a metade. Nesse segmento de transporte, realmente a crise pegou de jeito, não nos dando muita alternativa. As empresas do polo pararam de produzir ou estão produzindo em capacidade mínima. Por outro lado, nossos projetos na área de logística preveem a geração de empregos. Temos um condomínio de galpões em construção, em Dias D’Ávila, ao lado da sede da JR Transportes, que é fruto de um financiamento de R$ 19 milhões obtido junto ao Banco do Nordeste, e que deve gerar entre 800 a mil empregos diretos.
Já seriam, portanto, os negócios no ramo de logística de armazenamento da JR Empreendimentos? Que outros empreendimentos fazem parte dessa área de atuação do grupo?
Temos hoje galpões nessa área industrial alugados para o Grupo Pão de Açúcar, para o Mix Bahia e a Unibahia, que é de Candeias, também na região metropolitana. Temos ainda em Ilhéus, no sul do estado, uma área, onde funcionava a antiga fábrica de chocolates da Barreto de Araújo, que está aguardando o desenrolar das obras do Porto Sul para que investirmos no espaço. É um bom projeto que pretendemos fazer lá e que só estamos aguardando que a economia ande.
Mas o novo galpão de Dias D’Ávila já está bem adiantado. Qual o projeto mesmo para esse galpão?
Sim, começamos a tocar o projeto antes de o país entrar nessa crise que estamos vivendo hoje, mas estamos apostando que, mesmo com a crise, será um empreendimento de êxito. A previsão é que em abril ou, no mais tardar, em julho, teremos a obra concluída. No local, será instalado um centro de distribuição de uma empresa multinacional, também da área de logística, que já atua no polo. Hoje, também já temos uma operação com a montadora Ford, em Camaçari, com o armazenamento dos veículos novos. É uma área que temos, a 100 metros do pátio da Ford.
Então, essa redução da produção da fábrica da Ford, em Camaçari, que anunciou o fim de um dos três turnos, também afetou seus negócios na JR?
Não muito, porque a gente aluga o espaço para armazenar os carros fabricados. Assim, tanto faz ter um carro, quanto ter 15 mil. Mas a gente nota que já não existe mais a rotatividade de antes. Hoje, temos o pátio sempre cheio, com os mesmos carros, o que é horrível para o nosso país. Em relação a essa rotatividade, acredito que a queda chega a uns 70%.
Diante desse quadro, qual a sua expectativa em relação à economia?
O problema da nossa economia na verdade não é propriamente econômico, mas sim oriundo de uma crise política. Temos muitos potenciais a desenvolver economicamente, mas o que falta acabar é essa crise política. A gente vinha num ritmo bom e nosso país sempre foi muito respeitado, mas hoje estamos enfrentando essa descrença que afeta os investidores, a cada dia que a gente vê a crise política estampada no noticiário.
O senhor, particularmente, já deixou de investir ou adiou algum projeto por conta das expectativas negativas em torno da economia ou da política?
Sim, a imagem e a credibilidade são tudo para os negócios. Em Ilhéus, por exemplo, onde nós íamos fazer um investimento, eu segurei. Temos também um hotel em Porto Seguro, um imóvel que adquirimos através de um leilão, e que está lá, em stand by, até que as coisas se normalizem para que possamos fazer o investimento com mais segurança. As coisas não estão fáceis e, portanto, é preciso avançar, sim, mas de forma bem planejada. Não se pode se jogar direto, não, porque aí fica complicado. No total, temos cerca de dez imóveis, só esperando por um sinal de recuperação da economia para tocar novos projetos. Todos muito bem localizados, adquiridos estrategicamente em leilões realizados pelo TRT.
Quais seriam as áreas que o senhor acredita que, mesmo na crise ou após, têm mais chances de deslanchar?
Na área de transporte, tudo vai depender muito dos que investiram e criaram as bases para superar a crise. Já em logística, temos os centros de distribuição, que são uma alternativa mais econômica de as empresas ficarem mais próximas de seus mercados. Por exemplo, temos o caso da Basf, que recentemente instalou um complexo acrílico em Camaçari. É claro que ela vai precisar se expandir, fazer alguma coisa no ramo de logística. Assim como a Itaipava também pode ter que ampliar seu centro logístico, por exemplo. A Ford também tem, naturalmente, uma tendência de expandir, retomando sua produção a carga máxima, visando novos mercados, dentro daquela linha de que, nos negócios, é preciso sempre estar atento para ampliar os horizontes. Assim, a logística é hoje uma realidade.
Mesmo enfrentando a crise, o senhor faz questão de manter um projeto social que beneficia idosos carentes. Qual a motivação para do Lar do Carmo?
Há seis anos, iniciamos um trabalho com 48 idosos, que são 100% custeados pela JR. Construímos um abrigo, no distrito de Leandrinho, em Dias D’Ávila. Eles são selecionados por assistentes sociais, e muitos nos são encaminhados pelo Ministério Público – geralmente, idosos que são abandonados em hospitais pelos próprios parentes. São pessoas de todos os lugares da Bahia, todas muito carentes. Comecei quando ainda trabalhava como caminhoneiro, distribuindo cestas básicas para velhinhos carentes em lugarejos que passava pelas estradas. A gente pensa naquele cara que já trabalhou a vida inteira e que merece nossa retribuição, sendo tratado com o mínimo de dignidade. Daí surgiu o Lar do Carmo, cujo nome é uma homenagem à minha mãe. Tenho certeza de que a melhor coisa que se tem é fazer o bem sem olhar a quem. Depois, tudo retorna em bênçãos.
Fonte: atarde.uol.com.br