Será que vale a pena morar sozinho?

30 de março de 2016

Muita gente sonha em morar sozinho, mas nem todo mundo está financeiramente preparado para dar esse passo. Veja aqui o que considerar antes de declarar sua independência

mudanca-morar-sozinho

Sim, morar sozinho é uma decisão pessoal. No entanto, deve ser algo muito bem pensado também em termos financeiros. Isso porque, junto com a sonhada independência e o total domínio sobre o controle-remoto da TV, vêm novas despesas. Aluguel, luz, água, supermercado, pequenas reformas e uma série de outros pequenos gastos que quem mora com os pais muitas vezes não sente no bolso. Será que você está preparado financeira e emocionalmente para elas?

 Segundo o educador financeiro do Portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, antes de decidir morar sozinha uma pessoa deve fazer um belo levantamento das novas despesas e de suas finanças. “A pessoa deve ter em mente que a mudança de casa muitas vezes implica também numa mudança de padrão de vida. Afinal, o dinheiro que antes ia para jantares com amigos, provavelmente será direcionado para a compra do mês no mercado”, diz.
Os desafios financeiros que acompanham essa mudança, no entanto, não devem ser usados como desculpa para não dar esse passo, dependendo do seu momento de vida. “O jovem hoje não tem tanta pressa de se tornar efetivamente adulto. Uma das causas é, sem dúvida, uma crescente necessidade de especialização nas mais diversas profissões, o que retarda a independência econômica. Mas existe outra causa, que tem a ver com a liberdade que os pais dão para os filhos e também com o fenômeno do alongamento da adolescência”, diz a pesquisadora e filósofa Tania Zagury. Na prática isso significa que muitos jovens estão preferindo continuar vivendo com os pais não só para fugir de novas despesas, mas também para fugir da vida adulta, mesmo que de forma inconsciente.
Em seu livro “Encurtando a Adolescência” (Ed. Record), Tania aponta para a importância dos aspectos sociais da educação, antes dos psicológicos, defendo que “encurtar a adolescência” (que hoje, segundo a Organização Mundial de Saúde vai dos 10 aos 20 anos) é, acima de tudo, uma forma de estímulo para que os jovens assumam as rédeas da sua vida e do seu futuro. “A superproteção em relação aos filhos, aliada à pequena parcela de responsabilidade que os pais lhes atribuem, faz com que, mais do que qualquer crise, o jovem só considere assumir sua própria vida mais tarde. Afinal, para que ter mais gasto e trabalho se moram bem, têm liberdade e quase nenhuma responsabilidade?”, questiona ela.
 Assim, nem sempre escolher morar sozinho é uma decisão que se toma por livre e espontânea vontade, mas pode também ser fruto de seu momento de vida, da pressão social e pessoal que, com o tempo, grita: “está na hora de você ser autossuficiente!”. Independentemente do motivo, no entanto, antes de dar um passo maior que a perna, avalie suas alternativas e planeje-se muito bem. Aqui, mostramos o que considerar antes de decidir morar sozinho!
 Pergunte-se por que quer morar sozinho

Cuidado para não se deixar acomodar em uma situação na qual possui independência, porém não autossuficiência. Continuar morando com os pais porque é mais cômodo, mas sem planejar a sua saída, a curto e médio prazo, pode estar comprometendo seu crescimento pessoal – assim como o do seus pais. Afinal, é importante para eles também poderem viver uma fase de novas descobertas, interesses e aventuras que não inclui os filhos a tiracolo.

 O que é considerado vantagem e desvantagem ao morar sozinho varia bastante de pessoa para pessoa, afinal, cada um sabe de sua própria realidade vivendo com os pais ou mesmo dividindo o espaço com amigos ou em uma república. “É claro que em termos financeiros era mais vantajoso continuar morando com meus amigos. Mas, pessoalmente, eu queria muito ter um lugar para chamar de meu, com a decoração que eu escolhi, podendo levar para casa quem eu quero sem ter que pedir permissão para ninguém”, diz a designer Thais Mattos. Para ela, a solução foi mudar-se para um lugar bem menor e cortar radicalmente seus gastos. “Às vezes fica puxado, mas até hoje não me arrependi”, conta ela, há dois anos morando sozinha.

Outras pessoas, por outro lado, se sentem menos desconfortáveis dividindo a casa, especialmente se os coabitantes forem os próprios pais. “Minha vida toda morei com meus pais, estou acostumado. Quero morar sozinho um dia? Sim, quero. Mas, por enquanto, o dinheiro que consigo economizar vivendo com eles compensa muito mais do que ter meu próprio canto”, defende o engenheiro Henrique Dias, que complementa: “enquanto isso vou juntando grana para poder dar uma boa entrada em meu próprio apartamento, que pretendo dividir com minha noiva”.

Para o educador financeiro, podendo dividir gastos, compartilhar moradia é sempre mais vantajoso. Afinal, quanto menos gastos, mais rapidamente consegue-se engordar sua reserva financeira, algo que, no futuro, facilitará o processo de mudança e independência. “É claro, pensando que um dia essa pessoa terá a sua própria casa, sua família, etc. E também não podemos esquecer quem se encontra numa posição de não ter escolha, de precisar morar sozinho”, diz.
 O importante é, sendo a opção morar sozinho, seja por qual for o motivo, planejar-se muito bem é fundamental! Abaixo, mostramos como.
Calcule quais serão os seus gastos

Antes de tomar qualquer decisão, faça um levantamento dos seus possíveis gastos. Considere os que já possui e as despesas que virão. Se facilitar, peça a ajuda de amigos que já vivem sozinhos. Pesquise preços de alugueis na região que pretende morar para ter uma noção de valores. Com os números em mãos, pergunte-se a si mesmo: meu salário é suficiente para cobrir esse montante? Tenho estabilidade no meu emprego para dar esse passo? Lembre-se que os gastos iniciais relativos à mudança são maiores que os mensais uma vez que estiver estabelecido. “Possíveis taxas de contrato, custo com despachante, seguro aluguel, equipe de mudança, compra de móveis para mobilhar a casa, pintura, possíveis reformas, etc. também devem ser levantados durante o planejamento”, alerta Vignoli.

Tenha uma reserva antes de se mudar

Somente para dar conta das despesas iniciais citadas no tópico acima já é fundamental ter uma reserva, evitando começar sua independência já com dívidas. Além disso, considere também os chamados gastos sazonais, por exemplo, começo do ano (IPTU, IPVA, matrícula de faculdade, seguro do carro), férias e final do ano (Natal, Réveillon). “Mantendo sua reserva, não sentirá tanto no bolso esses gastos extras. Além de ter dinheiro para lidar com imprevistos, seja na casa, como por exemplo a máquina de lavar quebrar ou o surgimento de uma infiltração no banheiro, seja na sua vida pessoal”, diz o educador financeiro, que sugere usar o 13º salário para alimentar essa reserva, sempre que possível, além de depósitos mensais.

 Escolha com cuidado onde morar

Morando sozinho, é interessante escolher um local que permita a economia do gasto com locomoção, sendo próximo do trabalho, ou em uma região com fácil acesso ao transporte público. Comece escolhendo a região e inicie uma vasta pesquisa, que inclui passeios pelo bairro, contato com amigos e sites especializados, como o Agente Imóvel, o Imóvel Web e o Zap Imóveis.

Neste momento não se deixe levar por publicidade, modismos, “fama” do bairro ou mesmo críticas ou elogios de pais e amigos. Considere as suas necessidades! Tamanho, estrutura, preço, região. Avalie também o quanto o imóvel precisa de reforma e se ter esse gasto compensa. “Fui muito criticada porque comprei uma casa que precisava de muito reparo. Mas, analisando os números, o gasto com a reforma foi pago em pouco mais de um ano vivendo lá. Hoje, moro em um lugar ótimo, seguro, perto do metrô, com um condomínio baixíssimo e ainda com a minha cara”, conta a professora de dança Marina Azevedo.
“O principal é o espaço. Especialmente quem está acostumado a morar com os pais num lugar maior, estranha locais pequenos. Mas lembre-se que será só você e que talvez nem fique tanto tempo no imóvel. Priorize o aconchegante mais barato do que o grande mais caro. Priorize o equilíbrio do orçamento no dia a dia”, diz Vignoli.
Economize no dia a dia

– Apague as luzes dos cômodos nos quais você não está.

– Opte sempre por aparelhos com o selo Procel A, que garantem maior economia.

– Escolha lâmpadas fluorescentes.

– Faça você mesmo a limpeza do lugar.

– Economize no mercado, comprando apenas o que necessita.

– Evite desperdiçar água.

– Não tenha pressa para decorar a casa. Invista no básico e, aos poucos, vá preenchendo o local com itens que percebe no dia a dia que realmente necessita. Com tempo para pesquisar você pode inclusive aproveitar promoções e descontos.

– Peça ajuda dos amigos. Isso envolve desde pequenos consertos até montar um armário recém comprado. “Logo que nos mudamos, organizamos um mutirão entre amigos para pintar o apartamento. Economizamos e ainda nos divertimos. Em troca, oferecemos um belo almoço para todos”, conta a jornalista Paula Santini.

– Fique de olho em comunidades de trocas. Quem sabe alguém está doando ou buscando trocar justamente uma mesinha de canto que você está querendo faz tempo? No site Consumo Colaborativo você encontra uma série de sites em todo o Brasil que organizam trocas, doações e aluguéis de itens usados.

– Curta a sua casa! Sozinho ou com amigos, organizar programas em seu próprio lar sai mais em conta do que sair.

Fonte: Meu Bolso Feliz