O que considerar antes de decidir morar fora do Brasil

27 de maio de 2016

Há prós e contras ao começar uma nova vida em outro país, por isso é preciso pensar bem antes de tomar uma decisão como essa

viajar“Vou me mudar para Miami”. A frase acabou virando piada em cima da insatisfação de brasileiros, especialmente aqueles com maior poder aquisitivo, que diziam que deixariam o país por causa da situação política do Brasil.

“Eu fui estudar nos EUA com a intenção de permanecer no país, fazer faculdade lá, enfim, construir minha vida toda. Mas, após um ano, uma mistura de saudade com estranhamento em relação aos valores e rotina dos americanos fez com que eu escolhesse voltar”, diz a empresária Ana Ferreira Franco. “Se me arrependo? Só quando as finanças não vão bem. Quando estou trabalhando e com dinheiro no bolso, a ideia de deixar o Brasil parece loucura”, diz ela.

Para quem está considerando morar fora do Brasil, em busca de melhores condições de vida, oportunidades profissionais e acesso a serviços públicos de qualidade, listamos as vantagens e desvantagens dessa importante decisão. Assim, fica mais fácil avaliar se mudar-se é ou não a melhor escolha para você.

VANTAGENS

  • Melhor qualidade vida

Baixa criminalidade, segurança, acesso a serviços de saúde, transporte e educação de qualidade, estrutura habitacional melhor, mesmo nas áreas mais pobres, bens de consumo a preços mais acessíveis… estas são algumas das vantagens em termos de qualidade de vida que se encontra em alguns países fora do Brasil, especialmente na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália. “Para mim é uma coisa boba, mas, por exemplo, atravessar a rua sem me preocupar em ser atropelada. Quando morava nos Estados Unidos não tinha isso, o pedestre tinha preferência e pronto. Esses detalhes que são qualidade de vida”, diz Ana.

  • Poder viajar!

Uma vantagem de morar fora do Brasil é poder conhecer bem outro país. Uma coisa é planejar suas férias e ficar 15 dias em determinada região, outra é poder viajar nos finais de semana, visitar diversos pontos turísticos, enfim, ter tempo para de fato conhecer uma região ou país. Além disso, especialmente na Europa, viajar pelo continente é relativamente barato, com possibilidade de pegar um trem ou mesmo um avião por menos de R$50 a passagem (dependendo do local e época). Essa vantagem, claro, dependerá da sua renda, disponibilidade e capacidade de se planejar e organizar financeiramente.

DESVANTAGENS

  • Preconceito

Por mais que brasileiros costumem ser muito bem-recebidos nos países que visitam, lembre-se que essa recepção é para os turistas, que vão e gastam milhares de dólares e euros por ano nos EUA e na Europa. Quando você vai para morar e trabalhar, as chances de sofrer preconceito são grandes. “Assim como no Brasil, as pessoas nos EUA e na Europa também estão atravessando uma crise econômica, que já dura alguns anos, com falta de empregos e ideologias extremistas ganhando força. Nessa conjuntura, estrangeiros são vistos como ameaças e, por isso nem sempre bem recebidos”, diz Andreia.

  • Pouca grana

Antes de morar fora do Brasil você deve juntar uma grana para se sustentar até conseguir se adaptar no país escolhido. Isso significa que, enquanto não tiver um emprego estável e uma renda que banque sua vida nesta nova rotina, estará vivendo apenas desse montante que juntou. Assim, precisará economizar – e muito! – no dia a dia. Adicione a esta equação o câmbio, ou seja, considere que, se estiver nos EUA por exemplo, para cada dólar que gastar, estará na verdade gastando cerca de 4 reais daqueles que economizou. “Eu vivi em Londres, na Inglaterra, por quatro anos. No começo, antes de encontrar um emprego tive que viver das economias que havia feito no Brasil, foi muito difícil porque eu não podia gastar com nada. Tudo era vezes cinco, por causa do valor da libra. Ou seja, eu levava lanche de casa, água de casa, não consumia nada na rua além do transporte e olhe lá! Porque, se podia, caminhava mais para economizar até no trem”, lembra a designer Nádia Rodrigues.

  • Ilegalidade

A não ser que você tenha cidadania, seja expatriado por uma empresa brasileira ou viaje já contratado por uma empresa estrangeira, provavelmente começará sua vida em outro país sem um visto que o permita trabalhar no lugar em tempo integral. “Alguns países, como a Austrália, por exemplo, permitem que o estudante trabalhe meio-período, mas apenas se ele estiver matriculado em um curso ou universidade”, explica Maria Claudia Martins, diretora da Bridges Intercâmbio.  Assim, no instante em que este curso terminar e seu visto temporário vencer, se não tiver sido contratado por uma empresa local, não poderá mais nem residir, nem morar no país – pelo menos não legalmente. E o mesmo vale para quem viaja apenas com o visto de turista e começa a trabalhar e residir naquela pátria. “O ideal é vir para estudar no país, com um visto que permita que resida por pelo menos um ano. Aí neste tempo você deve correr atrás de um emprego que o ajudará a obter um visto de trabalho. Depois disso fica mais fácil pedir e conseguir um visto permanente”, explica Kauê Garcia, que há cinco anos se mudou para o Canadá, seguiu esse plano e hoje é cidadão canadense.
Lembre-se, ao se organizar, que a burocracia envolvendo a mudança do país envolve trâmites aqui no Brasil também. Segundo as regras da Receita Federal, ao ir morar fora do Brasil, o contribuinte precisa avisar o órgão da mudança através de uma declaração de saída definitiva do país. Caso contrário, os rendimentos recebidos tanto no Brasil como no exterior, durante os doze primeiros meses após a saída, poderão ser tributados por ambos os países. É através desse informe também que a Receita verifica quais bens o contribuinte possui dentro e fora do país. Com isso, caso a pessoa decida voltar para o Brasil, não terá problemas com o Fisco ao justificar o ganho patrimonial.

E ainda há os aspectos emocionais

Ao decidir morar fora do Brasil, os desafios emocionais devem ser pesados. Afinal, estará em um país desconhecido, sem toda a estrutura de apoio emocional que possui aqui no Brasil, que são seus amigos e familiares. Veja o que considerar:

  • Saudade e solidão

Uma das queixas mais comuns entre quem vive fora de casa é a saudade e, com ela, a solidão. Há quem diga que demorou anos para de fato se adaptar à nova vida sem a família e os amigos por perto, para de fato abraçar a nova cultura e, claro, fazer novos amigos. Pense que pegar um avião para te visitar será algo fora da realidade de muitos dos seus amigos e familiares, afinal, passagens são caras. Assim, deve se preparar psicologicamente para ficar sem esse contato por um bom tempo. “A tecnologia ajuda, mas não é a mesma coisa. Tem horas que a saudade bate forte”, conta a cabeleireira Andreia Souza, que há mais de dez anos vive nos EUA.

  • Necessidade de se virar sozinho

Quem vai morar fora, especialmente se vai sozinho, a mudança será não somente cultural, mas também diária, em termos de rotina. Afinal, você deverá conviver com a sua bagunça, arrumando e limpando a casa, fazendo comida (especialmente se pretende economizar), cuidar de reparos na casa, etc. E, se for dividir apartamento com outros (algo bem comum para quem vai viver no exterior), tem que se acostumar com a bagunça dos outros também. “O lado bom é o ganho de autonomia e também segurança, já que você acaba com aquela sensação de que dá conta de tudo, é capaz”, diz Ana Franco.

Como se preparar financeiramente para a mudança

“O mais importante é se resguardar em caso de imprevistos”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Isso significa que, quando ainda estiver no Brasil, deve construir uma reserva suficiente para se manter no novo país caso não arrume logo um emprego, tenha que mudar de casa – por exemplo, divide apartamento e de repente precisa bancar o lugar sozinho -, fique doente, etc. “Lá fora você não poderá pedir empréstimo no banco ou recorrer a amigos e familiares tão facilmente, por isso é  importante preparar-se financeiramente aqui, onde pode contar com um suporte mínimo”, completa a especialista.

Para saber o quanto guardar, o segredo é pesquisar bastante, especialmente com quem já morou ou ainda vive no país para o qual pretende ir. Quanto custa em média o aluguel, o transporte, a compra do mês, até o barzinho com os amigos. E, ao pesquisar sobre média de salários, considere na conta não o câmbio, mas o custo de vida na cidade em que vai morar. “Um salário em dólares convertido para real vai parecer muito dinheiro, mas os gastos no local não são em reais, são em dólares. Ou seja, não adianta comparar o salário convertido com os preços aqui no Brasil. É necessário comparar o possível salário com os preços locais”, finaliza Marcela.

Fonte: Meu Bolso Feliz