Eleito uma das personalidades mais inovadoras de 2011 pela revista Fast Company, o cacique Almir Narayamoga utiliza uma ferramenta desenvolvida pelo Google para proteger a floresta
Localizada no estado de Rondônia, a reserva dos índios paiter suruí esteve ameaçada durante anos pela ação de madeireiros. A situação começou a mudar em 2007, quando a tribo adotou um sistema de geolocalização, projetado em parceria com o Google Earth para monitorar o desmatamento ilegal da região. Nesta entrevista, o cacique Almir Narayamoga, 38 anos, conta como essa e outras tecnologias são aplicadas para preservar o meio ambiente e manter viva a cultura do seu povo.
P: COMO A TECNOLOGIA ENTROU EM SUA VIDA?
R: Tudo começou quando comprei um celular, em 2006. Fui o primeiro indígena no Brasil a ter um aparelho. Logo em seguida, chegaram o computador e a internet. Meu sonho era me comunicar de forma fácil e rápida com o mundo e outras culturas. A tecnologia proporcionou isso para mim e para a minha tribo.
P: DE QUE FORMA SURGIU A PARCERIA COM O GOOGLE?
R: Em 2007, fui convidado a apresentar uma palestra em São Francisco (EUA). Durante o trajeto para o evento, passamos em frente ao Google. Depois de muito insistir, consegui agendar uma reunião com representantes da empresa. Passamos duas horas conversando sobre possíveis projetos. Convidamos a equipe do Google para vir até a aldeia e dar um curso sobre como usar a ferramenta para as necessidades da tribo. Desse encontro surgiu a ideia de criar uma ferramenta que nos ajudasse a monitorar o desmatamento.
P: QUAIS FORAM OS RESULTADOS ATÉ O MOMENTO?
R: A ferramenta desenvolvida pelo Google (Google Earth Outreach) nos ajuda a obter as informações para mapear nosso território e combater as ações de madeireiros. Também estamos desenvolvendo um mapa cultural on-line do povo paiter suruí. Mas talvez o maior benefício tenha sido a visibilidade que atingimos. Isso ajuda a proteger a aldeia.
P: QUAL É O PAPEL Da INTERNET NA VIDA DOS SURUÍ?
R: Ainda não existe sinal de telefonia disponível nas aldeias. Acessamos a internet no distrito de Riozinho, em Cacoal (RO), onde temos um escritório que também funciona como centro cultural. Nesse local, nós editamos vídeos e nos conectamos com o mundo. Criamos um site para reunir todos os nossos projetos em um ambiente virtual: o www.paiter.org. A tecnologia facilitou nossa vida porque permite o contato com pessoas que vivem longe e têm outras culturas.
P: A TECNOLOGIA PODE SER UTILIZADA PARA AJUDAR A PRESERVAR A CULTURA INDÍGENA?
R: Pode ajudar, se utilizada corretamente. Um bom exemplo são os vídeos que produzimos. Isolados, não exercem impacto algum. Mas, quando são publicados no YouTube, atraem uma audiência enorme, o que ajuda a difundir nossos valores e costumes. Isso gera um sentimento de identidade entre as próprias crianças da tribo. É uma forma de manter a nossa memória viva.
P: SE NÃO EXISTISSE INTERNET, COMO VOCÊ ACHA QUE ESTARIAM OS SURUÍ?
R: Acredito que poucas pessoas no mundo saberiam que nós existimos. Também levaria mais tempo para que as denúncias sobre as invasões de madeireiros e grileiros ganhassem repercussão.
Por Thomaz Gomes