Inadimplência desacelera e único setor a registrar alta foi o de serviços básicos, como água e luz

24 de novembro de 2016

Em um ano, mais de 1 milhão de brasileiros entraram na lista de inadimplentes. Ainda assim, volume de dívidas cai 3,42%; único setor a registrar alta foi o de serviços básicos, como água e luz

conta-embasaO número de consumidores com contas atrasadas e registrados nos cadastros de inadimplentes desacelerou em outubro, crescendo 0,21% na comparação com o mesmo mês de 2015, segundo dados do indicador apurado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Trata-se do menor avanço observado para os meses de outubro desde 2011, início da atual série histórica revisada. Em anos anteriores – na base anual de comparação – os crescimentos haviam sido de 7,92% (2011), 4,53% (2012), 3,85% (2013), 3,95% (2014) e 4,87% (2015). Na comparação entre outubro deste ano frente a setembro, houve uma variação negativa de -0,60% na quantidade de pessoas inadimplentes.

Apesar do cenário de acomodação da inadimplência, no acumulado dos últimos 12 meses, aproximadamente 1,1 milhão de brasileiros deixaram de pagar alguma conta e passaram a fazer parte das listas de restrição ao crédito. Atualmente são 58,7 milhões de consumidores com o CPF negativado, enfrentando dificuldades para realizar compras a prazo, fazer empréstimos, financiamentos ou contrair crédito. Isso significa que 39% da população brasileira adulta estão registrados em listas de inadimplentes.

Os economistas do SPC Brasil avaliam que o país enfrenta dois movimentos distintos, que impactam o comportamento da inadimplência em direções opostas. Se por um lado, a recessão dificulta a capacidade de pagamento dos consumidores – em virtude do desemprego, da inflação e dos juros elevados -, por outro, a maior restrição ao crédito com juros altos e critérios de concessão de crédito mais seletivos, acaba impondo limites à capacidade de endividamento dos brasileiros e, consequentemente, à possibilidade deles se tornarem inadimplentes. “A menor variação da inadimplência vem acontecendo porque o consumidor, no geral, está se endividando menos, seja pela queda na confiança em cumprir com os compromissos financeiros no futuro, seja pela maior restrição ao crédito. Infelizmente, o cenário não está ligado, portanto, a uma melhoria da capacidade de pagamento das contas”, explica o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.

Sudeste lidera em número absoluto de inadimplentes e o Norte, em proporção

De acordo com o SPC Brasil, a região Sudeste concentra o maior número absoluto de consumidores negativados no país: 24,6 milhões de brasileiros que residem nessa localidade se encontram nessa situação, o que representa 37,99% da população adulta da região. A segunda região com maior número absoluto de devedores é o Nordeste, que conta com 15,4 milhões de negativados, ou 38,99% da população. Em seguida, aparecem o Sul, com 8,3 milhões de inadimplentes (37,63% da população adulta), o Norte, com 5,4 milhões de devedores (47,05% do total da população residente) e o Centro-Oeste, que por sua vez, aparece com um total de 4,9 milhões de nadimplentes, ou 43,11% da população.

Neste mês o indicador voltou a contemplar a região Sudeste, que estava com os dados suspensos em virtude da Lei Estadual nº 15.659, que dificulta a negativação de devedores em São Paulo. Como a nova legislação completou um ano, os dados interanuais passam a ser estatisticamente comparáveis. Ainda assim pode haver efeitos da dificuldade de negativação sobre a acomodação dos indicadores de inadimplência.

Dívidas diminuem 3,42% em outubro; comunicação lidera queda

Outro número calculado pelo SPC Brasil e pela CNDL foi o volume de dívidas em nome de pessoas físicas. Neste caso, a variação negativa foi de -3,42% na comparação anual – outubro deste ano frente a outubro do ano passado – e de -1,45% na comparação mensal, entre setembro e outubro de 2016, sem ajuste sazonal.

O ramo de comunicação, que engloba atrasos em contas de telefonia, internet e TV por assinatura, foi o que mostrou a maior queda de dívidas em outubro. Na comparação entre outubro de 2016 e o mesmo mês do ano anterior, as pendências de pessoas físicas com o setor caíram -11,77%. “A queda significativa das dívidas com telefone e TV por assinatura, por exemplo, é reflexo de uma mudança de comportamento do consumidor, que está mais cauteloso na hora de contratar serviços que não são essenciais”, explica a economista Marcela Kawauti.

As dívidas bancárias, que contemplam atrasos no cartão de crédito, financiamentos, empréstimos e seguros, caíram -3,60%. Já os atrasos no comércio apresentaram uma retração de -1,90%. O único setor que apresentou alta foi o de serviços básicos, como água e luz, cujo crescimento foi de 2,97% em outubro deste ano frente o mesmo mês do ano passado. “A alta dos atrasos em serviços básicos pode ser resultado da disposição crescente das concessionárias em negativar os consumidores inadimplentes como forma de acelerar o recebimento dos compromissos em atraso. Tem se tornado mais comum que essas empresas negativem o CPF do residente antes de realizar o corte no fornecimento”, afirma Marcela Kawauti.

Já em termos de participação, considerando-se mais uma vez o total do Brasil, as dívidas bancárias são as que concentram a maior parte das dívidas existem no país: 48,27%. Em seguida, aparece o Comércio, com 20,34% desse total, e o setor de Comunicação (13,67%). Por fim, o setor de Água e Luz concentra 7,59% do total de pendências.

Fonte: CNDL